“Precisamos de socorro”, é o grito que enche a primeira página do Boletim que a Fundação AIS está a fazer chegar por estes dias a casa de milhares de portugueses, apelando à solidariedade para com a Diocese de Pemba, para com as populações de Cabo Delgado vítimas desde o final do ano passado de uma nova e brutal onda de violência terrorista.
São quatro páginas cheias de relatos carregados de dor e sofrimento. O Boletim, que a Fundação AIS está, por estes dias, a enviar para casa de milhares de portugueses, é o retrato da situação catastrófica no plano humanitário que se está a viver na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, palco uma vez mais de violentíssimos ataques terroristas por parte de grupos armados que reclamam pertencer ao Daesh, a organização jihadista Estado Islâmico.
Desde o final do ano passado, dezenas de aldeias foram atacadas, centenas de pessoas raptadas e mortas e várias capelas e igrejas destruídas. De entre todos os relatos que a Fundação AIS reuniu neste Boletim, o destaque vai para a mensagem enviada para a Ajuda à Igreja que Sofre por D. António Juliasse, Bispo de Pemba.
Num dos momentos mais dramáticos, em Fevereiro, quando milhares de pessoas se fizeram à estrada procurando salvar as suas vidas face à iminência de ataques às suas aldeias, o Bispo enviou para Lisboa uma breve mas emotiva mensagem em que traduziu o estado de impotência que se vive em Cabo Delgado face à violência e impunidade com que os terroristas têm actuado.
Essas palavras do Bispo são agora recordadas pela Fundação AIS. “Nessas aldeias, todas as capelas cristãs foram destruídas. O ponto mais alto até agora foi o ataque feito a Mazeze, o posto administrativo do distrito de Chiúre, com a destruição das infraestruturas públicas e sociais do governo, assim como a nossa Missão, que dava muito apoio social ao povo da região”.
“SOCORRO, SOS PARA CABO DELGADO…”
D. António Juliasse fez questão de lembrar o sofrimento que as populações, já de si muito pobres, estão a viver uma vez mais.
Carregam alguma trouxa na cabeça ou na única bicicleta familiar. É tudo o que agora lhes resta. Certamente não tarda que chegue a fome, a sede e as doenças.”
D. António Juliasse
São pessoas assustadas e que fogem, procurando salvar as próprias vidas, para não terem “a mesma sorte dos que foram degolados e baleados”.
Apesar de nas últimas semanas não se ter registado nenhum incidente particularmente grave, aparentemente por causa do Ramadão, tempo sagrado para os muçulmanos e que terminou a 9 de Abril, o medo persiste e, principalmente, há milhares de pessoas que fugiram de suas casas, das suas aldeias e que ficaram sem nada e dependem por isso e totalmente de ajuda para a sobrevivência no dia-a-dia.
De facto, a situação humanitária em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, continua extremamente grave. O padre Kwiriwi Fonseca, um dos sacerdotes de Pemba, ao saber que a Fundação AIS está a lançar mais uma campanha de solidariedade para com Cabo Delgado, enviou de imediato um apelo procurando sensibilizar os portugueses para a urgência desta iniciativa.
“Depois dos últimos ataques muita gente abandonou as suas terras, abandonou a agricultura, sabendo-se que isso é a base económica da região de Cabo Delgado, e essas pessoas precisam urgentemente de comida, precisam de bens, também com urgência. Eu, padre Fonseca, tenho acompanhado e sei muito bem quanto vocês conseguem [fazer] e o quanto é urgente [essa ajuda] na Diocese de Pemba. Por isso, sem muitas palavras, o que eu digo é: socorro, SOS para Cabo Delgado, ajuda urgente para o povo de Cabo Delgado…”
PAÍS PRIORITÁRIO PARA A AIS
O padre Fonseca lembra, nesta mensagem, que a ajuda da AIS tem sido muito relevante no trabalho da Diocese de Pemba junto das vítimas do terrorismo. “Com o vosso apoio a Diocese tem feito um trabalho muito bonito de acompanhamento psicossocial, de acompanhamento humanitário, de acompanhamento das situações urgentes como a fome. Então, queridos irmãos, por favor, solicito-vos que possam, neste momento, abrir os vossos corações e retomar a ajuda. Cada um naquilo que puder.”
Esta Campanha é mais um sinal de que Moçambique é, de facto, um país prioritário para a Fundação AIS. Além do apoio psicossocial às populações vítimas do terrorismo, que referiu o padre Kwiriwi Fonseca, têm sido lançados diversos projectos de assistência pastoral, de fornecimento de materiais para a construção de dezenas de casas, de centros comunitários e ainda para a aquisição de veículos para que os missionários possam estar junto dos centros de reassentamento que abrigam milhares de famílias fugidas da violência.
E, acima de tudo, a Fundação AIS tem mobilizado os seus benfeitores e amigos para terem sempre presentes nas suas orações o povo sofrido de Cabo Delgado que enfrenta o terror do jihadismo. Neste momento tão difícil, os portugueses são chamados, uma vez mais, a manifestarem a sua solidariedade para com as populações que habitam a região mais pobre de um dos mais pobres países do mundo.
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt