Os 21 mártires coptas assassinados por jihadistas numa praia da Líbia em 2015 vão ser incluídos no martirológico católico, como sinal também do diálogo ecuménico entre os cristãos. A decisão foi anunciada pelo Papa Francisco durante um encontro com o chefe da Igreja Ortodoxa Copta.
Foram decapitados há vinte e oito anos numa praia da Líbia por jihadistas do ‘Estado Islâmico’. Eram vinte trabalhadores cristãos egípcios e um ganês. Todos humildes operários que se encontravam na Líbia procurando ajudar as parcas economias domésticas. Todos eles foram capturados por um comando jihadista e degolados posteriormente numa encenação quase hollywoodesca divulgada através das redes sociais pelos terroristas.
As imagens do martírio destes cristãos correram mundo e mostraram a barbaridade do crime que estava a ser cometido, mas, em simultâneo, revelaram também a fidelidade destes homens até ao último momento das suas vidas. No vídeo pode ver-se que alguns destes simples operários estavam a rezar e a dizer “Jesus Cristo” no momento da bárbara execução. O vídeo da decapitação foi divulgado no dia 15 de Fevereiro desse ano de 2015, data passou a ser, por decisão do Patriarca Copta Ortodoxo Tawadros II, de memória deste martírio. Agora, o Papa Francisco decidiu que estes vinte e um cristãos coptas decapitados na costa da Líbia serão incluídos no martirológio católico.
“Baptizados com o sangue”
O anúncio ocorreu na quinta-feira da passada semana, dia 11 de Maio, durante um encontro no Vaticano entre o Papa e o Patriarca Tawadros II, líder da Igreja Copta-Ortodoxa, do Egipto. “Tenho o prazer de anunciar hoje que, com o consentimento de Vossa Santidade, estes 21 mártires serão incluídos no Martirológio Romano como sinal da comunhão espiritual que une as nossas duas Igrejas”, disse o Santo Padre. Francisco Já se tinha referido publicamente aos mártires cristãos assassinados na Líbia por mais de uma vez. No ano passado, por exemplo, no dia 15 de Fevereiro, data em que se assinala o crime, o Papa referiu-se a eles como verdadeiros heróis da fé por terem testemunhado Jesus com a própria vida. “É verdade que existe uma tragédia, que essas pessoas deixaram suas vidas na praia; mas também é verdade que a praia foi abençoada pelo seu sangue. Mas é mais verdade ainda que da sua simplicidade, da sua fé simples, mas coerente, receberam o maior dom que um cristão pode receber: o testemunho de Jesus Cristo a ponto de dar a vida.” E referiu-se a eles, aos “vinte e um homens baptizados cristãos com a água e o Espírito, e naquele dia baptizados também com o sangue”, como Santos. “São os nossos Santos, Santos de todos os cristãos, Santos de todas as confissões e tradições cristãs. Eles são aqueles que lavaram suas vidas no sangue do Cordeiro, são aqueles … do povo de Deus, do povo fiel de Deus.”
Mais mártires não-católicos
Esta não foi a primeira vez que não-católicos são incluídos pela Igreja Católica na lista do martirológico romano. Segundo o ‘site’ do Vaticano, em 2001, alguns santos das Igrejas Ortodoxas e Ortodoxas Orientais, que viveram após a separação das Igrejas, foram incluídos – Teodósio e Antônio de Pecherska (século XI), Estêvão de Perm’ e Sérgio de Radonezh ( XIV) e o santo arménio Gregório de Narek (século X) foi proclamado Doutor da Igreja pelo Papa Francisco em 2015. O encontro entre o Papa e Tawadros II assinalou o 50º aniversário do encontro entre o Papa São Paulo VI e o Shenouda III, Patriarca da Igreja Ortodoxa Copta, em 1973.