No meio de uma nova onda de combates, o padre argentino Hugo Alaniz descreve horas de angústia na segunda-feira, dia 6, na cidade de Alepo. A sua paróquia tornou-se uma vez mais refúgio para dezenas de famílias.
Com o som de fortes explosões e o ruído de armas pesadas em fundo, o Padre Hugo Alaniz, que é missionário em Alepo há mais de uma década, contou à Fundação AIS Internacional que segunda-feira, 6, foi um dos dias mais difíceis que a comunidade cristã viveu nesta cidade nos últimos meses. Foi uma noite de medo.
As pessoas estão com muito medo, não sabemos o que vai acontecer. Houve confrontos intensos até às 3 da manhã, ouviram-se explosões por toda a parte. Agora, a situação está um pouco mais calma, mas as pessoas estão com muito medo. Temos recebido famílias na cave da nossa igreja, onde normalmente realizamos atividades comunitárias.”
Padre Hugo Alaniz
Recorde-se que na segunda-feira a Síria realizou eleições parlamentares, as primeiras desde a queda do regime de Bashar al-Assad. A votação decorreu num contexto de tensões entre as autoridades centrais e as forças curdas que operam no norte e desejam manter a autonomia. O combate directo entre as duas facções ocorreu em partes da cidade de Alepo, onde dois bairros já são administrados pelas forças curdas. As repercussões foram fortemente sentidas entre a população civil, que teme uma nova onda de violência. Na terça-feira, disse o sacerdote “as escolas permaneceram fechadas devido aos combates”.
“Não se esqueçam da Síria…”
O Padre Hugo Alaniz, membro do Instituto do Verbo Encarnado (IVE) e pároco de Nossa Senhora da Assunção, é responsável pela assistência pastoral e humanitária a centenas de famílias afectadas pela guerra e pela crise económica que é uma consequência directa de anos de conflito e de sanções económicas impostas ao país.
A sua igreja tornou-se, novamente, um abrigo improvisado para os residentes que procuraram escapar aos ataques e bombardeamentos. “Dois mísseis caíram perto de nós, um a trezentos metros da nossa igreja. Outros caíram noutra parte da cidade, perto do bispado latino”, descreveu. A tensão começou a aumentar durante o dia, conta o sacerdote à Fundação AIS Internacional. “Houve muita movimentação de pessoas, mas as ruas estão agora meio vazias…”
Alepo, que durante séculos foi considerada como o coração económico e cultural da Síria, continua a ser uma das cidades mais afectadas pelo conflito. A reconstrução está a avançar lentamente e as feridas da guerra ainda são visíveis nos bairros orientais e setentrionais da cidade. O Padre Hugo garante à AIS que a sua missão, juntamente com outros padres e religiosas, é a de “estar perto das pessoas, consolar, ouvir e ajudar da melhor forma possível”. “A única coisa que pedimos é que rezem por nós”, diz. “Num dia como hoje, em que o Santo Padre nos pediu para rezar o rosário pela paz, não se esqueçam da Síria”, pediu.
Maria Lozano | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt