Sacerdote usa carro todo-o-terreno oferecido pela Fundação AIS não só para chegar às aldeias mais distantes e às populações mais abandonadas, mas também como ambulância. Na sua diocese, uma das mais empobrecidas do país, é comum haver casos de cólera…
O Haiti é um dos países mais pobres do mundo. E também um dos mais violentos. Numa das dioceses remotas e mais empobrecidas, Port-de-Paix, as pessoas têm, muitas vezes de percorrer longas distâncias a pé para coisas tão simples como ir buscar água potável, essencial para o dia-a-dia. Nesta região, que tem uma muito baixa cobertura médica, é comum haver doenças como a cólera, por exemplo, que obrigam a medidas sanitárias e a um cuidado especial com as populações mais fragilizadas, como idosos e crianças. A situação é de tal forma deficitária que o Padre Jean Wilner, responsável pela Paróquia de Santa Bernadette Soubirous de La Visite, tem utilizado o carro todo-o-terreno que a Fundação AIS forneceu à sua diocese té como ambulância.
De facto, a Diocese de Port-de-Paix, à qual pertence a sua paróquia, fundada apenas em 2018, é uma das mais necessitadas deste país já desesperadamente pobre. O carro que a Fundação AIS fez chegar ao Haiti tem ajudado o trabalho da Igreja pois permite que o sacerdote mais facilmente consiga chegar às aldeias e povoações mais distantes, apesar de as estradas estarem, de uma forma geral, em muito mau estado. Até agora, o Padre Wilner não tinha alternativa: ia a pé ao, na melhor das hipóteses, de motocicleta. “O povo tem sede da Palavra de Deus. Graças à vossa ajuda – escreveu o sacerdote numa mensagem de agradecimento enviada para a Fundação AIS –, agora posso visitá-los regularmente. A presença do sacerdote é importante para a evangelização. Muitas vezes sou chamado, mesmo à noite, para visitar os doentes e moribundos e administrar a Unção dos Doentes”, acrescenta o Padre Jean Wilner.
A paróquia é pobre, fica distante, mas tem uma comunidade católica muito activa com cerca de 8.700 fiéis. Existem quatro grupos de jovens e um grupo paroquial de adultos, e o número de baptismos, primeiras comunhões e crismas tem sido muito elevado. Agora, com o novo veículo o Padre Jean intensificar ainda mais a sua acção pastoral. “Por favor, tenham a certeza da nossa gratidão e das nossas orações fervorosas”, disse ainda na mensagem enviada para Fundação AIS. “E um sincero obrigado a todos os que ajudaram!”
Criminalidade e insegurança
A pobreza que caracteriza a Paróquia de Santa Bernadette Soubirous de La Visite é quase uma imagem de marca do Haiti. Mas este não é o único problema grave deste país. Os elevados índices de criminalidade e de insegurança são também muito preocupantes. As Nações Unidas calculam que, somente no ano passado, houve mais de 1,3 mil sequestros neste país caribenho e mais de duas mil pessoas tenham sido assassinadas. Esta situação agravou-se particularmente desde Julho de 2021 com o assassinato do próprio presidente Jovenal Moïse.
Toda esta violência, que está a arrastar ainda mais o Haiti para a pobreza, foi denunciada num encontro, “Noite de Testemunhos”, promovido pela Fundação AIS em França no dia 17 de Janeiro. Na ocasião, a Irmã Marjorie Boursiquot explicou que “todos os dias há assassinatos, violações e roubos”, e que 2021 representa, de alguma forma, um marco neste clima de insegurança. A irmã fala mesmo numa “página negra”. “Assistimos a violência entre gangues a um nível nunca visto, ao assassinato do presidente Jovenal Moïse, a mais um sismo que provocou 2.500 mortos e que é o segundo numa década, a um sistema sanitário à beira do colapso e a uma insegurança alimentar dramática.”
Com o país tomado por grupos armados, ninguém se sente seguro em lugar algum. Nem a Igreja tem escapado a esta onda de violência. “Todos, de alguma forma, são vítimas desta situação. A Igreja tem sofrido casos de rapto”, explicou, recordando o caso da irmã italiana Luiza Dell’Orto, que pertencia às ‘Irmãzinhas do Evangelho’ e que foi assassinada em Junho do ano passado, no decorrer de um assalto em Port-au-Prince. “Ela era realmente uma irmã que deu tudo durante 20 anos ao serviço das crianças pobres num dos bairros da capital. A sua morte chocou-nos a todos…”
A Irmã Marjorie Boursiquot disse ainda que “muitas paróquias situadas em áreas sem lei tiveram de fechar as suas portas devido às ameaças dos criminosos”. E explica que, por vezes, “nalgumas instituições religiosas, os criminosos entram tranquilamente, matam e raptam… É tudo muito complicado, mas não baixamos os braços”.