HAITI: Gangues exigem pagamento de resgate para libertarem missionário sequestrado

HAITI: Gangues exigem pagamento de resgate para libertarem missionário sequestrado

Agrava-se o clima de insegurança com grupos armados a espalhar o terror, não poupando nada nem ninguém, nem sequer a Igreja. “Todos os dias há assassinatos, violações e roubos”, denunciou a irmã salesiana Marjorie Boursiquot, numa iniciativa promovida em França, em Janeiro, pela Fundação AIS. A violência entre gangues atingiu “um nível nunca visto”, disse ainda a religiosa.

O padre claretiano Antoine Christian Noah, congolês, foi raptado por gangues armados faz hoje, terça-feira, 14 de Fevereiro, precisamente uma semana. Estava a caminho da sua comunidade, em Kazal, quando foi capturado. Os criminosos exigem agora o pagamento de um resgate para o libertarem. O sequestro deste missionário é apenas o episódio mais recente de violência contra a Igreja neste país caribenho. Há cerca de um mês, a 14 de Janeiro, uma missão brasileira, onde trabalhavam duas religiosas, foi invadida e saqueada forçando as irmãs a abandonar o local.

Uma das irmãs, Ideneide do Rego, descreveu o violento ataque ao Vatican News. “Um grupo de homens encapuçados e fortemente armados invadiu a nossa casa e dominaram-nos. Eles levaram tudo: além de dinheiro (na moeda local e dólar), levaram também computadores, caixas de som, baterias e tudo que fosse do seu interesse”, disse a irmã, acrescentando: “sempre com as armas apontadas para nós, proferiam ameaças de sequestro e morte, enquanto exigiam dinheiro, ouro e dólar americano. Às 22h00 do mesmo dia, um segundo gangue, ainda mais violento, chegou até nós, exigindo que abríssemos o portão de entrada, disparando muitas vezes, e deixando-nos muito apavoradas”, relatou a irmã.

No dia seguinte, logo de manhã, as religiosas brasileiras conseguiram fugir e sair do bairro com a ajuda de vizinhos e das voluntarias do projecto que estavam a promover. Toda esta violência, que está a arrastar ainda mais o Haiti para a pobreza, foi denunciada também num encontro, “Noite de Testemunhos”, promovido pela Fundação AIS em França no dia 17 de Janeiro.

No encontro, a Irmã Marjorie Boursiquot explicou que “todos os dias há assassinatos, violações e roubos”, e que 2021 representa, de alguma forma, um marco neste clima de insegurança. A irmã fala mesmo numa “página negra”. “Assistimos a violência entre gangues a um nível nunca visto, ao assassinato do presidente Jovenal Moïse, a mais um sismo que provocou 2500 mortos e que é o segundo numa década, a um sistema sanitário à beira do colapso e a uma insegurança alimentar dramática.”

Com o país tomado por grupos armados, ninguém se sente seguro em lugar algum. Nem a Igreja tem escapado a esta onda de violência. A irmã Boursiquot falou também disso no encontro promovido pela Fundação AIS em Paris, na Igreja de Saint-Sulpice. “Todos, de alguma forma, são vítimas desta situação. A Igreja tem sofrido casos de rapto”, explicou, recordando o caso da irmã italiana Luiza Dell’Orto, que pertencia às ‘Irmãzinhas do Evangelho’ e que foi assassinada em Junho do ano passado, no decorrer de um assalto em Port-au-Prince. “Ela era realmente uma irmã que deu tudo durante 20 anos ao serviço das crianças pobres num dos bairros da capital. A sua morte chocou-nos a todos…”

A Irmã Marjorie Boursiquot disse ainda que “muitas paróquias situadas em áreas sem lei tiveram de fechar as suas portas devido às ameaças dos criminosos”. E explica que, por vezes, “nalgumas instituições religiosas, os criminosos entram tranquilamente, matam e raptam… É tudo muito complicado, mas nos não baixamos os braços”.

Esta crise de insegurança agravou-se com o assassinato do presidente Jovenal Moïse, em Julho de 2021, altura em que as principais cidades do país foram tomadas pelo caos e violência, com grupos armados a imporem a lei do mais forte. Segundo Helen la Lime, chefe da missão da ONU no Haiti, em declarações em Janeiro, somente no ano passado houve mais de 1,3 mil sequestros no Haiti e mais de duas mil pessoas foram assassinadas.

A Fundação AIS apoia diversos projectos da Igreja no Haiti, com destaque para a recuperação de Igrejas e edifícios paroquiais que foram destruídos no sismo de 2021, especialmente nas dioceses de Jérémie, Anse-á-Veau, e Las Cayes, que foram as mais atingidas. Só na Diocese de Jérémie, por exemplo, 6 em cada 10 igrejas ficaram destruídas ou muito danificadas, nomeadamente a própria catedral de São Luís.

Além disso, a Ajuda à Igreja que Sofre tem prestado também uma atenção muito especial à vida e às necessidades das congregações presentes no país e que, apesar das dificuldades e dos perigos, continuam a ser um sinal de esperança num futuro melhor. É o caso, por exemplo, das Irmãzinha de Santa Teresa do Menino Jesus, uma congregação fundada em 1948 no Haiti e que está presente em todas as dioceses especialmente nas zonas mais rurais e subdesenvolvidas. A Fundação AIS está apostada em ajudar a congregação na formação de 106 jovens, para sonham com a vida religiosa e desejam entregar as suas vidas ao serviço dos mais necessitados.

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

Relatório da Liberdade Religiosa

O Haiti está à deriva em direcção a tornar-se um Estado falhado. A crise política e económica alimentou um aumento da violência dos gangues territoriais, provocando uma crise social e humanitária catastrófica. Os raptos para exigir resgate, incluindo do clero, e os assassínios relacionados com gangues aumentaram exponencialmente. A insegurança generalizada do país tem afectado todos os direitos fundamentais, incluindo a liberdade religiosa.

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