Na manhã de 10 de Outubro de 2025, Sua Santidade o Papa Leão XIV recebeu em audiência privada no Vaticano a fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) Internacional, assinalando os 25 anos da contínua missão da fundação na defesa do direito à liberdade religiosa e na dádiva de voz aos Cristãos que sofrem perseguição pela sua fé em todo o mundo.
A delegação foi liderada pelo Cardeal Mauro Piacenza, Presidente Internacional da AIS, e por Regina Lynch, Presidente Executiva da Fundação.
Estiveram também presentes altos responsáveis da AIS Internacional, juntamente com representantes de diversos secretariados nacionais, entre os quais, Catarina Martins de Bettencourt, de Portugal, bem como a Comissão Editorial do Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo 2025.
Durante a audiência, o Santo Padre dirigiu-se aos membros da fundação com profunda gratidão pela sua missão e compromisso constante com os Cristãos perseguidos.
«Recordamo-los, estamos com eles»
No seu discurso, o Papa Leão XIV falou com veemência sobre a importância da liberdade religiosa e do dever da Igreja em a defendê-la onde quer que esta se encontre ameaçada.
«A vossa visita é oportuna, pois o nosso mundo continua a testemunhar uma crescente hostilidade e violência contra aqueles que professam convicções diferentes, incluindo muitos cristãos. Em contraste, a vossa missão proclama que, como uma só família em Cristo, não abandonamos os nossos irmãos e irmãs perseguidos. Pelo contrário, recordamo-los, estamos com eles, e trabalhamos para assegurar as liberdades que Deus lhes concedeu.»
O Santo Padre sublinhou que «o direito à liberdade religiosa não é opcional, mas essencial», descrevendo-o como «uma pedra angular de qualquer sociedade justa, pois salvaguarda o espaço moral no qual a consciência pode ser formada e exercida.»
Recordou ainda que esta liberdade não é meramente uma concessão política:
«A liberdade religiosa, portanto, não é apenas um direito legal ou um privilégio concedido pelos governos; é uma condição fundamental que torna possível a reconciliação autêntica.»
O Papa Leão XIV evocou igualmente as origens da Ajuda à Igreja que Sofre:
«Foi desta convicção que nasceu a vossa organização. Fundada em 1947 como resposta ao imenso sofrimento deixado na esteira da guerra, a sua missão, desde o início, tem sido a de fomentar o perdão e a reconciliação, e de acompanhar e dar voz à Igreja onde quer que ela esteja necessitada, ameaçada ou a sofrer.»
O Santo Padre destacou também a expressão concreta da missão da AIS em todo o mundo — uma missão que transforma a fé em acção através de inúmeros projectos — e manifestou a sua gratidão pelo apoio que ele próprio recebeu na Diocese de Chiclayo, no Peru:
«O vosso compromisso estende-se também ao apoio da missão da Igreja em todo o mundo, alcançando comunidades frequentemente isoladas, marginalizadas ou sob pressão. Onde quer que a Ajuda à Igreja que Sofre reconstrua uma capela, apoie uma religiosa, ou providencie uma estação de rádio ou um veículo, fortaleceis a vida da Igreja, assim como o tecido espiritual e moral da sociedade.»
Elogiou ainda o Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo da AIS como «um instrumento poderoso de sensibilização… [que] dá testemunho, dá voz aos que não têm voz, e revela o sofrimento oculto de muitos.»
O Papa concluiu com uma mensagem de encorajamento:
«Não vos canseis de fazer o bem (cf. Gl 6,9), pois o vosso serviço dá frutos em inúmeras vidas e dá glória ao nosso Pai que está nos céus… Que a Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe da Esperança, permaneça próxima de vós e de todos os que sofrem.»
Apresentação do Relatório sobre a Liberdade Religiosa 2025
Durante a audiência, a AIS apresentou ao Santo Padre a primeira cópia antecipada do próximo Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo 2025, que será oficialmente lançado em Roma a 21 de Outubro. O relatório, que abrange 196 países e conta com mais de 1000 páginas, documenta o estado actual da liberdade religiosa e da perseguição em todo o mundo.
Um presente da Síria: Um Ícone da Esperança
Como símbolo de esperança e de fé que perdura através do sofrimento, Regina Lynch ofereceu ao Santo Padre um ícone feito a partir da madeira do tecto destruído da Catedral Maronita de São Elias, em Alepo. A catedral, gravemente danificada durante o conflito na Síria, foi posteriormente restaurada com o apoio da Ajuda à Igreja que Sofre e reaberta a 20 de Julho de 2020, festa do seu padroeiro.
O ícone representa a resiliência das comunidades cristãs no Médio Oriente e a renovação da fé em meio à devastação — um testemunho da missão no coração da Ajuda à Igreja que Sofre: acompanhar os perseguidos e reconstruir a Igreja onde ela sofre.
“Encontro muito gratificante”, diz Catarina Bettencourt
Catarina Martins de Bettencourt, directora do secretariado nacional da AIS, e uma das dirigentes da Fundação AIS que esteve presente no encontro no Vaticano, sublinha o interesse do Santo Padre pelo trabalho desenvolvido pela fundação pontifícia.
Para nós é muito gratificante perceber que o Santo Padre acompanha genuinamente o que fazemos e, entre esse trabalho, salienta-se agora o lançamento do Relatório que vai contar, em Roma, com a presença do Cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, além de diversas pessoas que vão testemunhar o que significa nos seus países a perseguição religiosa.”
Catarina Martins de Bettencourt





“A audiência que o Santo Padre concedeu à Fundação AIS é um sinal do apreço que Leão XIV tem pelo trabalho e missão que desenvolvemos, mas é também um desafio para fazermos mais ainda pelos Cristãos perseguidos no mundo”, sublinha a directora do secretariado nacional da fundação pontifícia.
“É preciso que a sociedade compreenda a dimensão da perseguição religiosa, a tragédia que isso significa na vida de milhões de pessoas, nomeadamente os Cristãos. Por isso, sensibilizar a sociedade para esta realidade, nomeadamente através da divulgação de trabalhos de fundo como o Relatório que entregámos agora ao Papa, é parte essencial da nossa missão”, diz ainda Catarina Bettencourt. “O encontro com o Papa Leão XIV ajuda a dar visibilidade a este nosso trabalho e isso é precioso”, conclui.
O Relatório da Fundação AIS sobre a Liberdade Religiosa no Mundo vai ser lançado no próximo dia 21 em diversas capitais, nomeadamente em Roma, onde haverá um painel com vozes da Igreja perseguida no mundo, nomeadamente o Bispo de Sokoto, na Nigéria, o Arcebispo Mourad, da Síria, além do testemunho de Mariam Ibrahim, uma mulher que foi condenada à morte no Sudão, por se ter convertido ao Cristianismo em 2014, assim como Shagufta Kausar, que foi condenada à morte, por blasfémia, no Paquistão nesse mesmo ano.
Em Portugal, o Relatório será apresentado por Nuno Rogeiro, no Centro Nacional de Cultura, junto ao Teatro São Luiz, ao Chiado, em Lisboa.
Maria Lozano e Paulo Aido
Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt