Depois da condenação a 26 anos de prisão de D. Rolando Alvarez e a deportação de diversos sacerdotes e seminaristas, as autoridades de Manágua acabam de proibir a celebração de qualquer procissão nas ruas durante a Quaresma. A Fundação AIS apela às orações dos seus benfeitores e amigos pela Igreja perseguida da Nicarágua.
Exactamente duas semanas depois de D. Rolando Álvarez, Bispo de Matagalpa e administrador apostólico da Diocese de Estelí, ter sido condenado a 26 anos de prisão por “conspiração” e “traição”, o regime de Manágua volta a atacar a Igreja Católica, desta vez proibindo procissões na rua e apenas as permitindo dentro do espaço das igrejas durante a Quaresma e Semana Santa.
Este clima de forte hostilidade não se fica por aqui. Segundo informações obtidas pela Fundação AIS Internacional, o governo tem estado a advertir e a prender os padres que mencionam o bispo de Matagalpa nas suas celebrações. Pelo menos dois sacerdotes terão sido presos em Madriz e Nueva Segovia, precisamente por terem feito referências ou rezado pelo bispo durante as suas celebrações dominicais.
Por todas estas razões, a Fundação AIS, unida ao Papa Francisco – que expressou já a sua tristeza e preocupação pela prisão de D. Rolando –, pede aos seus benfeitores em todo o mundo para que reforcem ainda mais as suas preces por esta igreja perseguida, para que não se sinta abandonada nestes tempos difíceis e possa continuar a anunciar o Evangelho e a acompanhar os fiéis, especialmente os mais pobres e necessitados.
Deportação e prisão
A proibição das procissões nas ruas durante a Quaresma é apenas mais uma medida de confrontação com a Igreja, após a condenação, dia 10 de Fevereiro, do Bispo de Matagalpa, e a deportação, na véspera, de mais de duas centenas de presos, entre os quais vários sacerdotes e seminaristas. Entre os expulsos do país estavam os padres Óscar Benavides, Ramiro Tijerino, Sadiel Eugarrios, José Díaz e Benito Martínez, além do diácono Raúl Veja. Também foram exilados os seminaristas Melkin Centeno e Darvin Leyva, assim como a equipe de comunicação da Diocese de Matagalpa, Manuel Obando e Wilberto Astola. Todos estiveram presos por “minar a independência, a soberania e a autodeterminação do povo” e por “incitar à violência, ao terrorismo e à desestabilização económica”.
O Bispo de Matagalpa fazia também parte dessa lista de pessoas a exilar, mas recusou abandonar o país e foi julgado quase de imediato. O juiz declarou-o como “traidor da pátria” e culpado de “conspiração, de ameaçar a integridade nacional e de divulgar notícias falsas através de tecnologias de informação e comunicação em detrimento do Estado e da sociedade nicaraguense”. A sentença foi de 26 anos de prisão.
A Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre está preocupada com as notícias que chegam da Nicarágua, sobre padres proibidos de voltar ao país, restrições de visto para religiosos e religiosas, vigilância e controle de movimento de padres e bispos, gravação de sermões e proibição, como agora foi decidido pelas autoridades, de procissões e celebrações religiosas.
“Tentativa de silenciar a Igreja”
Já no ano passado, a Fundação AIS havia chamado a atenção para esta situação. Em Agosto, Regina Lynch, chefe de projectos da AIS Internacional, denunciava a “tentativa de silenciar a Igreja na Nicarágua”. Ainda recentemente, em Novembro, foi publicado um relatório “Nicarágua: uma Igreja perseguida?”, da responsabilidade da advogada e investigadora Martha Patricia Molina. Segundo esse trabalho de investigação, houve, no período entre Abril de 2018 e Outubro de 2022, 396 ataques contra a Igreja Católica neste país da América do Sul. Entre as quase quatro centenas de episódios documentados, há relatos de profanações, roubos, ameaças e discurso de ódio. Durante este período, foram vários os bispos, padres, irmãs e leigos visados pelas autoridades.
A deportação de cerca de duas centenas de pessoas, entre as quais alguns sacerdotes e seminaristas, a condenação a 26 anos de prisão do Bispo de Matagalpa e, agora, a proibição de realização nas ruas de procissões durante a Quaresma e Semana Santa são apenas os episódios mais recentes de uma longa lista de medidas repressivas tomadas pelo governo de Daniel Ortega contra a Igreja Católica.
Anteriormente, as autoridades já tinham provocado a expulsão do país do Núncio Apostólico, Waldemar Stanislaw Sommertag, forçado a saída das Missionárias da Caridade, a congregação fundada pela Santa Madre Teresa de Calcutá, assim como de outros religiosos e sacerdotes, e provocado também o encerramento do canal de televisão da Conferência Episcopal e de outras seis estações de rádio católicas.
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