MONGÓLIA: Visita do Papa foi semente de energia para a pequena comunidade católica local

Terminou ontem, com a inauguração de um centro de acolhimento temporário para pobres e pessoas vulneráveis, a histórica viagem do Santo Padre à Mongólia. Uma viagem que, segundo a directora do gabinete de Imprensa da Fundação AIS Internacional, que acompanhou o Papa Francisco, vai deixar muitas sementes para o futuro, não só para a pequena comunidade católica local, mas também para os fiéis em todo o mundo.

Terminou ontem, dia 4, com a inauguração de um centro de acolhimento temporário para pobres e pessoas vulneráveis, nomeadamente sem-abrigo e migrantes, a visita histórica do Papa Francisco à Mongólia. Durante a inauguração da “Casa da Misericórdia” – é assim que se chama o espaço –, o Santo Padre voltou a destacar a importância dos pequenos gestos e da solidariedade desinteressada, tão característicos da vida da Igreja neste país da Ásia Central, onde a comunidade católica tem apenas cerca de 1400 fiéis.

“A Igreja na Mongólia, na sua pequenez, vive de comunhão fraterna, oração, serviço desinteressado à humanidade sofredora e testemunho da própria fé”, disse o Papa, classificando a “Casa da Misericórdia” como uma espécie de porto de abrigo para os mais necessitados: “um porto onde podem atracar, onde encontram escuta e compreensão” e onde, por tudo isso – acrescentou ainda Francisco – se respira o bom odor de Cristo”.

Amor aos outros

Significativamente, a viagem de quatro dias do Santo Padre à Mongólia teve o seu epílogo na inauguração deste centro, permitindo a Francisco sublinhar a importância do trabalho que a pequeníssima comunidade católica tem vindo a desempenhar neste país ainda tão desconhecido e que faz fronteira com a Rússia e a China.

O Papa, falando da “Casa da Misericórdia”, referiu-se também a muitos dos desafios que se colocam ao mundo nos dias de hoje, nomeadamente às questões do progresso das nações. Para o Papa Francisco, esse progresso “não se mede pela riqueza económica nem, menos ainda, pelo valor investido na força ilusória dos armamentos, mas pela capacidade de prover à saúde, à educação e ao crescimento integral do povo”.

Francisco aproveitou também a ocasião para explicar que a Igreja na Mongólia, ou em qualquer outro lugar do mundo, não tem como propósito com o seu trabalho social fazer qualquer tipo de proselitismo. “Não é isso”, explicou. “Os cristãos identificam a pessoa necessitada e fazem todo o possível por aliviar as suas tribulações porque veem nela Jesus, o Filho de Deus, e n’Ele a dignidade de cada pessoa, chamada a ser filho ou filha de Deus”.

E acrescentou ainda: “Apraz-me imaginar esta Casa da Misericórdia como o lugar onde pessoas de diferentes ‘credos’ e mesmo não-crentes unem os seus esforços aos dos católicos locais para socorrer compassivamente tantos irmãos e irmãs em humanidade. A palavra é esta: compaixão, a capacidade de sofrer com o outro. E isto o Estado saberá adequadamente preservar e promover. Com efeito, para que este sonho se torne realidade é indispensável, aqui e em toda a parte, que os responsáveis públicos apoiem estas iniciativas humanitárias, dando provas duma virtuosa sinergia em prol do bem comum”.

Santa Missa na Steppe Arena em Ulaanbaatar com o Santo Padre

Presença da Fundação AIS

A Igreja Católica tem uma expressão muito pequena na Mongólia e socorre-se para a realização do seu trabalho da presença de missionários oriundos de vários países. É o caso da Colômbia. O padre Andrés Gavis, de 42 anos, missionário da Consolata, está presente no norte da cidade de Ulaanbaatar onde colabora numa das várias iniciativas da sua congregação neste país asiático.

À Fundação AIS, o padre Gavis explicou que está envolvido num trabalho de âmbito social, o apoio extracurricular aos alunos mais necessitados. Um trabalho que, mesmo nos confins da Mongólia, tem também o traço da solidariedade dos benfeitores da Fundação AIS. “Temos um programa de apoio extracurricular dando apoio todos os dias a muitas crianças que, após as aulas, vêm até à nossa casa para fazerem os trabalhos escolares. Este espaço existe também graças ao apoio da vossa organização, a Fundação AIS, e agradecemos muito esse apoio pois de outra forma não seria possível para nós, missionários, fazermos grande parte do nosso trabalho”, explicou.

Para o padre Andrés Gavis, só o espírito solidário permite que tão poucos possam realizar uma missão tão profícua. “Dando as mãos todos conseguimos fazer milagres. E é isso que tentamos fazer em Ulaanbaater. Começámos por fazer pequenas coisas e temos continuado, graças à perseverança dos missionários e também graças à generosidade dos benfeitores”, disse.

Sobre a viagem do Santo Padre, o sacerdote colombiano não tem dúvidas de que ficará na memória de todos. “O povo da Mongólia está feliz e sente-se encorajado pelo Papa ao escutar as suas palavras na missa, mas também nos encontros que teve com vários representantes de diferentes religiões… Podemos dizer que vai ficar na memória do povo. O povo da Mongólia tem uma boa memória, isso é uma coisa que caracteriza esta população. Tem uma boa memória e não se vai esquecer disto”, sublinhou ainda o missionário colombiano.

Mensagens de valor universal

A viagem do Papa foi acompanhada também, a par e passo, pela directora do gabinete de Imprensa da Fundação AIS Internacional. No final da visita, e em jeito de balanço, Maria Lozano afirma que houve “momentos muito bons, de muita energia, não só para a Igreja na Mongólia mas também para as igrejas da região, Vietname, Tailândia, Quirguistão, Cazaquistão…”

Lozano destaca também, tal como o padre Andrés Gavis, a importância das mensagens “muito bonitas” que o Papa foi proferindo ao longo dos quatro dias de visita, e que classificou como sendo de “valor universal”. Mensagens em que Francisco deu “importância às coisas pequenas, ao valor da fé, à importância de se cuidar da vida, ao meio ambiente”. Mensagens ainda que, acrescenta a responsável da AIS Internacional, vão deixar marcas, pois “vão impregnar a fé dos fiéis da Mongólia e do mundo inteiro”. 

Esta viagem do Papa, a 43ª do seu pontificado, foi histórica. Nunca um Santo Padre tinha visitado as terras de Gengis Khan. Depois de em Agosto ter estado em Portugal, para a Jornada Mundial da Juventude, que congregou em Lisboa cerca de um milhão e meio de jovens oriundos de todo o mundo, Francisco deslocou-se a este país da Ásia onde a comunidade católica é das mais pequenas em todo o planeta…

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

Relatório da Liberdade Religiosa

Certos aspectos da liberdade religiosa parecem estar razoavelmente bem estabelecidos na Mongólia e, a este respeito, a liberdade religiosa é muito mais respeitada na Mongólia do que na vizinha China. Contudo, dificuldades económicas e rápidas mudanças sociais levaram as autoridades locais a desconfiar de religiões consideradas “estrangeiras” ou “novas” para o país, tais como o Cristianismo, quer católico, ortodoxo ou protestante.

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