A Ilha de Mindanao, que tem sido palco de violência e tensão inter-religiosa ao longo das últimas décadas, em resultado da actuação de diversos grupos radicais islâmicos, vai acolher um programa especial de formação durante o próximo mês de Junho. Um programa destinado a catequistas e outros líderes católicos leigos e que tem o apoio da Fundação AIS.
Domingo, 3 de Dezembro de 2023. Uma bomba explode durante uma missa católica no ginásio da Universidade Pública de Mindanao, na cidade de Marawi, sul das Filipinas. Quatro fiéis morrem e mais de 40 ficam feridos. O atentado foi reivindicado por um grupo afiliado à organização jihadista Estado Islâmico.
O local e a data não foram escolhidos ao acaso. A missa marcava o primeiro domingo do Advento, período em que os cristãos se preparam para celebrar o Natal e grande parte da comunidade estava ali presente. Normalmente, aos domingos, costumam participar na missa entre 300 a 400 pessoas. Como se tratava de um domingo especial, o número de fiéis era ainda maior.
Arlene Francisco, 48 anos, secretária do capelão e da comunidade católica universitária de Marawi, estava presente na missa quando a bomba explodiu. “Vi uma grande faísca e depois um ‘boom’, tudo aconteceu do meu lado direito, a três ou quatro metros de onde estava sentada.” Por sorte, Arlene escapou ilesa à explosão, tal como os seus 3 filhos, que, como acólitos, se encontravam na altura junto ao altar, mas algumas das pessoas que estavam perto de si não sobreviveram.
Numa breve mensagem enviada para a Fundação AIS, em Lisboa, dias depois do atentado terrorista, Arlene explicou que ficou em estado de choque. E com medo.
A partir de agora, estamos a tentar seguir em frente, na esperança de que nenhum atentado aconteça novamente no futuro. Não consigo dormir bem e praticamente não consigo comer… por favor rezem por nós.”
Arlene
FORTALECER A FÉ DA COMUNIDADE CATÓLICA
O que aconteceu em Dezembro é exemplo da tensão inter-religiosa e da violência que caracteriza desde há décadas a vida em Mindanao. Esta ilha, embora maioritariamente católica, tem uma forte comunidade islâmica.
É aqui que vai acontecer, já no próximo mês de Junho, no Colégio Emaús de Teologia, uma iniciativa da Igreja destinada a catequistas e outros líderes católicos leigos. O objectivo do programa, que é apoiado pela Fundação AIS, é preparar os catequistas e todos os participantes para melhor difundir e fortalecer a fé das comunidades católicas, capacitando para o diálogo inter-religioso com a população muçulmana da ilha.
Organizado pelo Movimento Diálogo de Emaús, este programa procura dar resposta a algumas das questões que se colocam localmente quando se fala em diálogo inter-religioso. O Movimento Emaús foi criado no âmbito do movimento Silsilah, fundado há quatro décadas pelo padre Sebastiano D’Ambra. A data assinala-se este ano. Com o tempo, o Padre D’Ambra apercebeu-se de que a comunidade católica também precisava de uma melhor formação na fé e o Movimento Diálogo de Emaús nasceu precisamente para responder a este desafio.
Actualmente, há muita confusão e desânimo na Igreja. Muitos tornam-se muçulmanos, aderem a outras denominações cristãs ou abandonam completamente a fé. Planeamos fazer um curso muito abrangente e intensivo que ajudará os participantes a estarem bem preparados para serem líderes, catequistas ou professores de religião.”
Padre Sebastiano D'Ambra
“Pedimos aos bispos e aos padres para selecionarem os catequistas que participarão no curso, com o objectivo de o replicarem depois, e estamos a oferecê-lo gratuitamente. Isto desafia-nos a apresentar este curso de uma forma criativa e a fornecer material útil aos participantes”, acrescentou o missionário italiano.
O curso é também uma forma de se comemorar os 40 anos do Movimento Silsilah. A Fundação AIS é parceira deste movimento há mais de duas décadas.
Paulo Aido e Filipe D’Avillez
Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt