MOÇAMBIQUE: “A oração é a única resposta possível” à violência terrorista em Cabo Delgado, diz Bispo de Pemba

D. António Juliasse alerta para aumento da violência em Cabo Delgado. Só nas duas últimas semanas, diz o prelado, “14 pessoas foram decapitadas”. O Bispo de Pemba deixou um emocionante apelo à oração e solidariedade durante a 14ª Assembleia Plenária dos Bispos da África Austral, em Eswatini.

Quase em simultâneo, em Roma, um jovem moçambicano participou no Jubileu dos Catequistas e comoveu também os participantes descrevendo a dura realidade das populações vítimas dos ataques terroristas, em que “muitos irmãos e irmãs cristãos já foram assassinados, igrejas e capelas queimadas, e milhares de pessoas obrigadas a fugir…”

A violência terrorista em Cabo Delgado esteve em foco nos últimos dias em dois acontecimentos relevantes da Igreja Católica: o Jubileu dos Catequistas e a Assembleia Plenária dos Bispos da África Austral.

Em Roma, durante o Jubileu dos Catequistas, que decorreu no Vaticano entre os dias 26 e 28 de Setembro, o testemunho de Paulo Agostinho Manica, oriundo de Moçambique, “emocionou” os participantes na Vigília na Basílica de São Pedro, relatando a dura realidade vivida pela população local, vítima de constantes ataques de grupos armados que desde 2017 têm deixado um enorme rasto de destruição e já provocaram inúmeras mortes e sofrimento.

Na mensagem, enviada também para a Fundação AIS em Lisboa, Paulo Manica diz que este é um conflito “em que homens armados raptam e matam pessoas”, e que “muitos dos nossos irmãos e irmãs cristãos já foram assassinados, igrejas e capelas foram queimadas e milhares de pessoas foram obrigadas a fugir das suas aldeias”.

Deus “não nos deixa desistir”

O catequista da Diocese de Pemba – ele próprio já vivenciou ataques e momentos de enorme crueldade – sublinhou que “por causa desta violência, sacerdotes e religiosas tiveram de abandonar algumas paróquias e refugiar-se em lugares mais seguros pois corriam risco de vida”. Foi o que aconteceu na sua própria paróquia, de São Bento de Palma, palco, em 2020, de ataques constantes. “Desde então, eu sou o responsável por todo o processo de evangelização, pela manutenção da paróquia e pelo alento da fé das pessoas”, descreveu.

O catequista salientou que, apesar das adversidades, os cristãos continuam firmes em Cabo Delgado na missão de evangelizar e levar Cristo Jesus a todos.

Podem perguntar-me: que sinais de esperança vejo no meio de tanto sofrimento? Para mim, o maior sinal de esperança é a certeza de que Deus nos sustenta. É Ele que nos dá força para não nos deixarmos vencer pelo medo e continuar a anunciar a Palavra, mesmo nas situações mais difíceis, enfrentando as distâncias, a preocupação com a família, a falta de recursos materiais, e muito mais. Essa certeza de que Deus está connosco é o que não nos deixa desistir.”

“As mortes nunca pararam”

Praticamente ao mesmo tempo em que em Roma se escutava o lamento do jovem catequista moçambicano, em Manzini, no reino de Eswatini, decorria a 14ª Assembleia Plenária da Associação Inter-regional dos Bispo da África Austral, IMBISA, e também por lá se falou da violência terrorista em Cabo Delgado. Perante os prelados representantes dos países desta região africana, o Bispo de Pemba fez também um comovente apelo à oração e solidariedade para com as vítimas dos grupos armados que desde 2017 já provocaram mais de 6 mil mortos e mais de 1 milhão de deslocados.

D. António Juliasse lamentou que os ataques continuem e que a situação de insegurança seja cada vez mais grave.  “Em cada semana, duas semanas, nos momentos menos intensos, ou a cada dois, três dias, nos momentos mais intensos dos combates ou dos ataques, há mortes, e mortes assim, bárbaras, por decapitação. Isto é uma realidade dura”, explicou, sintetizando a sua intervenção, ao portal de notícias do Vaticano. “O povo vive em constante movimentação, de um lado para o outro, fugindo para as matas, outros fugindo em busca de lugares seguros, como está a acontecer recentemente, por causa dos ataques na vila de Mocímboa da Praia”, referiu.

Sinal da escalada da violência nesta região costeira, a organização Médicos Sem Fronteiras decidiu, no final da semana passada, suspender as suas actividades na zona.

A oração é a força que alimenta o povo

O Bispo de Pemba, membro do Comité Permanente da IMBISA e responsável da Comissão Justiça e Paz da Conferência Episcopal de Moçambique, sublinhou também que o Papa Leão XIV carrega no coração o sofrimento do povo de Cabo Delgado: “O Santo Padre fala de nós com frequência. Ele recorda-nos que o sofrimento do nosso povo é também o sofrimento da Igreja.”

O encontro em Manzini serviu para D. Juliasse lembrar, aos pares da Igreja, as dores do povo pobre de Cabo Delgado que vive atormentado pela violência e guerra. E pediu, tal como o catequista em Roma, a oração de todos.

Não esperamos que se tenha pena de Cabo Delgado, mas que haja, como Igreja, oração em favor de Cabo Delgado, porque eu acredito que [a oração] é a grande força que alimenta o povo cristão que está em Cabo Delgado, alimenta os seus missionários, alimenta religiosos, religiosas e alimenta-me também a mim como pastor.”

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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