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LÍBANO: “Não aguentamos mais, somos pobres”, diz Patriarca em encontro em que agradece o trabalho “excelente” da AIS
“A população libanesa já não é o que era. Os libaneses viviam com dignidade, não dependiam de ninguém. O facto é que os nossos políticos tornaram a população pobre, mendigos.” As palavras são do Patriarca maronita Béchara Boutros Raï num encontro, em Beirute, com directores de diversos secretariados nacionais da Fundação AIS, incluindo o de Portugal. O líder da maior igreja cristã libanesa aproveitou a ocasião para agradecer de forma enfática, toda a solidariedade que a Ajuda à Igreja que Sofre tem promovido para com o seu país.
“Quero destacar o que vocês e os vossos benfeitores estão a fazer. É verdadeiramente fantástico! É verdade que não resolve os problemas do Líbano. O problema económico é algo pelo qual o Estado é responsável. Mas os benfeitores praticam solidariedade, fraternidade, comunhão. E os libaneses, garanto-vos, estão muito gratos a todos. Gratos pela vossa proximidade, e por tudo o que estão a fazer”, disse o Patriarca da Igreja maronita.
O encontro serviu para transmitir aos responsáveis da Fundação AIS o sentimento de frustração e de impotência que se sente num país que caminha aceleradamente para uma situação de desastre. Em poucos minutos, Béchara Raï fez o retrato de um Líbano empobrecido em que os seus habitantes se têm vindo a transformar em mendigos. “Os libaneses viviam com dignidade, não dependiam de ninguém. O facto é que os nossos políticos tornaram a população pobre, mendigos. E depois estamos a perder o nosso povo, que emigra. Estamos a ter uma hemorragia migratória”, disse o Patriarca.
“Todos os dias perdemos os nossos melhores médicos, os melhores professores universitários, os melhores engenheiros, os melhores financeiros, porque a perda de valor da libra libanesa contra o dólar destruiu o valor dos salários”, acrescentou. A questão da desvalorização da moeda, sinal da enorme fragilidade em que se encontra a economia, tornou-se dramática para o dia-a-dia das populações. “Imaginem, há 18 meses, que um dólar valia 1.500 libras libanesas, e agora ronda as 25 mil… Os salários perderam o seu valor, e todos ficaram pobres. Todos aqueles que podiam, emigraram”, explicou o Patriarca Raï perante Catarina Martins de Bettencourt e outros directores da Fundação AIS.
No entanto, apesar da crise profunda em que se encontra o Líbano, o país “nunca fechou as suas fronteiras”, nunca fechou as suas portas aos que pediram ajuda. O líder da Igreja maronita fez questão de lembrar que a solidariedade do seu povo não é de agora. “Em 1948, acolhemos os refugiados palestinianos. Na altura, o nosso patriarca enviou uma carta a todos os conventos, escolas e universidades que pertenciam à Igreja Maronita, para lhes abrir as portas, porque eram nossos irmãos necessitados. Deviam ser acolhidos nos conventos, escolas, e em todas as propriedades da Igreja. Isso foi em 1948.
São ainda cerca de meio milhão. Agora, temos mais 1,5 milhões de refugiados sírios, por isso, estamos a cuidar de dois milhões de refugiados…” Dois milhões de refugiados para uma população de cerca de sete milhões de libaneses. Um país que alberga também, em proporção, a maior comunidade cristã do Médio Oriente. Por tudo isto, diz o Patriarca, a ajuda que a Fundação AIS tem vindo a dar à Igreja libanesa é absolutamente essencial. No ano passado, essa ajuda materializou-se em mais de uma centena de projectos que representaram cerca de 5,4 milhões de euros de financiamento.
Projectos que incluem apoio às congregações religiosas no seu trabalho pastoral e social, a disponibilização de ajuda alimentar para famílias particularmente vulneráveis e apoio financeiro aos professores nas escolas cristãs, bem como o pagamento de propinas a alguns dos alunos mais pobres. Por tudo isto, pelo que toda esta ajuda representa de esperança para uma comunidade que atravessa tempos tão difíceis, o Patriarca deixou uma palavra de agradecimento. “Do fundo do meu coração, em nome de todos os libaneses, obrigado!”
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