Abdul-Baqi e a família converteram-se ao cristianismo no Iémen mas tiveram de fugir do país em 2014 devido às ameaças que passaram a receber. Estão no Egipto como requerentes de asilo mas as autoridades prenderam Abdul acusando-o de terrorismo. Na prisão desde 2021, decidiu agora entrar em greve de fome… O mais recente relatório da Fundação AIS sobre a liberdade religiosa no mundo publicado no ano passado já identifica este caso…
Abdul-Baqi Saeed Abdo, 54 anos, está preso no Egipto há mais de dois anos e meio. As autoridades acusam-no de pertencer a um grupo terrorista e também de denegrir publicamente o Islão. O caso deste homem que agora decidiu entrar em greve de fome foi noticiado pelo jornal Alfa&Omega, uma publicação católica vinculada ao Arcebispado de Madrid.
“Estou a fazê-lo porque fui detido sem qualquer justificação legal. Não fui condenado e não fui libertado da prisão preventiva, que terminou há oito meses”, explica Abdul Abdo numa carta citada pelo jornal e publicada pela Alliance Defending Freedom International, organização que abraçou a sua causa.
Na referida carta, Abdul, que é também pai de cinco filhos, diz que reza a Deus para que proteja toda a sua família. A história deste cristão remonta ao ano de 2014 quando foi obrigado, juntamente com a sua família, a fugir do Iémen depois de terem sido alvo de ameaças e ataques por se terem convertido ao cristianismo. No Egipto adquiriram o estatuto de requerentes de asilo registados pelo ACNUR, a agência para os refugiados das Nações Unidas.
Entretanto, em 15 de Dezembro de 2021, Abdul seria detido em sua casa, no Cairo, a capital do Egipto, depois de ter partilhado nas redes sociais pormenores da sua conversão do Islão ao Cristianismo e de se ter oferecido para ajudar outras pessoas na mesma situação. No entanto, as autoridades acusaram-no de terrorismo. Segundo o jornal, durante as duas primeiras semanas após a sua detenção a família não teve sequer notícias dele.
CASO REPORTADO PELA FUNDAÇÃO AIS
O assunto já ultrapassou fronteiras e chegou inclusivamente ao conhecimento da Comissão dos Estados Unidos para a Liberdade Religiosa Internacional – comissão federal do governo dos EUA que aconselha o presidente e o Congresso sobre questões relacionadas com a liberdade religiosa.
A Comissão constata que, ao longo destes anos de detenção, o seu estado de saúde se tem vindo a deteriorar, uma vez que as autoridades não lhe proporcionaram os cuidados médicos adequados para os seus problemas cardíacos e hepáticos.
O relatório sobre Abdul Abdo documenta dois episódios recentes. Em Abril, as autoridades penitenciárias recusaram-se a prestar-lhe assistência – ele está detido na prisão de Al Qanater 1, no norte do Cairo – quando comunicou uma dor no peito, e em Maio foi colocado em regime solitário depois de outro prisioneiro o ter denunciado por ter escrito frases da Bíblia num papel. Enquanto esteve detido, não lhe foram permitidas visitas familiares e foi impedido de tomar banho ou a mudar de roupa.
Por sua vez, a Amnistia Internacional afirma que as acusações contra este cristão são forjadas e que ele está detido “apenas por exercer os seus direitos à liberdade de expressão, crença e consciência”, podendo vir a ser deportado para o seu país de origem, o Iémen, “onde a sua vida poderá estar em risco”. “Poderá mesmo ser condenado à morte ou executado por grupos radicais”, afirma a organização.
O caso deste homem que se converteu ao Cristianismo também já foi assinalado pela Fundação AIS que divulga mesmo com algum detalhe as ameaças que o levaram, assim como à sua família, a fugir do Iémen em 2014.
No mais recente Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, publicado no ano passado pela AIS, pode ler-se que a ONG “Iniciativa Egípcia para os Direitos Pessoais” [EIPR] já tinha emitido “uma advertência relativa à considerada deportação do cristão convertido e requerente de asilo iemenita Abdul-Baqi Saeed Abdo”.
No documento sumariza-se que Abdul estava detido “em prisão preventiva na pendência de acusações de ‘adesão a um grupo terrorista […] e de desprezo pela religião islâmica’”, e que tinha pedido asilo no Egipto depois de escapar “a um atentado contra a sua vida no Iémen, e do assassinato da sua mulher, após a sua conversão ao Cristianismo”.
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt