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MOÇAMBIQUE: Risco de ataque dos terroristas a Pemba levou já algumas religiosas a sair da cidade
A cidade de Pemba é um espelho da insegurança que se vive em Cabo Delgado, palco de ataques desde 2017 e que culminaram, em Março, com uma grande operação terrorista na vila de Palma. O medo de que possa acontecer, a qualquer momento, um ataque em Pemba, apesar da presença no local de efectivos militares das Forças de Defesa de Moçambique, acentuou-se em Abril com a divulgação de um relatório por parte de uma consultora de segurança.
Sinal disso, há já entre as congregações religiosas presentes na cidade de Pemba, a capital de Cabo Delgado, quem esteja a procurar estabelecer-se noutras províncias moçambicanas mais distantes do epicentro da ameaça jihadista.
O Padre Kwiriwi Fonseca, responsável pela comunicação da Diocese de Pemba, confirma que existe esse sentimento de receio e que há mesmo quem procure pôr em prática um “plano B” face à ameaça de um possível ataque na própria cidade.
“A Diocese de Pemba sabe de que o povo de Cabo Delgado vive a questão do medo, da insegurança [perante] um ataque, por exemplo, à cidade de Pemba. O que nós sabemos e estamos também rezando bastante é para que isso não venha a acontecer, mas, por outro lado, estamos tentando nos precaver, estamos tentando, cada um buscar o seu ‘plano B’, talvez [indo para] outra cidade…”
O “plano B” de que fala o Padre Fonseca já foi posto em prática por alguns elementos de congregações femininas. “O que nós verificamos é que uma ou outra congregação feminina [já] saiu para outro local principalmente aquelas que têm casas de formação… Perceberam que [Pemba] não é hoje um local seguro.”
D. Diamantino Antunes, Bispo de Tete, confirmou-o também à Fundação AIS. “Recebi um apelo urgente de uma congregação de irmãs que estão em Cabo Delgado e que não se sentem tranquilas de viver naquele contexto, com medo de possíveis ataques.” Estas religiosas “pediram à diocese de Tete se as podia acolher para poderem exercitar [aí] a sua actividade missionária”.
A divulgação em Abril do relatório da empresa consultora de segurança veio disparar os sinais de alarme. Nesse relatório, a Pangea-Risk – que, recorde-se, avisou da iminência do ataque a Palma apenas 12 dias antes de este ter ocorrido, informação que terá sido ignorado pelas autoridades –, afirma que “a capital provincial Pemba e a cidade costeira da Tanzânia, Mtwara, [estão] expostas a ataques dos militantes nos próximos meses…”
Apesar do receio de algum ataque de envergadura, à semelhança do que aconteceu por exemplo no ano passado em Mocímboa da Praia e em Março deste ano na vila de Palma, a Igreja tem procurado evitar sinais de pânico. O próprio Administrador Apostólico de Pemba está empenhado nisso. Diz o Padre Fonseca que “uma das coisas que D. Juliasse pediu é que nós não tivéssemos bastante pânico, encarássemos isto como um desafio…”
A verdade é que a maioria do clero não dá mostras de querer partir. “A maioria continua aqui, firme, e se for para sofrer, [que seja para] sofrer com o povo, o que é um sinal de bastante solidariedade”, diz Kwiriwi Fonseca, procurando traduzir o sentimento da esmagadora maioria dos padres e das religiosas que se encontram em Pemba.
“Há condições para sair, sim, mas muitos missionários e missionárias preferem ficar aqui para acompanhar tudo o que vier a acontecer. Porque, afinal, a Igreja tem um papel grande de cuidar desses mais de 150 mil deslocados [que estão na cidade].”
Também D. Diamantino Antunes afirma que embora se compreenda que possa haver quem se sinta em insegurança, a maior parte sem qualquer dúvida quer ficar ao lado do povo nestes momentos tão difíceis que se estão a viver em Cabo Delgado perante a ameaça de grupos terroristas. “Nós somos pastores e o pastor não abandona as ovelhas no perigo… mas percebe-se…”
Referindo-se às religiosas que manifestaram o desejo de se mudar para a Diocese de Tete, o bispo recorda que “elas viram a violência, não só acolheram os deslocados em Pemba, estavam também em Palma, em Nangade, em Mocímboa da Praia, em Macomia… portanto, viram… houve irmãs que foram raptadas… viram a violência, são testemunhas da violência. Por isso, o medo é compreensível como é [também] da parte da população.”
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