Assinala-se hoje, dia 13 de Março, o décimo aniversário da eleição de Mário Bergoglio como sucessor de Pedro. Nestes 10 anos de pontificado, o Papa Francisco tem manifestado a sua proximidade para com os cristãos perseguidos, para com a Igreja que sofre. O presidente executivo internacional da Fundação AIS recorda alguns desses momentos.
Vaticano, 8 de Março de 2023. Há apenas cinco dias, o Santo Padre saudou e trocou algumas palavras com duas jovens nigerianas no final da Audiência Geral. Foi um gesto duplamente simbólico por se tratar do Dia Internacional da Mulher e por aquelas duas jovens serem cristãs e terem estado em cativeiro às mãos de um dos mais tenebrosos grupos jihadistas da actualidade: o Boko Haram. A presença no Vaticano de Maryam Joseph, de 19 anos de idade, e de Janada Marcus, de 22, foi uma iniciativa do secretariado italiano da Fundação AIS e inseriu-se na campanha global “SOS Cristãos da Nigéria”, que está a ser promovida também em Portugal. Hoje, dia 13 de Março, ao assinalar-se o décimo aniversário da sua eleição, a Fundação AIS gostaria de destacar este encontro no Vaticano como um exemplo da proximidade do Santo Padre para com a fundação pontifícia e a sua missão em defesa da liberdade religiosa e dos cristãos perseguidos no mundo. Para o presidente executivo internacional da Fundação AIS, Thomas Heine-Geldern, o Santo Padre tem sido uma presença “próxima e cheia de detalhes significativos”, acrescentando que “tem seguido com extrema atenção também o nosso trabalho na AIS”.
Rebecca Bitrus e Asia Bibi
O encontro há quase uma semana no Vaticano foi apenas um exemplo desta proximidade para com o trabalho da Fundação AIS e a preocupação para com a situação dos cristãos na Nigéria. Já antes, em 2018, por exemplo, o Papa esteve com outra mulher vítima também da perseguição religiosa neste país africano. “Recordamos com gratidão momentos como quando, em 2018, [o Papa] recebeu a nossa instituição juntamente com Rebecca Bitrus, uma cristã nigeriana perseguida pelo Boko Haram e com uma terrível história de violação e sofrimento”, lembra Thomas Heine-Geldern. Mas há mais exemplos da preocupação do Papa pelos cristãos perseguidos por causa da sua fé. É o caso de Asia Bibi, a mulher paquistanesa, mãe de cinco filhos, condenada à morte por blasfémia por ter bebido um copo de água de um poço, e que mobilizou a Fundação AIS a nível internacional em diversas campanhas para a sua libertação. “Como poderíamos não recordar também as suas palavras de apoio à família de Asia Bibi, o seu carinho e apoio a esta mulher paquistanesa que esteve presa durante dez anos sob uma falsa acusação de blasfémia”, diz Heine-Geldern.
“Em cada sete cristãos, um é perseguido…”
Um dos momentos mais significativos em que o Papa Francisco fez erguer a sua voz na defesa da liberdade religiosa, lembrando que a comunidade cristã é a mais perseguida em todo o mundo, ocorreu recentemente, em Janeiro deste ano, durante o discurso ao Corpo Diplomático. Na ocasião, o Santo Padre lembrou que a defesa da liberdade religiosa está intimamente ligada também à defesa da paz. “É preocupante que haja pessoas perseguidas apenas porque professam publicamente a sua fé; e são muitos os países onde a liberdade religiosa é limitada. Cerca de um terço da população mundial vive nesta condição. Juntamente com a falta de liberdade religiosa, há também a perseguição por motivos religiosos. Não posso deixar de mencionar, como mostram algumas estatísticas, que, em cada sete cristãos, um é perseguido.” Nesse discurso, o Papa lembrou que a perseguição religiosa acontece também nos países onde os cristãos não estão em minoria. Estas tomadas de posição do Santo Padre são sublinhas agora por Thomas Heine-Geldern, quando se assinalam os dez anos de pontificado. “Estamos especialmente gratos pela análise do Santo Padre sobre os tempos que vivemos, onde em muitos países do mundo existe também uma perseguição educada e oculta aos cristãos; não semeada pelo terror e pela violência terrorista, mas pela falta de respeito pela consciência da pessoa humana e pela coação a viver contrariamente aos valores morais e ao sagrado”, concluiu Heine-Geldern.
Mártires pela fé
Mas foram muitas as ocasiões em que Francisco abordou o tema da liberdade religiosa ao longo destes dez anos. Um desses momentos foi em 2014, durante a oração do Angelus na Praça de São Pedro, quando lembrou o sacrifício dos “mártires” de hoje, perseguidos por serem cristãos. Um dos casos mais recentes ocorreu em Setembro do ano passado, quando a religiosa italiana Maria De Coppi, de 83 anos, foi assassinada num ataque terrorista na missão católica onde vivia, na Diocese de Nacala, em Moçambique. Francisco elogiou a missionária comboniana que serviu aquele país africano de língua oficial portuguesa “por amor, durante quase 60 anos”, e rezou para que “o seu testemunho dê força e coragem aos cristãos e a todo o povo moçambicano”. Mas, durante estes 10 anos, houve muitas outras ocasiões em que Francisco fez ouvir a sua voz em defesa dos cristãos perseguidos e da liberdade religiosa. Nos já famosos “Vídeos do Papa”, com as intenções mensais de oração, isso ocorreu por diversas vezes. Em 2017 e 2019, por exemplo, pediu que os cristãos perseguidos fossem apoiados através da oração e pela ajuda material de toda a Igreja. E em Janeiro de 2022 disse mesmo que a perseguição religiosa era “inaceitável e desumana” e uma “loucura”. “Como permitimos que nesta sociedade altamente civilizada existam pessoas que são perseguidas simplesmente por professar publicamente sua fé?”, perguntava nesse vídeo no início do ano passado.
Viagens pela paz
Mas ao longo destes anos, tem havido outras manifestações de proximidade do Papa para com os cristãos perseguidos. As suas visitas a países como a República Democrática do Congo e Sudão do Sul, já este ano, ou à República Centro Africana, Cazaquistão e Iraque, em anos anteriores, por exemplo, são um testemunho e um legado do Santo Padre que faz questão de ir ao encontro da Igreja que sofre e que luta por justiça e paz. No Iraque, em 2021, Francisco esteve inclusivamente em igrejas que foram destruídas pelos jihadistas do Daesh e encontrou-se com o Grande Ayatollah al-Sistani, um gesto que correu mundo e que alguns reconhecem como “um marco no caminho para o diálogo inter-religioso”.
“Obrigado” à Fundação AIS
Durante estes 10 anos de pontificado houve vários gestos do sucessor de Pedro que mostram efectivamente a sua proximidade para com a missão da Fundação AIS. Em Março 2016, por exemplo, o Papa Francisco agradeceu o trabalho desenvolvido pela Ajuda à Igreja que Sofre ao receber, no Vaticano, uma delegação da fundação pontifícia. “Obrigado por aquilo que fazem”, disse na ocasião o Santo Padre perante os responsáveis da AIS que acompanhavam o presidente da Conferência Episcopal do Paquistão, D. Joseph Coutts. Mas houve mais momentos de proximidade do Santo Padre para com a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre. Em 2017, o Papa Francisco fez questão de convidar os fiéis a realizarem obras de misericórdia juntamente com a fundação pontifícia. Foi a campanha “Seja a misericórdia de Deus”, que teve um grande impacto também em Portugal, e também tem apelado aos cristãos para participarem na iniciativa “Um milhão de crianças reza o terço pela paz”.
Sinais de apreço
Em várias destas ocasiões, estes gestos do Santo Padre foram testemunhados directamente pelo presidente executivo internacional da Fundação AIS. “Eu próprio testemunhei esses momentos de grande proximidade do Papa Francisco aos nossos irmãos e irmãs que sofrem, como quando o Santo Padre abençoou um ícone de Nossa Senhora das Dores da Síria e rosários para se rezar pela paz na Síria”, lembra Heine-Geldern, referindo-se aos 6 mil rosários que a Fundação AIS enviou, em 2019, para famílias cristãs da Síria que tinham sofrido durante a guerra e os tempos da ocupação jihadista deste país do Médio Oriente. O Presidente executivo internacional da Ajuda à Igreja que Sofre, esteve mesmo ao lado do Santo Padre nesse dia 15 de Agosto, dia tão especial para a Igreja. Esteve ao lado do Papa na janela do apartamento pontifício, durante o tempo em que decorreu a bênção dos terços perante os milhares de peregrinos que estavam reunidos na Praça de São Pedro. O inédito convite do Santo Padre para que o presidente da AIS o acompanhasse nesse gesto, foi mais um sinal de apreço do Papa pelo esforço permanente de apoio também à sofredora comunidade cristã na Síria. Momentos antes, junto de Thomas Heine-Geldern, no encontro com o Papa, esteve também Catarina Martins de Bettencourt, a directora do secretariado português da instituição pontifícia.