BURQUINA FASSO: Bispo lembra sacerdote raptado há 6 anos e de quem “ainda não temos qualquer notícia”

O Padre Joël Yougbare está desaparecido desde que foi raptado na manhã de 17 de Março de 2019. Desconhece-se onde está, o que lhe aconteceu desde então. Mas a Igreja não o esquece e todos os dias se reza no Burquina Fasso por este sacerdote que, muito provavelmente, foi raptado pelos terroristas que controlam ou condicionam até 40 por cento do território deste país de África. Num depoimento à Fundação AIS Internacional, o Bispo de Kaya recorda o sacerdote esperando que o seu sofrimento não seja em vão…

Desaparecido há 6 anos, na manhã de 17 de Março de 2019, depois de ter ido celebrar missa em Bottogui, continua a desconhecer-se o que aconteceu com o Padre Joël Yougbare. Provavelmente terá sido raptado por homens armados junto à aldeia de Sergosoma, onde alguns moradores o viram pela última vez quando se dirigia já para casa, para Djibo, onde era pároco.

Depois de dado o alerta do seu desaparecimento pela Igreja, as forças de segurança lançaram uma operação de busca, mas sem resultado prático. Desde então, desde há seis anos, não se sabe onde está o Padre Yougbare e o que lhe aconteceu. Mas a Igreja não o esquece e todos os dias se reza no Burquina Fasso por este sacerdote.

Num depoimento à Fundação AIS Internacional, o Bispo de Kaya recorda o sacerdote e diz esperar que o seu sofrimento não seja em vão… “Não temos qualquer notícia”, lamenta. “Mas rezamos por ele e imaginamos o sofrimento pelo qual poderá estar a passar, como o de todos aqueles que foram e que são raptados”, acrescenta D. Théophile Nare, referindo-se a todos os que são vítimas de sequestro e de violência terrorista no Burquina Fasso. “Rezamos para que o Senhor os assista no seu sofrimento”, diz ainda o Bispo, que também não se esquece da família do sacerdote.

A ANGÚSTIA DA FAMÍLIA

“Quando pensamos no Padre Joël, pensamos também na sua família.  É algo de terrível que eles viveram e continuam a viver. E não apenas sua família natural, mas também os seus irmãos de Dori e de Fada, porque ele é um sacerdote [da Diocese] de Fada, que veio como padre Fidei Donum para Dori”, afirma D. Théophile Nare. De facto, deve ser profunda a angústia dos pais, de toda a família do padre Joël. A falta de informações ao longo destes anos permite imaginar todos os cenários, mas também toda a esperança. Uma esperança que é alimentada pelas orações dos cristãos do Burquina Fasso que todos os dias pedem a Deus por Joël Yougbare.

“A Diocese de Fada organizou várias vezes orações, missas e novenas, para ele. Nós fizemos a mesma coisa em Dori e em todo o país. E continuamos a fazê-lo”, explica o prelado à Fundação AIS. “Nós pensamos que Deus pode fazê-lo, mas não tem pressa. E, na minha oração, eu também peço que o sofrimento que o padre Joël está a viver não seja inútil. Que seja uma paixão que nos salve e que nos alcance uma paz verdadeira e definitiva”, acrescenta o Bispo. “Se for esse o caso, realmente, o seu sofrimento seria um sofrimento de pastor, como dizemos. Ele nos teria salvado através desse sofrimento”, disse ainda D. Théophile Nare, concluindo o seu testemunho com um agradecimento à Fundação AIS: “Obrigado por rezarem connosco pelo Padre Joël”.

CAMPANHA EM PORTUGAL

A história do Padre Joël Yougbare ilustra a situação trágica que se vive no Burquina Fasso e para a qual a Fundação AIS tem procurado sensibilizar a opinião pública.

Em Novembro do ano passado, e para o lançamento do Relatório “Perseguidos e Esquecidos?”, sobre a perseguição aos cristãos no mundo, o Padre Jacques Sawadogo esteve em Portugal e em diversas ocasiões denunciou a violência terrorista no seu país natal.

“É impossível rezar em público em certas regiões, quem tentar fazê-lo arrisca ser morto, as populações estão a abandonar as aldeias e com isso, temos capelas e igrejas abandonadas, pois mesmo os que ficam não frequentam mais os lugares de oração por medo dos terroristas”, disse o sacerdote na sessão em Lisboa de apresentação do Relatório.

“Por causa desta violência”, que se tem acentuado ao longo dos últimos anos, explicou ainda o Padre Jacques Sawadogo, “já houve bispos que decidiram fechar por precaução algumas paróquias onde os padres, catequistas e leigos estarão em maior risco”. “Em algumas paróquias, ser cristão significa mesmo ser um dos alvos dos terroristas”, enfatizou. Só na diocese a que pertence o sacerdote, Ouahigouya, foram já encerradas pelo menos cinco paróquias.

SITUAÇÃO MUITO DIFÍCIL

A violência terrorista no Burquina Fasso teve a sua origem na chamada Primavera Árabe, em 2011, e foi alimentada, entre outros acontecimentos, pela dispersão de parte considerável do arsenal de armas que existia na Líbia após a queda do regime do coronel Muammar Kadaffi. É a partir de 2015 que a violência terrorista ganha maior dimensão e quase sempre associada a uma forte componente religiosa.

Tal como os Cristãos, também as comunidades muçulmanas que não subscrevem a visão radical do Islão têm estado na mira destes grupos terroristas que já controlam ou condicionam até 40% do território deste país de África. Os ataques têm provocado a fuga das populações, calculando-se que haverá cerca de dois milhões de deslocados internos.

“Quando as pessoas abandoam as aldeias procuram refúgio nas paróquias, nas Igrejas, e nós damos-lhes comida, abrigo, roupa, às vezes até medicamentos e damos apoio às crianças para que elas possam continuar a estudar”, explicou ainda, nos vários encontros em Portugal, o Padre Jacques Sawadogo.

Em todas as ocasiões, o sacerdote sublinhou a importância da ajuda que a Fundação AIS tem dado à Igreja do seu país neste momento tão delicado da sua história. “A situação é muito difícil, mas sentimo-nos apoiados pela Igreja aqui em Portugal e em todo o mundo”, afirmou repetidamente o sacerdote, pedindo sempre as orações de todos não só pelos Cristãos perseguidos no Burquina Fasso, mas em todos os lugares onde os fiéis são oprimidos por causa da sua fé.

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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Relatório da Liberdade Religiosa

Apesar dos esforços dos líderes religiosos para reforçar a coesão social e a tolerância religiosa, os grupos jihadistas estão a avançar e a ganhar poder. Medidas radicais impostas por falta de segurança, por exemplo o encerramento de escolas e capelas católicas, têm sido implementadas.

Sem um envolvimento local e internacional significativo, as perspectivas de liberdade religiosa no Burquina Fasso a curto, e talvez a longo prazo, permanecem negativas.

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