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SÍRIA: “Rezai, rezai por nós”, pede religiosa portuguesa face ao empobrecimento brutal da população
O governo de Damasco deixou de subsidiar o preço de grande parte dos bens de primeira necessidade expondo, com isso, grande parte da população da Síria a uma pobreza ainda mais acentuada. Segundo a Irmã Maria Lúcia Ferreira, que pertence à Congregação das Monjas de Unidade de Antioquia, esta “muito má notícia” foi conhecida no início de Fevereiro e atinge “alguns bens essenciais, como o pão, mas também o arroz, o açúcar, etc.”.
Além disso – diz ainda esta religiosa que é mais conhecida como Irmã Myri e que vive na vila de Qara, no Mosteiro de São Tiago Mutilado –, deixa também de haver apoio para a aquisição de produtos como “a gasolina, o gasóleo, o mazout [usado para aquecimento doméstico] e o gás”. O caso do aumento do preço do pão é particularmente destacado nesta mensagem enviada para a Fundação AIS em Lisboa. Em pouco tempo, diz-nos a irmã, o preço do pão passou de 250 libras [cerca de 0,08 euros] para 1500 [0,52 euros]. O resultado está a revelar-se dramático.
Se antes as pessoas se acotovelavam nas filas, apesar das senhas, para conseguirem adquirir pão para as necessidades do dia-a-dia, agora, relata-nos a irmã, sobra pão pois a esmagadora maioria da população não tem dinheiro suficiente para o adquirir. “As padarias estavam sempre cheias de gente a querer comprar pão e às vezes não havia o suficiente, muitas vezes não havia o suficiente… As pessoas faziam filas e depois não lhes calhava. Agora, é o contrário. Há pão na loja porque as pessoas não têm dinheiro para o comprar…”
Exemplo também da enorme precariedade em que vivem as populações, foi o facto de, neste Inverno, que se revelou particularmente frio, muitas pessoas, face à impossibilidade de adquirirem combustível para o aquecimento das suas casas, terem chegado a queimar roupa e calçado num gesto que revela um total desespero.
“A maior parte das pessoas daqui, não tinham como se aquecer no Inverno e então, o que faziam? Apanhavam não importa o quê, botas velhas, roupa velha, plástico… tudo o que podia arder e dar um bocadinho de calor. A madeira é muito cara e há pouca aqui nesta região. Nós aqui, no Mosteiro, tínhamos algumas árvores que morreram no Verão e não trouxemos logo toda a lenha para casa para um lugar protegido e ela foi roubada. E mesmo alimentos no jardim começam a desaparecer. As pessoas entram e roubam. As coisas estão a ficar de mal a pior…”
Para a Irmã Maria Lúcia Ferreira, a situação na Síria está a assemelhar-se perigosamente com a do Líbano, com este país também em crise profunda, como alertou recentemente o Arcebispo Maronita de Tiro à Fundação AIS. Face a esta situação, motivada em grande parte pela imposição de sanções económicas ao regime de Damasco pelos Estados Unidos mas também pela União Europeia, a Irmã Myri lança um apelo às orações de todos os cristãos.
É um apelo não só para a Síria, mas também para o Líbano e toda a Terra Santa onde, como afirma esta religiosa portuguesa, os cristãos já não conseguem viver. “A vida está a tornar-se muito, muito, muito difícil aqui na Síria. Está a ficar como no Líbano onde o governo já não pode dar apoio a nenhum bem essencial e aqui é quase a mesma coisa. Os preços aumentam e as pessoas não conseguem… não vão conseguir ter o que comer. E não se vê melhoras do lado exterior, dos que fazem este embargo, estas sanções contra a Síria… Rezai, rezai por nós, é o que vos peço. Rezai por nós para que o Senhor oiça esta situação aqui na Síria, no Líbano, em toda a Terra Santa onde os cristãos já não estão a conseguir viver.”
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