O testemunho dos que dão a vida por Cristo foi o tema da catequese de ontem do Papa Francisco durante a Audiência Geral na Praça de São Pedro. Reconhecendo que hoje em dia há mais mártires do que nos primeiros tempos, o Santo Padre recordou o exemplo de várias religiosas que foram mortas no Iémen em 1998 e em 2016
Perante milhares de fiéis na Praça de São Pedro, o Papa Francisco deu ontem continuidade ao ciclo de catequeses que vem fazendo sobre o zelo apostólico, falando, desta vez, sobre o testemunho dos mártires. E disse, reafirmando intervenções anteriores, que os mártires são hoje “mais numerosos no nosso tempo do que nos primeiros séculos”. “Hoje há muitos mártires na Igreja, numerosos, porque por confessarem a fé cristã são expulsos da sociedade ou vão para a prisão… São tantos!”
Francisco falou mesmo num “exército de mártires, homens e mulheres de todas as idades, línguas e nações, que deram a vida por Cristo, que derramaram o sangue para confessar Cristo”. Para o Santo Padre, os mártires “não devem ser vistos como heróis que agiram individualmente”, mas sim como “frutos maduros e excelentes da vinha do Senhor que é a Igreja”. Mas o mais significativo, disse ainda, é o perdão dos que são violentados até à morte. O Papa refere mesmo, sublinhando a importância do perdão, que os mártires rezam até pelos seus carrascos… “À imitação de Jesus e com a sua graça, os mártires transformam a violência de quem rejeita o anúncio, em ocasião suprema de amor, que vai até ao perdão dos próprios algozes. Isto é interessante: os mártires perdoam sempre os algozes. Estêvão, o primeiro mártir, morreu rezando: ‘Senhor, perdoa-lhes, não sabem o que fazem!’. Os mártires rezam pelos algozes.”
As irmãs assassinadas no Iémen
Por mais de uma vez, durante a catequese de ontem, o Papa Francisco sublinhou que o martírio é algo cada vez mais comum nos tempos actuais, e que todos os fiéis “devem estar dispostos a confessar Cristo diante dos homens”. E acrescentou: “Hoje há perseguições de cristãos no mundo, muitas, tantas! Há mais mártires hoje do que nos primeiros tempos. Os mártires mostram-nos que cada cristão é chamado ao testemunho da vida, até quando não chega à efusão do sangue, fazendo de si mesmo um dom a Deus e aos irmãos, à imitação de Jesus.”
No final já da catequese, o Papa falou do Iémen, “uma terra há muitos anos ferida por uma guerra terrível, esquecida, que causou tantos mortos e ainda hoje faz sofrer tantas pessoas, especialmente crianças”, para recordar os exemplos de algumas religiosas pertencentes à congregação das Missionárias da Caridade que deram a sua vida por serem cristãs neste país situado na península arábica. “Em Julho de 1998, a Irmã Aletta, a Irmã Zelia e a Irmã Michael, a caminho de casa depois da Missa, foram mortas por um fanático porque eram cristãs. Mais recentemente, pouco depois do início do conflito ainda em curso, em Março de 2016, a Irmã Anselm, a Irmã Marguerite, a Irmã Reginette e a Irmã Judith foram mortas com alguns leigos que as ajudavam na obra de caridade no meio dos últimos. São os mártires do nosso tempo.”
E o Santo Padre terminou praticamente a sua intervenção lembrando que, ao lado destas irmãs, foram também assassinados alguns leigos cristãos e muçulmanos, para dizer que “é comovedor ver que o testemunho do sangue pode aproximar pessoas de diferentes religiões”. E acrescentou: “Nunca se deve matar em nome de Deus, pois para Ele somos todos irmãos e irmãs. Mas juntos podemos dar a vida pelos outros”.