BURQUINA FASSO: “O mal não terá a última palavra”, diz sacerdote sobre a violência contra os cristãos no seu país

BURQUINA FASSO: “O mal não terá a última palavra”, diz sacerdote sobre a violência contra os cristãos no seu país

O exército ou grupos de voluntários têm de proteger as igrejas aos domingos para que os cristãos possam rezar sem perigo. As enfermeiras católicas disfarçam-se de muçulmanas para poderem ir às aldeias tratar dos doentes. As raparigas cristãs têm de ir para a escola com o rosto coberto, para não serem raptadas. Os cristãos estão sob uma ameaça real de grupos jihadistas que querem impor o Islão à força no Burquina Fasso. É preciso muita coragem para resistir, como explicou o Padre Wenceslao Belem na Catedral de Almudena, em Madrid, num evento organizado pela Fundação AIS…

“Desde os primeiros ataques em 2015, os Cristãos já não podem exercer livremente o seu direito à liberdade religiosa.” As palavras do Padre Wenceslao Belem na Catedral de Almudena, em Madrid, não podiam ser mais explícitas. Convidado para uma vigília de oração organizada em Fevereiro pelo secretariado espanhol da Fundação AIS, este sacerdote falou de um país em que os cristãos vivem amordaçados, sem liberdade, sujeitos a uma violência brutal por parte de grupos jihadistas que querem impor o Islão como a única religião e que, aos poucos, vão submetendo a sociedade às suas regras, às suas imposições. “Desde que o terror começou, mais de 2 mil escolas foram encerradas. Atacam escolas modernas transformando-as em escolas corânicas; atacam igrejas católicas matando ou raptando cristãos, especialmente catequistas, padres e outros leigos empenhados; e querem impor o uso de véus de rosto inteiro a todas as mulheres, independentemente da religião. Muitas raparigas cristãs têm de ir à escola com o véu para evitarem ser marcadas, caluniadas, espancadas ou mesmo raptadas…”

A ameaça não podia ser mais explícita. É a tal ponto que, contou o Pe. Wenceslao Belem, perante uma audiência atenta, “aos domingos e dias de festa, a polícia, os militares ou voluntários, cercam as igrejas para que possamos rezar e celebrar a Santa Missa sem perigo”. “Nas estradas que conduzem às aldeias, os terroristas colocam minas explosivas para nos impedir o acesso a nós e aos militares. Assim, podem continuar a isolar as populações que sofrerão fome e necessidade se não se converterem ao Islão. Ir às aldeias e dar assistência pastoral às populações já é muito perigoso. Temos de rezar muito, receber os sacramentos, a confissão, antes de irmos dar assistência pastoral no caso de não regressarmos…”

Histórias de terror jihadista
Todo o seu depoimento foi assim, descrevendo um país que caiu nas malhas do terror jihadista que já galgou fronteiras e que acontece também em muitos dos países com que tem fronteiras, como é o caso do Mali, Níger ou Benim, por exemplo. A maioria da população do Burquina Fasso é muçulmana, cerca de 60%. Os católicos são menos de metade [cerca de 19%], e cada vez mais são forçados a assistir à missa através da rádio, pois o acesso às igrejas, às paróquias pode ser já quase impossível. “Agora, com a rádio diocesana transmitimos a Missa, damos catequese e temos programas sobre a liberdade religiosa”, explicou o Pe. Wenceslao. “Hoje em dia, no Burquina, há mais de 4600 escolas encerradas, muitas paróquias fechadas e mais de 1.700.000 deslocados internos”, acrescentou. Contrariar a ameaça jihadista requer coragem e até imaginação. É o caso das enfermeiras que se fazem passar por muçulmanas para continuarem a acompanhar os seus doentes, as pessoas que precisam de cuidados médicos e que estão, tantas vezes, sem quaisquer recursos nas suas aldeias. “Quando vemos enfermeiras católicas que se confiam à misericórdia de Deus, se disfarçam de muçulmanas e vão às aldeias, atravessando zonas perigosas, passando por terroristas para salvar vidas, para cuidar de pessoas doentes que não puderam fugir, é encorajador e dizemos que é Deus quem salva”, disse também o Pe. Wenceslao.

Igreja viveiro de mártires
O testemunho deste sacerdote ficou marcado também pela história do Pe. Jacques Yaro Zerbo, assassinado no dia 2 de Janeiro deste ano. Morreu quando se dirigia para uma aldeia para o funeral de um catequista. “Devia ir com um paroquiano, mas no último minuto decidiu ir sozinho. No caminho, os terroristas detiveram-no. Conhecendo-o e sabendo que devido à sua fé católica ele não se deixava intimidar, levaram-no a poucos metros da capela da aldeia, mataram-no a tiro e foram-se embora com o seu carro. Os cristãos ouviram o barulho, foram ver e descobriram que era o Pe. Jacques Zerbo.” Tal como com este sacerdote, que “deu a vida por permanecer fiel a Cristo”, a Igreja do Burquina Fasso começa a ser um viveiro de mártires. E alguns deles foram lembrados na Catedral de Almudena, em Madrid. “Em Março de 2019, o Pe. Joel Yougbare, pároco de Djibo na Diocese de Dori, foi raptado e não temos notícias dele até hoje; em Maio do mesmo ano, o vigário paroquial Simeon Yampa e outros cinco paroquianos foram assassinados durante uma Missa dominical. Em 2021, outro sacerdote, Rodrigues Sanou, e um sacerdote missionário espanhol, Antonio Cesar Fernandez, também foram mortos. Outros paroquianos foram raptados, alguns foram libertados, outros não.”

“Obrigado, AIS”
Todos eles são hoje recordados com saudade mas também na certeza de que as suas vidas não foram em vão. O Pe. Wenceslao Belem agradeceu a ajuda que a Fundação AIS tem dado à Igreja perseguida do seu país e deixou a certeza de que os cristãos do Burquina Fasso vão resistir à violência e ao terrorismo com a única arma possível: a oração e o espírito de paz. “Obrigado à Ajuda à Igreja que Sofre que apoia projectos de resiliência, de apoio alimentar, de diálogo islamo-cristão, de formação de sacerdotes para melhor servir o povo de Deus perseguido pela sua fé, e de formação de jovens, ensinando-lhes ofícios dignos para ganharem o seu sustento. Estamos convencidos de que o mal não terá a última palavra. Continuaremos com esperança a lutar contra o terrorismo com a nossa única ‘Kalashnikov’, a nossa arma invisível, mas muito eficaz: a oração, a recepção dos sacramentos na Santa Missa e o Terço. Morrer por amor a Deus e aos outros destrói as raízes das forças do mal.” E terminou a sua intervenção pedindo a todos para rezarem pela conversão dos que semeiam o terror, dos que espalham a morte e a destruição. “Somos uma Igreja perseguida, mas não esquecida, graças a vós. Sabemos que nos apoiam com a oração. Com Deus há sempre salvação!”

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

Relatório da Liberdade Religiosa

Apesar dos esforços dos líderes religiosos para reforçar a coesão social e a tolerância religiosa, os grupos jihadistas estão a avançar e a ganhar poder. Medidas radicais impostas por falta de segurança, por exemplo o encerramento de escolas e capelas católicas, têm sido implementadas.

Sem um envolvimento local e internacional significativo, as perspectivas de liberdade religiosa no Burquina Fasso a curto, e talvez a longo prazo, permanecem negativas.

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