MOÇAMBIQUE: Cabo Delgado reuniu pela primeira vez em encontro inter-religioso líderes muçulmanos vítimas do terrorismo

MOÇAMBIQUE: Cabo Delgado reuniu pela primeira vez em encontro inter-religioso líderes muçulmanos vítimas do terrorismo

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MOÇAMBIQUE: Cabo Delgado reuniu pela primeira vez em encontro inter-religioso líderes muçulmanos vítimas do terrorismo

Segunda-feira · 10 Janeiro, 2022

Os líderes muçulmanos que assinaram a 3 de Janeiro, juntamente com D. António Juliasse, Administrador Apostólico de Pemba, a Declaração Inter-religiosa pela paz em Cabo Delgado, foram eles próprios vítimas de violência fazendo parte dos mais de 850 mil deslocados que os ataques terroristas já provocaram nesta província situada a norte de Moçambique.

A importância desta participação, não só na elaboração da Declaração como nas reuniões prévias que lhe deram origem, é destacada pelo Padre Eduardo Roca de Oliveira, um dos responsáveis pelo diálogo inter-religioso da Diocese de Pemba.

Em declarações à Fundação AIS, o Padre Eduardo explica que se tratou do “primeiro pronunciamento conjunto pelo menos nestes últimos dez anos”, e isso tem “um valor essencial, um valor fundamental”, pois foi também fruto “de uma reflexão, de uma meditação e de um diálogo partilhado entre as religiões e as organizações religiosas presentes aqui em Cabo Delgado”.

MOÇAMBIQUE: Cabo Delgado reuniu pela primeira vez em encontro inter-religioso líderes muçulmanos vítimas do terrorismo
850 mil deslocados que os ataques terroristas já provocaram nesta província situada a norte de Moçambique.

Anteriormente, recorda o Padre Eduardo, ocorrera já um outro encontro ao nível das lideranças religiosas, mas sem o trabalho de base, o diálogo que agora se verificou. E isso, explica, faz toda a diferença. “A diferença também em relação a esta declaração é que está formulada expressamente pelas lideranças que tiveram de abandonar o norte, os distritos do norte”, diz o Padre Eduardo, um missionário espanhol que trabalha em Mahate, uma zona muito pobre da cidade de Pemba.

“Nós insistimos, neste encontro, para que os chefes que chegassem aqui, que reunissem connosco, fossem aqueles que saíram dos distritos que foram abandonados por causa dos ataques. Portanto, [isto] tem um valor especial”, acrescentou.

O sacerdote diz ainda à Fundação AIS que a Declaração de 3 de Janeiro também é importante pois permite mostrar o real papel das religiões, “que é o de criar concórdia, reconciliação, e possibilitar caminhos de felicidade para a sociedade”, condenando “qualquer manipulação, abuso e instrumentalização da religião”.

Tal como a Fundação AIS noticiou no início de Janeiro, a Declaração Inter-Religiosa de Pemba foi assinada por D. António Juliasse, Administrador Apostólico da Diocese, a par de vários líderes muçulmanos, nomeadamente os Sheikhs Nzé Assuate, do Conselho Islâmico de Moçambique, e Abdul Incacha, da Comunidade Islâmica de Cabo Delgado.

No documento, os líderes religiosos locais repudiam de forma veemente todas as formas de violência e extremismo, assumindo o compromisso de trabalharem em conjunto para que a sociedade não olhe para a religião “como causa de qualquer conflito”, rejeitando que “sejam atribuídos os actos terroristas à religião muçulmana”, assim como qualquer afirmação “que associe tais actos aos princípios do Islão”.

Além destas afirmações, de defesa da paz e de rejeição da violência, a Declaração espelha, diz agora o Padre Eduardo à Fundação AIS, o caminho em conjunto que tem vindo a ser trilhado e que se pode traduzir na palavra amizade. “Uma amizade”, acrescenta o missionário, que se espelha “em acções práticas pelo bem, pelo bem comum e pela paz aqui em Cabo Delgado”.

Em Mahate, onde vive, todos conhecem o Padre Eduardo. Foi neste bairro, que é uma verdadeira favela, que nasceu a insurgência que transformou Cabo Delgado numa zona de guerra. O bairro, que se estende ao longo de uma estrada poeirenta, é o retrato da pobreza da região e é também o coração do Islão na cidade de Pemba.

O Padre Eduardo chegou a Mahate em 2012. Pouco tempo depois recebeu do bispo uma missão muito especial que hoje, reconhece à Fundação AIS, terá sido “a mais importante” de todas: trabalhar no âmbito do diálogo inter-religioso. “Depois de muito esforço, de muitos contactos, de muita proximidade e amizade também com esta população muçulmana que nos rodeia aqui na paróquia – pensem que estamos rodeados de sete mesquitas, apenas a nossa igreja, a nossa paróquia é católica…–, em 2017 conseguimos pela primeira vez organizar um pequeno centro inter-religioso para a paz.”

Foi precisamente nesse ano de 2017 que Moçambique se sobressaltou com o primeiro tiro disparado pelos terroristas, o que aconteceu a 5 de Outubro, contra o posto de controlo da polícia em Awasse, uma aldeia a cerca de 40 quilómetros de Mocímboa da Praia. Mas ali, em Pemba, a preocupação do Padre Eduardo Roca era já a de juntar boas vontades, aproximar credos, unir esforços.

Numa altura em que há notícias, de novo, de ataques terroristas agora não só na província de Cabo Delgado mas também na de Niassa, em Mahate, no bairro que é o coração do Islão de Pemba, há quem trabalhe para que a paz e a amizade sejam sempre mais fortes do que as balas, as ameaças de morte, a violência e o terror. 

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt 

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