Hoje, dia 1 de Dezembro, assinala-se a festa de São Charles de Foucauld, canonizado pelo Papa Francisco no dia 15 de Maio deste ano. O missionário francês, que viveu entre os tuaregues do Saara, na Argélia, foi assassinado em 1916 e é considerado pela Igreja Católica como mártir.
Na região do Saara Ocidental existe hoje uma minúscula, mas activa comunidade cristã. O missionário espanhol Mario León Dorado é o rosto desta Igreja sendo, desde 2013, o Prefeito Apostólico. Ele é responsável pela Catedral de El Aaiún, e pela Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Dakhla, assim como por uma capela no porto de El Aaíun.
Em entrevista a Maria Lozano, directora de informação internacional da Fundação AIS, o padre Léon refere que a maioria dos cristãos que vivem nesta região são migrantes e estão de passagem e muitos têm como objectivo chegar à Península Ibérica. “São migrantes que atravessaram África para chegar às Ilhas Canárias ou à Península Ibérica; ou são estudantes que chegam por três anos para fazer um curso superior e depois voltam para os seus países.” Gente que vem de muitos lugares e com o sonho de uma vida melhor na bagagem.
Como explica Monsenhor Mario León Dorado, o que predomina nesta Igreja no Saara Ocidental são pessoas oriundas de países tão distintos como a Costa do Marfim, Senegal, Camarões, Guiné-Conacri, Quénia, Serra Leoa ou Libéria. “Somos uma Igreja muito pequena, mas pequenina não significa morta ou insignificante. Mas somos pequenos. Ou seja, temos basicamente duas paróquias no Saara Ocidental”, diz o missionário oblato de Maria Imaculada. São as paróquias de El Aaiún e de Dakhla. Trata-se de uma prefeitura apostólica, explica, “porque não reúne as condições para constituir uma diocese. Portanto, não temos bispo…”
O Saara Ocidental é uma região que faz fronteiras com Marrocos, Mauritânia e Argélia e hoje é palco de uma disputa no plano internacional após Espanha ter saído do território em 1975. Neste momento é um território sob domínio marroquino. E o número de cristãos é mesmo muito exíguo.
“Em Dakhla, o número de cristãos varia entre 40 e 60, mas isto muda muito. São, antes de tudo, migrantes que certamente chegam ao Saara para poderem ir às Ilhas Canárias, Espanha, às vezes de barco. Mas há um bom núcleo que fica e está lá há anos, porque em Dakhla podem ganhar dinheiro com a indústria do peixe, os frigoríficos. E assim eles constroem comunidade e nós, como Igreja, queremos construir um lar, uma família, porque todos os migrantes vivem longe de suas famílias, de suas Igrejas de referência”, diz o Prefeito Apostólico.
Para esta missão, para se cumprir este objectivo de ajudar estes cristãos a sentirem-se em casa, foi criado um centro de acolhimento para migrantes, que é gerido pela Caritas e pela congregação do padre León Dorado. “É isto, uma Igreja pequena, mas muito viva, muito viva. A verdade é que é um prazer celebrar aqui a Eucaristia e a fé”, acrescenta. Em El Aaiún, a capital da região, com cerca de 400 mil habitantes, também existe uma pequena comunidade cristã. Mas aqui a realidade é diferente. El Aaiún é uma zona de saída, e não tem indústria nem oferece oportunidades de trabalho. “Por isso, é mais difícil permanecer por muito tempo.” Nesta zona, os cristãos são, sobretudo, estudantes subsarianos que procuram fazer a sua formação profissional superior. “Há também um pequeno grupo das Nações Unidas que tem uma missão desde 1991. As nossas celebrações dominicais podem ter aqui umas 40 ou 50 pessoas. Uma pequena minoria dentro da grande sociedade muçulmana”, diz o missionário espanhol. Também aqui, o objectivo é, mais uma vez, construir família e comunidade.
Para a Igreja há imensos desafios apesar de serem poucos fiéis. Um desses desafios é, por exemplo, dar a conhecer Charles de Foucauld. Falar da sua mensagem, explicar o que significa ser cristão em terras muçulmanas, mostrar o sentido da fé quando se é estrangeiro é uma dessas tarefas. “Acho que Foucauld tem muito para nos dizer e é uma ferramenta, acho que é uma ferramenta do Espírito para que possamos justamente aprender a ser cristãos nesta terra, porque a tentação de todos, inclusive dos nossos irmãos subsaarianos, é copiar as Igrejas, os modelos de Igreja dos seus países e das suas comunidades”, diz Monsenhor Mario León Dorado. “Foucauld é, claramente, um santo para nós, uma inspiração. É um modelo, um exemplo de vida cristã, de carisma, de maneira de ser, de estar e de viver, de missionar, de evangelizar nesta terra”, afirma ainda o Prefeito Apostólico.
Um dos projectos que o missionário espanhol tem em mãos, e que está a ser desenvolvido com o apoio da Fundação AIS, é a decoração dos templos em El Marsa, no Norte, e em Dakhla, no Sul. “Queremos utilizar a decoração das capelas como inspiração e para a catequese dos nossos cristãos, para que possam aprofundar a sua espiritualidade em terras muçulmanas, como é o Saara. Foucauld queria que a Eucaristia estivesse presente no meio dos muçulmanos, e é isso que queremos ser, a presença do corpo de Cristo no mundo muçulmano, em contacto com o mundo muçulmano.”