Foi considerado como “inimigo” do Estado pelo governo comunista da Albânia. Condenado à morte, acabaria por ser arrastado para uma pena de prisão com trabalhos forçados em minas e em esgotos durante mais de duas décadas e meia. Sobreviveu a tudo, perdoou a todos e transformou-se num exemplo para o mundo. A tal ponto que o Papa Francisco disse que o Cardeal Ernest Simoni , que tem 95 anos de idade, é um “mártir vivo” por ter sofrido “talvez a perseguição mais cruel”.
Foi preso depois de ter sido considerado como inimigo da Albânia pelo governo comunista de Enver Hoxha, que tinha declarado o país como o “primeiro estado ateu do mundo”. Foram 28 anos de cárcere, de confinamento solitário e de trabalhos forçados nas minas escuras de Spac e nos esgotos de Shkodra, depois de, inicialmente, ter sido condenado à morte.
Preso na noite de Natal de 1963, no final da celebração de uma Missa, o regime nunca conseguiu vergá-lo. Prenderam um homem mas fizeram nascer um mito. A tal ponto que, no passado dia 14 de Fevereiro, estando o Cardeal Simoni presente na Audiência Geral das quartas-feiras, no Vaticano, o Papa fez questão de o saudar “de modo especial” aos milhares de fiéis que enchiam por completo a Sala Paulo VI.
Todos nós lemos e ouvimos as histórias dos primeiros mártires da Igreja. São tantos… Mesmo aqui, onde o Vaticano está agora, há um cemitério e muitos neste local foram executados e sepultados. Quando se faz escavações, encontram-se esses túmulos. Mas ainda hoje há muitos mártires em todo o mundo, muitos, talvez mais do que no início. Há muitos perseguidos por causa da fé. Hoje, permito-me saudar de modo especial um mártir vivo, o Cardeal Simoni. Ele, como padre, viveu 28 anos na prisão comunista da Albânia, talvez a perseguição mais cruel.”
Papa Franicsco
O Santo Padre acrescenta, antes de a multidão aplaudir fortemente as suas palavras, que o cardeal albanês “continua a dar testemunho”. “Agora, com 95 anos, continua a trabalhar para a Igreja sem desanimar. Caro irmão, agradeço-lhe pelo seu testemunho. Muito obrigado”, concluiu o Papa.
AS MISSAS CLANDESTINAS
A história deste homem de 95 anos, ainda com uma enorme energia, é de facto incrível. Na ocasião, aproveitando a sua passagem por Roma, o Vatican News falou com ele e o seu testemunho revela um homem que se entregou sempre a Deus, mesmo nas alturas mais duras, mais difíceis.
“Tudo é providência divina, tudo é graça divina”, diz o cardeal albanês, recordando os tempos de prisão em que nunca deixou de rezar, de celebrar missa, clandestinamente, até nos canais de esgoto. “Graças ao Senhor que me guardou e protegeu, pude celebrar a Missa clandestinamente na prisão, de cor, em latim. Conheço latim tão bem quanto a língua albanesa, tínhamos um método de estilo alemão pelo qual aprendíamos as línguas clássicas. Nas Missas havia muçulmanos que choravam: amigos, muito bons amigos, com grandes lágrimas porque o Espírito Santo os atraía”, recordou o Cardeal.
Com uvas que espremiam faziam vinho e do pão que era servido aos presos improvisavam as hóstias. “Também celebrei missas nos canais de esgoto, diante de 200 pessoas. Se alguém me tivesse acusado, ter-me-iam enforcado. Foi proteção divina, em todas as formas. Nenhum mérito meu”, acrescentou.
PERDOAR OS ALGOZES
Quando ficou livre da prisão, em 5 de Setembro de 1990, afirmou logo querer perdoar aos seus torturadores, e depois começou logo a trabalhar, servindo nos vilarejos, ajudando as pessoas a se reconciliarem e a banirem o ódio dos seus corações. Questionado sobre a forma como perdoou sempre aos seus algozes, D. Ernest Simoni respondeu, de imediato, que é assim “a fé católica”.
Jesus com amor infinito amou e ama todos os homens e diz que a maior alegria no Céu será para um pecador que se converte e é salvo e não para biliões de anjos e santos. O paraíso espera por todos nós.”
D. Ernest Simoni
“Agradeço também sempre a Nossa Senhora, ao Padre Pio e a João Paulo II que me ajudam nos exorcismos: alguns disseram-me que viram… Como diz Santo Agostinho, não passa um dia sem uma linha, um dedo, para a vida eterna. Para saúde? A idade é contada com anos mas a saúde está nas mãos do Senhor”, relatou o cardeal albanês, o “mártir vivo”, nas palavras do Santo Padre. “Choramos quando alguém morre mas a matéria morre, o espírito é imortal”, acrescentou D. Ernest Simoni.
Paulo Aido | Departamento de Comunicação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt