EGIPTO: “Precisamos começar a construir mais igrejas”, diz Arcebispo Ibrahim Sidrak, Patriarca de Alexandria

Os cristãos do Egipto – os coptas – têm hoje mais liberdade de culto do que há uns anos, quando o país esteve dominado pela Irmandade Muçulmana. Segundo o Patriarca de Alexandria, agora que o governo levantou restrições para a construção de novas igrejas é preciso avançar com os projectos existentes. E um bom exemplo disso é mesmo a reconstrução da Catedral de Luxor, incendiada em 2016, e que está a ser restaurada com o apoio da Fundação AIS…

Nos dias 23 e 26 de Abril, as aldeias de Al-Fawakher e de Al-Koum, ambas na província de Minya, foram alvo de ataque por parte de multidões de muçulmanos enfurecidos com a ideia da construção de igrejas cristãs nestes lugares. Apesar deste episódio que passou relativamente despercebido, e em que algumas casas e propriedades de cristãos foram destruídas, a verdade é que os coptas – como são conhecidos os cristãos egípcios –, vivem hoje uma maior liberdade de culto em contraste com os tempos duros, de 2012 até ao início de Julho de 2013, em que a Irmandade Muçulmana governou o país. Isso mesmo é assumido pelo Arcebispo Ibrahim Sidrak. O Primaz dos Coptas do Egipto, líder da pequena Igreja Católica Copta, que conta com apenas cerca de 300 mil fiéis, falou recentemente com o secretariado francês da Fundação AIS.

Uma entrevista em que foi revisitado o período terrível em que os radicais islâmicos liderados por Mohamed Morsi chegaram ao poder. “Durante o Governo de Mohamed Morsi, os ataques contra os Coptas dispararam”, explicou o Arcebispo. “Foi terrível, mas felizmente de curta duração. Penso que os Egípcios disseram a si próprios, em 2012, quando foram votar, que nunca tinham dado uma oportunidade à Irmandade Muçulmana e que tinham de tentar. Não voltarão a cometer o mesmo erro”, garante o prelado. Apesar de afastado do poder, a sombra dos radicais muçulmanos permanece. Para o Primaz dos Coptas do Egipto, “este tipo de movimentos nunca morre, mas o actual Governo está a levar a ameaça muito a sério e eles já não dominam a sociedade egípcia”, explica. “Quando eles detinham todo o poder, em 2012 e 2013, era muito arriscado para um cristão andar sozinho na rua”, recorda o Arcebispo. “As nossas igrejas foram ameaçadas e centenas foram incendiadas! Agora vivemos em relativa segurança. Há fanáticos e terroristas, como em todo o lado, mas estão controlados”, acrescenta.

Agora que o Governo levantou os obstáculos à construção de novas igrejas, todas as dioceses têm projectos de construção. As igrejas são o coração das nossas comunidades e são de difícil acesso para muitos paroquianos."

O PAPEL DA IGREJA NA SOCIEDADE

De facto, tal como refere o mais recente Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, editado pela Fundação AIS no ano passado, há ainda sinais inquietantes na sociedade egípcia. O documento fala mesmo em “realidade contrastante”. “Discriminados pela lei, e não gozando dos mesmos direitos que os seus concidadãos muçulmanos, os Cristãos são frequentemente vítimas de ataques e crimes”, pode ler-se no documento. “As vítimas também relatam que, na maioria dos casos, as forças policiais não intervêm nos ataques contra os coptas. Embora os seus agressores beneficiem de impunidade legal, são frequentemente os coptas que são presos”, afirma-se ainda. A somar a esta incerteza, há a questão da crise económica que atravessa o Egipto e que está a atingir especialmente os mais jovens que enfrentam dificuldades no acesso ao mundo do trabalho.

Mas nem tudo é negativo. “Sim, estamos a passar por dificuldades, nomeadamente o desemprego dos jovens. Temos uma demografia impressionante! Todos os anos nascem dois milhões de egípcios! E o mercado de trabalho não está a acompanhar. Muitos jovens são afectados pelo desemprego, o que gera frustração. Também recebemos muitos migrantes de países em guerra. Já recebemos sírios e agora são os sudaneses que vêm ter connosco em busca de refúgio”, esclarece o Arcebispo. Face a esta realidade, a Igreja Católica Copta tem-se mobilizado não só no acolhimento aos migrantes mas também no reforço do seu papel social, especialmente na educação e na saúde. “Acolhemos alguns destes migrantes da melhor forma possível. De uma maneira geral, a Igreja Católica Copta desempenha um papel caritativo na sociedade egípcia, nomeadamente através das suas escolas, hospitais e dispensários. Existem 180 escolas católicas coptas e têm uma boa reputação. Muitos muçulmanos querem mandar os seus filhos para estas escolas e alguns membros do Governo passaram por elas. Isto não só ajuda a educar o nosso povo, mas também a mantê-lo unido, apesar das diferenças religiosas”, explica o Primaz.

RECONSTRUÇÃO E CONSTRUÇÃO DE IGREJAS

É neste contexto que a Igreja vive também a urgência da construção de novos templos, apesar de, como se viu agora em Abril, por vezes a simples existência de um lugar de culto ou o rumor da sua construção, pode ser gerador de conflitos violentos e incompreensões entre comunidades. Mas para D. Ibrahim Sidrak é mesmo preciso “começar a construir mais igrejas”. E dá o exemplo da catedral de Luxor, consumida pelas chamas em Abril de 2016 – incêndio cuja origem permanece desconhecida –, e cuja reconstrução tem sido apoiada pela Fundação AIS. “Agora que o Governo levantou os obstáculos à construção de novas igrejas, todas as dioceses têm projectos de construção. As igrejas são o coração das nossas comunidades e são de difícil acesso para muitos paroquianos. Aqueles que vivem longe têm de gastar até um quarto do seu salário para poderem levar a sua família de autocarro à igreja para a Missa de Domingo”, disse o prelado, concluindo a sua observação com o exemplo concreto da catedral de Luxor. “Um dos exemplos mais emblemáticos da sede de reconstrução dos Católicos coptas é a nossa catedral de Luxor, que foi incendiada. Em breve será completamente restaurada, graças, nomeadamente, ao apoio da Fundação AIS”, concluiu.

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

Relatório da Liberdade Religiosa

A intolerância social profundamente enraizada e a discriminação institucionalizada contra não muçulmanos, ou aqueles considerados como muçulmanos desviados continuam a ser um grave problema social. Além disso, aqueles que estão fora das religiões monoteístas tradicionais, ou não reconhecidas oficialmente, enfrentam desafios assustadores, tais como atitudes sociais negativas e políticas governamentais contraditórias.

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