MOÇAMBIQUE: Bispos lembram desigualdades no momento em que começa a exportação do gás na região norte

MOÇAMBIQUE: Bispos lembram desigualdades no momento em que começa a exportação do gás na região norte

Conferência Episcopal de Moçambique publicou uma Nota Pastoral que faz a radiografia de um país mergulhado numa profunda crise, com desigualdades profundas, onde ao cancro da corrupção se junta desde há cinco anos a ameaça brutal do terrorismo. O documento dos Bispos foi divulgado dia 11 de Novembro, dois dias antes de ter começado a exportação do gás na costa norte. Precisamente ao largo de Cabo Delgado, onde começaram os ataques reivindicados por jihadistas…

O mês de Novembro vai ficar marcado na história de Moçambique pelo início da exportação do gás natural na Bacia do Rovuma, na costa norte do país. Foi no domingo, dia 13, que se assinalou a saída do primeiro abastecimento de gás liquefeito da fábrica Coral Sul. As expectativas são enormes a nível económico. Especialistas afirmam que Moçambique poderá vir a receber cerca de 683 milhões de euros por ano, num processo que poderá estender-se por várias décadas.

Mas Novembro ficará também marcado pela corajosa Nota Pastoral da Conferência Episcopal, em que os bispos alertam para um país profundamente desigual, onde há “uma minoria rica que pode pagar todo tipo de luxos e, por outro, uma maioria empobrecida que não tem sequer o básico para sobreviver”. Neste país, Moçambique, lembram os Bispos, há também uma guerra em curso desde há cinco anos. É a guerra do terrorismo que começou precisamente na província de Cabo Delgado em cuja costa se está a iniciar agora a exportação milionária do gás.

O drama da corrupção

A pobreza extrema que se vive em Moçambique, aliada à enorme expectativa gerada pela exploração dos recursos naturais, obriga a reflectir para o país que se quer construir. E a Igreja ajuda nessa reflexão. “Nenhuma paz sobrevive a exclusões e injustiças sociais”, dizem os prelados, lembrando que o cancro da corrupção está presente neste país que está prestes a assinalar também [25 de junho de 2025] meio século de independência e trinta anos do Acorde Paz entre Renamo e Frelimo.

“A corrupção é outro dos grandes males que frustram o sonho de ser uma nação independente, desenvolvida e de bem-estar para os seus cidadãos”, pode ler-se na Nota Pastoral. “Apesar dos esforços e proclamações na luta contra esta praga social, no país instaurou-se uma cultura de corrupção chegando a pensar-se que é normal, que é assim que as coisas funcionam, que só pode ser assim. Faz-se descaradamente um uso privado dos recursos do país e do património público, pondo os interesses pessoais ou de grupo acima do bem comum.”

E os Bispos fazem por lembrar que a corrupção, aliada à sofreguidão com que se podem encarar os projectos de exploração de recursos naturais, pode dar origem a outros males, a novas injustiças. “A avidez, de que a corrupção é filha, por vezes leva a favorecer grandes projetos económicos de capitais estrangeiros, implantados para extrair recursos naturais sem um real e transparente envolvimento das populações interessadas. Milhares de famílias continuam a ser retiradas de suas terras férteis para dar lugar a esses investimentos, dos quais praticamente não tiram qualquer benefício.”

Os Jovens e o terrorismo

Tudo isto pode ajudar a compreender as razões por que Moçambique enfrenta, desde Outubro de 2017, uma insurreição armada, um constante flagelo sobre as populações, com ataques em aldeias e vilas, a destruição de povoações, a morte de mais de 4 mil pessoas e o dramático número de cerca de 1 milhão de deslocados. E a Igreja alerta, uma vez mais, para o facto de serem jovens moçambicanos que fazem engrossar a fileira dos terroristas que afirmam pertencer ao Daesh, o grupo jihadista Estado Islâmico.

MOÇAMBIQUE: Bispos lembram desigualdades no momento em que começa a exportação do gás na região norte

“É a juventude moçambicana, o presente e o futuro da nação, que sucumbe nestas incessantes ondas de violência. Como já tivemos ocasião de afirmar, reconhecemos que um dos motivos fortes que movem os nossos jovens a se deixarem aliciar e a juntarem-se às várias formas de desvios, assenta na experiência de ausência de esperança num futuro favorável. Para a maioria deles não há oportunidades de se construir uma vida digna.”

Estas palavras ampliam o alerta de D. António Juliasse, Bispo de Pemba, que em entrevista em exclusivo à Fundação AIS em Lisboa, em Setembro, dizia que era preciso perceber as causas que têm levado à adesão dos jovens a estes grupos extremistas. Causas que identificou como sendo a pobreza, a corrupção e a falta de perspectivas de futuro.

O combate aos insurgentes

Os Bispos lembram ainda que ao fim destes cinco anos de terrorismo, e ao contrário de se estar a assistir ao combate eficaz a nível militar a esta ameaça, tem-se visto, isso sim, ao alastramento dos ataques, que ultrapassam já a província de Cabo Delgado chegando às de Niassa e de Nampula. Uma ameaça que tem levado morte e destruição a cada vez mais aldeias no país com o sacrifício de vidas inocentes, como foi o caso da Irmã Maria de Coppi, assassinada a 6 de Setembro no ataque à missão católica de Chipene.

“A continuação deste desumano sofrimento é inaceitável e frustra o sonho de sermos uma nação de paz, concórdia e independente, justa e solidária. Por isso, devemos juntar todos os esforços para encontrar os caminhos de solução a esta desgraça, não confiando unicamente no uso da força militar”, dizem os Bispos moçambicanos na Nota Pastoral publicada a 13 de Novembro e cuja leitura ganha agora uma expressão ainda mais significativa depois de se ter iniciado a exportação do gás na Bacia do Rovuma.

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

Relatório da Liberdade Religiosa

Embora os líderes cristãos e muçulmanos continuem a denunciar a violência e a promover o diálogo inter-religioso, num esforço de deslegitimação do jihadismo, tal será insuficiente se não forem abordadas as desigualdades sociais e económicas subjacentes que afectam os jovens, especialmente nas regiões mais pobres. As perspectivas para a liberdade religiosa continuam a ser desastrosas.

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