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MOÇAMBIQUE: Novos ataques terroristas causam apreensão e agravam crise humanitária em Cabo Delgado
Além de novos episódios de violência terrorista em Cabo Delgado, Moçambique foi assolado também por um ciclone que causou mais de meia centena de mortos e provocou uma onda enorme de destruição. Bispos de Quelimane e Nacala mostram a sua preocupação em mensagens enviadas para a Fundação AIS
A ilha de Materno, no arquipélago das Quirimbas, em Cabo Delgado, foi palco de “intensos combates” durante a semana passada entre grupos armados e soldados das forças de segurança de Moçambique. A informação foi divulgada por um porta-voz da polícia, que anunciou também a morte de 10 insurgentes, como localmente os terroristas são referenciados.
Segundo Ernesto Maungue, os terroristas terão invadido a Ilha de Matemo, situada no distrito de Ibo, na noite de quarta-feira, 16 de Março, tendo havido uma “ofensiva” por parte das Forças de Defesa e Segurança que causou a morte a “10 elementos do grupo terrorista” e à captura, já na quinta-feira, de algum equipamento bélico.
A notícia do ataque dos terroristas à ilha de Matemo foi divulgada também pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, num encontro com Marcelo Rebelo de Sousa, que esteve de visita oficial a Moçambique. “Os meus jovens [militares] estão a combater na ilha de Matemo, porque os terroristas tentaram se infiltrar, mas estão a levar bem”, disse Nyusi durante o jantar na quinta-feira, 17 de Março, na sua residência oficial, em Maputo, perante o seu homólogo português.
“Temos plena consciência de que a vitória completa ainda está por conquistar”, disse ainda o presidente moçambicano, tendo aproveitado a ocasião para renovar “o apelo à comunidade internacional”, no sentido de continuar a “apoiar os esforços” de Moçambique, do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, “na frente de combate” para “erradicar” a violência armada no país lusófono.
Durante a semana passada foram também encontrados, nas proximidades da capital de Cabo Delgado, os corpos de oito pessoas que provavelmente “morreram de fome”, segundo revelou o Bispo de Pemba, citado pela Rádio Renascença.
A presença activa de grupos armados no norte de Moçambique, tanto na província de Cabo Delgado como na de Niassa, está a agravar o sentimento de insegurança das populações locais. Os ataques tiveram início no final de 2017 e já provocaram cerca de três mil mortos e mais de 850 mil deslocados internos.
Ainda recentemente, em declarações à Fundação AIS logo após a sua nomeação, a 8 de Março, como Bispo de Pemba, D. António Juliasse alertava precisamente para esta situação. “A violência terrorista continua a ter os seus efeitos em Cabo Delgado e a crise humanitária ainda está presente. Infelizmente, a situação não é muito visualizada nos últimos momentos e divulgada com a mesma intensidade como foi há algum tempo atrás, mas o sofrimento do povo de Cabo Delgado ainda continua”, disse o prelado na mensagem enviada para Lisboa.
Lembrando que os campos de reassentamento acolhem milhares de “pessoas necessitadas”, e que muitas “não conseguem ter o alimento diário”, o Bispo apelou à solidariedade de todos para com esta região tão empobrecida de Moçambique. “Renovo o apelo para que o mundo não esqueça Cabo Delgado e não esqueça o sofrimento que há, porque se nos esquecermos isso será grave, [pois] há imensa gente ainda dependente das ajudas que chegam de todo o lado, e, portanto, é preciso ainda continuar a salvar as vidas nestas condições de extrema pobreza”, disse o prelado que desempenhava anteriormente as funções de administrador apostólico de Pemba, além de que era também bispo auxiliar de Maputo.
CICLONE DEVASTADOR
A agravar este cenário já de si tão difícil, algumas regiões de Moçambique foram assoladas, a partir do dia 11 de Março, pelo ciclone Gombe, que atingiu especialmente as províncias de Nampula e Zambézia. Segundo o último relatório do Instituto Nacional de Gestão de Desastres, divulgado na semana passada, o ciclone causou mais de meia centena de mortos e cerca de 80 feridos, sendo que a maior parte dos óbitos foram registados em Nampula. No total, e os dados são ainda provisórios, haverá cerca de 20 mil deslocados, tendo o ciclone afectado contudo mais de 400 mil pessoas.
D. Hilário da Cruz Massinga, Bispo de Quelimane (Zambézia), em mensagem enviada para Ulrich Kny, o responsável de projectos da Fundação AIS em Moçambique, alertava para uma situação de “muito sofrimento” por parte das populações. “Tudo está inundado: casas, campos semeados… Estamos impotentes perante tão grande sofrimento! As pessoas não têm comida e estão a sofrer de diarreias por falta de água potável…”
Por sua vez, o Bispo de Nacala, D. Alberto Vera, fez referência também a um cenário desolador. “Em Monapo, é uma tristeza. Pavilhão, secretaria do distrito, escolas e casas no bairro perderam tectos. Muitas casas caíram. Algumas famílias estão sendo acolhidas na EPC e no centro pastoral.” Noutra mensagem, o Bispo explica ao responsável de projectos da Fundação AIS algumas das consequências da passagem do ciclone pelo território da diocese. “O sofrimento é muito forte. Os pobres camponeses graças à chuva [que se fazia sentir] tinham uma grande esperança numa boa colheita, mas o ciclone destruiu-a quase toda.” Por causa disso, sublinha D. Alberto, “este ano, novamente, será um ano de fome”.
A situação em Moçambique, um dos países mais pobres do mundo, é acompanhada em permanência pela Fundação AIS. Ainda no passado mês de Fevereiro, foi publicada uma pequena revista com um apelo a todos os benfeitores e amigos da instituição em Portugal para auxiliarem a Igreja Católica neste país africano. “Moçambique conta consigo, vamos ajudar?”, foi o mote dessa campanha baseada nos testemunhos recolhidos pela equipa da Fundação AIS que esteve neste país africano em Novembro do ano passado e que atestou a importância do trabalho solidário da Igreja junto das populações mais afectadas pela pobreza e violência terrorista.
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