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NIGÉRIA: Igreja chora duas centenas de mortos no nordeste do país em consequência de ataques armados
O balanço ainda está inconclusivo, mas calcula-se que, pelo menos, duas centenas de pessoas perderam a vida na primeira semana de Janeiro no estado de Zamfara, após ataques de homens armados em diversas aldeias.
Segundo relatos divulgados pela comunicação social, “centenas de homens armados” que se transportavam em motocicletas atacaram pelo menos dez aldeias nos distritos de Anka e Bukkayum, disparando de forma quase indiscriminada sobre os civis.
Face a mais este episódio de violência extrema sobre as populações no nordeste do país, região que desde 2009 tem estado na mira dos jihadistas do Boko Haram, o Cardeal John Olorunfemi Onaiyekan, Arcebispo emérito de Abuja, afirmou, em declarações ao Vatican News, que se está perante a “maldade de terroristas” que matam pessoas sem qualquer justificação”.
Normalmente as populações identificam os responsáveis pelos actos de violência como “bandidos”. No caso destes ataques, além das vítimas mortais há ainda a considerar um número elevado de deslocados, calculando-se que mais de 10 mil pessoas tenham fugido das suas aldeias, temendo agora regressar a casa.
Sinal também da enorme instabilidade que se vive na Nigéria, em especial na região central e norte, é o número crescente de sequestros. No final do ano passado, um sacerdote católico, o Padre Luka Adeleke, foi assassinado no estado de Ogun, na sequência, ao que as autoridades conseguiram apurar, de uma tentativa fracassada de rapto para a extorsão de dinheiro.
O carro em que viajava foi alvejado, num gesto de intimidação, mas algumas balas acabaram por atingir o sacerdote nas pernas. Apesar de ainda ter tentado levar o carro até ao hospital mais próximo, o padre Luka acabou por desfalecer e morrer.
Para o Cardeal Onaiyekan, os autores de todos estes crimes não são apenas bandidos, mas sim terroristas. “Para mim são terroristas, que nos últimos quatro ou cinco anos causaram muitos danos no país. Eles invadem os campos e matam os agricultores e ninguém diz nada. Então eles começaram os sequestros. O governo alega que não consegue identificar com precisão onde esses bandidos estão e para onde levam as suas vítimas”, diz o cardeal à Vatican News.
“Algumas crianças sequestradas em escolas estão desaparecidas há mais de um ano. Algumas meninas há pelo menos sete anos”, acrescentou ainda o prelado. Leah Sharibu, sequestrada na sequência de um ataque por homens armados à sua escola em Dapchi, a 19 de Fevereiro de 2018, é um exemplo disso.
Na ocasião, e como a Fundação AIS abundantemente tem denunciado, os terroristas levaram consigo 110 raparigas. No entanto, cerca de um mês mais tarde, todas as alunas foram libertadas com excepção de Leah, então com apenas 14 anos de idade, que sendo a única cristã do grupo recusou converter-se ao islamismo como os terroristas exigiam. Ficou desde então em cativeiro.
Para o Cardeal emérito de Abuja, é necessário que o governo assuma o combate à violência como uma prioridade absoluta, algo que poderá levar mesmo a uma mudança de executivo. “Para mim, a única maneira de superar essa situação é encontrar um governo que nos ajude a reconstruir a nossa unidade e convivência nacional. Claro que precisamos de oração. Rezo por todos os meus confrades católicos e cristãos, e rezo também por todos os meus conterrâneos muçulmanos que estão nas mãos de terroristas há anos”, disse o cardeal.
Já em Outubro do ano passado, um sacerdote nigeriano a viver em Portugal, alertava para a questão da enorme insegurança que se está a viver neste país africano. “Não há segurança em lugar nenhum” na Nigéria, disse o sacerdote à Fundação AIS, explicando que é cada vez mais comum ouvir-se falar em “situações de sequestro”, em qualquer lugar, seja “em casa, no trabalho, nas ruas ou nas estradas…”
A denúncia do Padre Simon Okechukwu Ayogu, de 44 anos, ocorreu na sequência do ataque ao Seminário Maior do Cristo Rei, em Fayat, na Diocese de Kafanchan, na Nigéria, na noite de 11 de Outubro. Na ocasião, como a Fundação AIS também noticiou, três jovens estudantes foram raptados tendo sido libertados cerca de 48 horas depois.
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