Numa mensagem emotiva enviada para a Fundação AIS desde Cabo Delgado, a Irmã Aparecida Queiroz agradece toda a ajuda que tem sido dada à Diocese de Pemba e pede que essa solidariedade não esmoreça. Depois da passagem pela região, em Dezembro, do devastador ciclone Chido, e com a violência terrorista activa, as populações continuam a ser arrastadas para a miséria. A irmã fala mesmo em fome e em dor e lança um apelo: “Não podemos parar, não podemos deixar de ser Rosto de Cristo neste contexto de desespero”.
A Irmã Aparecida Queiroz, da Congregação das Filhas de Jesus, está em missão há mais de sete anos na Diocese de Pemba, no norte de Moçambique, região que corresponde à província de Cabo Delgado. Ao longo destes anos, a religiosa tem sido um dos rostos da Igreja no socorro às vítimas do terrorismo, dos grupos armados que reivindicam pertencer ao Daesh, a organização jihadista Estado Islâmico.
Os ataques começaram em Outubro de 2017 e provocaram, desde então, a morte a mais de cinco mil pessoas e cerca de 1 milhão de deslocados. Cabo Delgado, lembra a Irmã na mensagem vídeo enviada para a Fundação AIS, “é um lugar lindo”. Mas é um lugar onde vivem pessoas “carregadas de dor, sofrimento e medo”, com milhares de famílias encurraladas na pobreza, procurando desesperadamente sobreviver no dia-a-dia, e sempre, mas sempre sobressaltadas pela violência terrorista.
“Imagina que estás em tua casa depois de um dia de trabalho e que de repente entra um grupo de homens armados mata os teus filhos, rapta os membros da tua família, e tens de fugir durante dias pelo mato, com medo, com fome, com sede, e com uma dor avassaladora”, relata a Irmã na mensagem, lembrando a angústia real de quem vive na região. “Pois bem, são milhares de irmãs e irmãos nossos em Cabo Delgado que estão a viver essa dor, pessoas que perderam tudo, casa, membros da família, lugar de oração, identidade, e que tiveram que fugir não só uma vez, mas muitas vezes.”
As palavras da religiosa acentuam a situação de desespero em que se encontram milhares de famílias no norte de Moçambique.
NÃO ESQUECER CABO DELGADO
Além da violência terrorista, a região tem sido palco também de alguns fenómenos meteorológicos extremos, como o que ocorreu no passado mês de Dezembro, em que os ventos e as chuvas fortes do ciclone Chido deixaram um enorme rasto de morte e destruição em toda a província.
Nesta que é a região mais pobre de Moçambique, por sua vez um dos países mais pobres do mundo, a Igreja tem procurado ser amparo para os que mais sofrem. “É preciso que o mundo não se esqueça de Cabo Delgado”, tem alertado sistematicamente o Bispo de Pemba, D. António Juliasse. Palavras que são agora secundadas pela Irmã Aparecida Queiroz.
Um dos problemas mais complexos que a Igreja enfrenta é o de conseguir dar apoio às populações forçadas a fugir constantemente por causa dos ataques terroristas. Numa região em que a agricultura é muito básica, apenas de subsistência, quem fica longe das terras por cultivar, da machamba, fica logo sem nada para comer. Os que fogem salvam a vida, mas ficam com o prato vazio. E esse é apenas um dos problemas. “Essa mobilidade constante esse vai e vem em busca de sobreviver está na base desse ciclo de pobreza, com crianças sem estudar, sem acesso à saúde, família sem poder plantar, e fome, muita fome”, descreve a Irmã, lembrando que é precisamente neste contexto tão adverso que a Igreja tem recebido a ajuda da Fundação AIS.
É nessa realidade de dor que a ajuda da AIS tem sido como a mão de Deus que alivia e salva vidas. Essa ajuda possibilita que as pessoas sejam visitadas, escutadas, possam celebrar os sacramentos, a Eucaristia… uma ajuda que tem oferecido sustento também material, com alimentos, materiais de higiene, uma ajuda que forma, que capacita, que transforma.”
UMA AJUDA QUE CHEGA A MILHARES DE PESSOAS
A religiosa da Congregação das Filhas de Jesus lembra ainda que tem sido graças à ajuda disponibilizada pela solidariedade dos benfeitores e amigos da Fundação AIS em Portugal e um pouco por todo o mundo que a diocese de Pemba tem distribuído alimentos “para mais de 2 mil famílias”, e que foi possível, com essa ajuda, “realizar celebrações em comunidade a que já não tínhamos acesso, foi possível formar seminaristas, foi possível levar a voz de esperança da rádio diocesana [Rádio Sem Fronteiras] a milhares de pessoas”.
Portanto, conclui a Irmã, “a mão de Deus através da AIS devolve vidas e por isso não podemos parar, não podemos deixar de ser rosto de Cristo neste contexto de desespero”. Um Cristo, diz ainda a concluir a religiosa da Congregação das Filhas de Jesus, “que alimenta o corpo e a alma, que cura e multiplica pães e peixes”.
“E é isso que faz a ajuda que tu e a tua família oferecem à AIS, e essa ajuda chega a estas milhares de pessoas que estão cá nesta parte do mundo. Muito obrigada.”
PAÍS PRIORITÁRIO PARA A FUNDAÇÃO AIS
Moçambique é, de facto, um país prioritário para a Fundação AIS. Ainda em Abril do ano passado foi lançada uma grande campanha de solidariedade em Portugal em que se deu voz aos apelos do Bispo de Pemba face ao agravamento da situação humanitária por causa da violência jihadista na região.
Além do apoio psicossocial às populações vítimas do terrorismo, têm sido lançados diversos projectos de assistência pastoral, de fornecimento de materiais para a construção de dezenas de casas, de centros comunitários e ainda para a aquisição de veículos para que os missionários possam estar junto dos centros de reassentamento que abrigam milhares de famílias fugidas da violência.
E, acima de tudo, a Fundação AIS tem mobilizado os seus benfeitores e amigos para terem sempre presentes nas suas orações o povo sofrido de Cabo Delgado que enfrenta o terror do extremismo religioso.
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt