UCRÂNIA: “Todos os dias há mortos, soldados, civis, e sobretudo crianças”, denuncia padre ucraniano a viver em Portugal

UCRÂNIA: “Todos os dias há mortos, soldados, civis, e sobretudo crianças”, denuncia padre ucraniano a viver em Portugal

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UCRÂNIA: “Todos os dias há mortos, soldados, civis, e sobretudo crianças”, denuncia padre ucraniano a viver em Portugal

Sexta-feira · 11 Fevereiro, 2022

É com apreensão e medo que o Padre Natanael Harasym acompanha o evoluir da situação na Ucrânia. A viver em Portugal desde há vinte anos, ele é o responsável pelo acompanhamento da comunidade ucraniana no Patriarcado de Lisboa.

As notícias que chegam do seu país deixam-no muito preocupado, mas faz questão de lembrar que há já oito anos que se vive num verdadeiro estado de guerra na região oriental. “É mesmo guerra. É uma guerra que já começou não há um mês e meio, dois meses, mas há oito anos. E isto é o apogeu da chamada ‘guerra híbrida’, não só com toneladas de informação de ‘fake news’, mas todos os dias bombardeados pelas estações que não têm liberdade de jornalismo, de dizer a verdade, mas também com as guerras reais, com armas, e praticamente todos os dias há mortos. Não só soldados ucranianos, mas também civis e sobretudo crianças.”

UCRÂNIA: “Todos os dias há mortos, soldados, civis, e sobretudo crianças”, denuncia padre ucraniano a viver em Portugal
É com apreensão e medo que o Padre Natanael Harasym acompanha o evoluir da situação na Ucrânia.

O Padre Natanael, diz que esta “é uma guerra no centro da Europa, na fronteira leste da Ucrânia, [uma guerra] silenciada muitas vezes ao longo destes últimos oito anos”. O Padre Natanael Harasym, que pertence à Ordem de São Basílio e foi ordenado na Igreja Ucraniana Greco-Católica, faz questão de lembrar que não se está a falar num conflito distante num lugar exótico, mas sim numa guerra na Ucrânia, na sua pátria. “O centro geográfico da Europa está na Ucrânia”, diz, acrescentando que, a generalizar-se, um conflito militar “pode ter consequências não só para a Europa, mas também para o mundo inteiro”.

Todos os dias este sacerdote escuta lamentos e palavras preocupadas dos mais de 15 mil ucranianos que vivem no Patriarcado de Lisboa. Todos eles seguem com apreensão o evoluir dos acontecimentos. Não é só a guerra que desassossega, é também a situação em que se encontram todos os que vivem nos territórios controlados. “Como uma parte da região de Donetsk e da região de Luhansk não está controlada pelo governo ucraniano, as pessoas [que vivem nessas regiões] têm possibilidade, com muita exploração, com muita dificuldade, de se deslocar à Ucrânia para levantar a sua reforma, muitas vezes mínima, para sobreviver…”

As dificuldades económicas não são o único problema que estas populações enfrentam nos territórios Donetsk e Luhansk, controlados por forças pró-russos. Há também violência, pressão sobre as pessoas, até sobre os elementos da Igreja. “A casa episcopal do nosso bispo, D. Stepan Meniok foi assaltada, pilhada, etc. O padre, colega meu, diabético, esteve preso e não deixavam trazer no carro dele a medicação para os diabetes, foi um esforço… foi libertado e agora está em recuperação…”

Durante os oito anos em que estes territórios têm estado ocupados por forças pró-russas, a Igreja não tem deixado de alertar para esta situação de guerra esquecida em plena Europa e de mobilizar esforços no apoio às populações mais afectadas. “A Igreja tem-se portado muito bem. O Núncio Apostólico Cláudio Gugerotti, que agora está em Inglaterra, fez questão, usando as vias diplomáticas, de celebrar o Natal de 2016 ou de 2017 nos territórios controlados por forças pró-russas”, diz o Padre Natanael, sublinhado também o apoio incansável que o Papa Francisco tem dado à Ucrânia. “O Papa Francisco não se cansou, não se cansa… Só estou a lembrar-me da iniciativa de colecta, há alguns anos, que deu 11 milhões e ele disponibilizou mais cinco, não pessoalmente, do bolso dele, mas do Vaticano. Foram 16 milhões de euros de ajuda e tantas outras para coisas básicas como batatas para semear, sementes para plantar, os fornos e lenha para aquecer as casas…”

Tal como o Papa Francisco, também a Fundação AIS tem dado um apoio permanente à Ucrânia. Ainda recentemente, Magda Kaczmarek, responsável pelo departamento da Europa de Leste da Ajuda à Igreja que Sofre, recordou que a Ucrânia “é a maior prioridade” da instituição na Europa, havendo uma história comum de mais de quatro décadas, particularmente na área da formação, ajuda à mobilidade, retiros, renovação de mosteiros e casas paroquiais.

O Padre Natanael Harasym conhece bem também esse esforço e lembra-se que já nos anos noventa do século passado ouvia falar da Fundação AIS. “Nos anos 90, quando eu entrei para a vida religiosa, havia um projecto, a rádio Vosskressínnia [Ressurreição], que teve precisamente o apoio da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre. Depois, o seminário do Espírito Santo de Lviv, da minha igreja mãe, da Igreja Ucraniana Greco-Católica, foi construído precisamente com base, a maior parte, pela Igreja que Sofre, e hoje funciona perfeitamente, formando novos sacerdotes para toda a Ucrânia e já temos cá em Portugal os frutos destas vocações. E tantos outros projectos…”

O Padre Natanael agradece toda a ajuda que possa ser dada à Ucrânia, muito especialmente às comunidades que vivem nas regiões ocupadas, pois aí as necessidades são mesmo significativas. “Só referi estes dois projectos, mas todo o apoio é bem-vindo porque aquele que não tem nada, e estou a pensar mesmo [nas pessoas] do lado de lá, há quem tenha perdido tudo, pelo que o pouco que possamos partilhar com eles é tudo. O mínimo, o pouco para o pobre é tudo.”

Este compromisso da Igreja no apoio às populações mais ameaçadas, mas também no diálogo e na paz foi reafirmado publicamente por D. Sviatoslav Shevchuk, Arcebispo Metropolita da Igreja Greco-Católica Ucraniana, numa conferência de imprensa organizada no início deste mês pela Fundação AIS. “A maioria das pessoas da região de Donetsk e Luhansk tem mais de 65 anos e, hoje em dia, não podem receber as suas pensões. Portanto, estamos a enfrentar uma grave crise humanitária neste território, e a assistência está a tornar-se mais difícil. Os padres são mediadores únicos que podem viajar e levar alguns recursos”, explicou o Arcebispo Shevchuk. “Os sacerdotes que permanecem lá com o nosso povo são os heróis do nosso tempo. Eles não vão fugir. Vamos ficar com o nosso povo, tal como ficámos na Crimeia”, acrescentou ainda o líder da Igreja Greco-Católica Ucraniana.

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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