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EGIPTO: “Infelizmente, ainda há muitas pessoas que consideram os Cristãos como cidadãos de segunda”, diz Bispo de Assiut
No entanto, apesar de “a maior parte da população se ter tornado mais tolerante para com os não-muçulmanos”, a verdade é que ainda há muito a fazer para um relacionamento correcto entre religiões.
Quem o diz é o Bispo Copta Católico de Assiut. Em entrevista à Fundação AIS, D. Kyrillos Samaan reconhece que, “infelizmente, ainda há muitas pessoas que consideram os cristãos como cidadãos de segunda classe”.
Para o bispo, “vai levar tempo” até se conseguir mudar a mentalidade das pessoas num país onde cerca de 90% da população é muçulmana. Os cristãos, que representam apenas cerca de 9%, são preteridos no acesso ao ensino superior, à administração pública e até às Forças Armadas.
“Os cristãos estão sub-representados nas universidades”, diz D. Kyrillos, acrescentando que isto acontece “não só ao nível do número de estudantes, mas sobretudo entre os docentes e a administração da universidade”. “De vez em quando, é nomeado um Cristão”, reconhece o prelado, mas é “mero espectáculo”, pois nada de importante tende a mudar.
“De modo geral – diz ainda o Bispo de Assiut, “os cristãos são geralmente preteridos mesmo quando são igualmente qualificados. É também o caso da administração pública ou do exército…”
Esta realidade de subalternização da comunidade cristã acontece ainda apesar dos esforços do actual presidente, o marechal Al-Sisi, que chegou ao poder através de um golpe de estado, em 2013, afastando o presidente Morsi da Irmandade Muçulmana, e fazendo-se eleger já em duas eleições consecutivas, em 2014 e em 2018, onde obteve cerca de 97 % dos votos.
“Tem de haver uma mudança de mentalidade”, explica o Bispo de Assiut. “O Presidente Sisi fala frequentemente da igualdade de todos os egípcios. Isto é importante. Comparados com a nossa situação durante a presidência de Mohamed Morsi da Irmandade Muçulmana, estes tempos sob Sisi são dourados para nós, cristãos. Quando uma mesquita é construída numa cidade nova, ele pergunta sempre quando é que uma igreja será construída ao lado dela. Ele afirma frequentemente que todos – judeus, cristãos e muçulmanos – devem ser autorizados a praticar a sua religião livremente e a construir locais de culto.”
A questão da construção e legalização de novas igrejas é de facto muito sensível pois tem servido como pretexto para ataques de grupos radicais, nomeadamente na região do Sinai.
O último Relatório sobre a Liberdade Religiosa, editado pela Fundação AIS, dá conta desta realidade e traça o histórico do problema, recordando que o parlamento do Egipto adoptou uma nova lei sobre a construção e renovação de Igrejas em 2016. Mas isso não impediu que os ataques continuassem.
“No entanto – pode ler-se no documento –, a escalada de ataques e obstáculos administrativos, e o fracasso do Estado em conter a violência social contra os cristãos quando estes tentam construir, restaurar ou apenas fazer reconhecer as suas igrejas revela um enorme fosso entre a lei e a vida quotidiana.”
“Mais preocupante – refere ainda o Relatório da Fundação AIS – é o facto de as agências de segurança terem falhado repetidamente em proteger os coptas e prevenir ataques contra as igrejas e as propriedades coptas.”
PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt