R. D. CONGO: Dezenas de pessoas massacradas, muitas delas crianças, numa Igreja Católica em Komanda, no leste do país

Cerca de quarenta pessoas foram massacradas ontem, Domingo, dia 27 de Julho, num ataque a uma Igreja Católica na localidade de Komanda, em Ituri, no leste da República Democrática do Congo. Os crentes, que se encontravam na igreja a rezar, foram assassinados a tiro ou com golpes de catanas por elementos das Forças Democráticas Aliadas, grupo que jurou lealdade ao Estado Islâmico. O missionário português Marcelo Oliveira diz, em mensagem enviada para a Fundação AIS em Lisboa, que os “rebeldes assassinaram uma quantidade imensa de crianças”. Este é o terceiro ataque de extrema gravidade executado por estes terroristas nesta região só desde o início do ano.

O número de vítimas é ainda incerto, mas cerca de quarenta cristãos – possivelmente 43 – foram assassinados num ataque extremamente violento na madrugada deste Domingo, dia 27 de Julho, numa igreja em Komanda, uma localidade situada na província de Ituri, no leste da República Democrática do Congo.

Segundo os dados disponíveis, a autoria do ataque teria sido de membros de um grupo rebelde, denominado Forças Democráticas Aliadas [ADF], organização armada afiliada no Estado Islâmico, e que invadiram o templo católico e deixaram atrás de si um profundo rasto de sangue e morte. O portal de notícias do Vaticano referiu-se já a este “massacre” como “brutal”, e sublinhando que “os fiéis, que se haviam reunido para rezar”, foram mortos “com catanas e armas de fogo”.

Citando uma estação de rádio apoiada pelas Nações Unidas, o Vatican News explica que “os agressores vieram de um reduto a cerca de 12 km do centro de Komanda e fugiram antes da chegada das forças de segurança”, e que, além do ataque à Igreja, “várias casas e lojas também foram incendiadas”.

MASSACRE DE CRIANÇAS

O missionário português Marcelo Oliveira, um comboniano presente na República Democrática do Congo desde há vários anos, referiu alguns detalhes do que aconteceu numa mensagem enviada ainda na noite de ontem para a Fundação AIS em Lisboa. Segundo o sacerdote, muitas das vítimas eram crianças.

“Mais uma vez assistimos, na parte este da nossa República Democrática do Congo, a um massacre de pessoas inocentes.  Desta vez, foram cristãos, jovens cristãos de um grupo chamado Cruzada Eucarística, que se encontravam numa sessão de formação, típica neste período de férias para crianças”, explica o sacerdote.
“Durante o momento de uma vigília de oração – o ataque terá ocorrido de madrugada, pela 1 hora da manhã – os rebeldes entraram na igreja e assassinaram uma quantidade imensa de crianças, na igreja e no centro”, acrescenta, pedindo as orações de todos pela paz neste país africano. “Continuemos a rezar por este imenso país, pedindo a graça da paz”, concluiu.

OUTROS MASSACRES DE CIVIS

O ataque provocou já algumas reacções, nomeadamente do ministro dos Negócios Estrangeiros de Itália, Antonio Tajani, que numa nota publicada na rede social “X” afirmou que “os locais de culto devem sempre ser preservados e a liberdade religiosa protegida”, e que o seu país “está próximo das famílias das vítimas e do povo congolês”. Também a Conferência Episcopal francesa exprimiu ainda ontem, e num breve comunicado, “a emoção e profunda tristeza pelo ataque assassino na República Democrática do Congo”.

Ontem também, o portal de notícias do Vaticano recordava que, ao longo dos anos, as ADF foram já responsáveis por vários massacres contra civis, matando milhares de pessoas, e que operam essencialmente na zona fronteiriça entre o Uganda e Congo.

A actuação das Forças Democráticas Aliadas, nomeadamente no que diz respeito aos ataques à comunidade cristã, tem vindo a ser sinalizada com preocupação por diversas entidades, nomeadamente a nível europeu. Sinal disso, este ano, em Março, até a Assembleia Municipal de Lisboa condenava os “massacres, nomeadamente de cristãos”, na República Democrática do Congo.

No texto, aprovado por unanimidade, em que são citadas notícias da Fundação AIS, são referidos actos de extrema violência contra as populações, com destaque para as “violações de mulheres e meninas”.

DÉCADAS DE VIOLÊNCIA GENERALIZADA

Anteriormente, a 3 de Abril, o Parlamento Europeu aprovava uma resolução de condenação dos ataques “contra comunidades cristãs” cometidos pelos militantes das Forças Democráticas Aliadas [ADF], apelando “à solidariedade internacional em defesa da liberdade religiosa e da protecção das minorias em zonas de conflito” na República Democrática do Congo.

No documento, os deputados europeus reconheciam que este país africano tem sofrido “décadas de violência generalizada” na sua região leste, onde existem conflitos armados que “criaram terreno fértil para o surgimento de mais de 100 grupos extremistas que têm como alvo populações vulneráveis, incluindo comunidades religiosas”.

Segundo os parlamentares europeus, os militantes da ADF foram responsáveis por diversos actos de violência especificamente contra cristãos, dando como exemplo o ataque em 2023 a uma igreja pentecostal em Kasindi, em que morreram 14 pessoas, assim como em Beni, já em Janeiro do ano passado, com oito vítimas mortais também numa igreja evangélica.

CRISTÃOS EXECUTADOS EM FEVEREIRO DE 2025

Segundo os dados apresentados no Parlamento Europeu, as ADF foram também responsáveis pela morte de 14 católicos no Kivu Norte, em Maio de 2024, por causa da “sua recusa em se converterem ao islamismo”, assim como outros 11 cristãos “executados” na aldeia de Ndmino, na província de Ituri, em que “outros cristãos” foram igualmente sequestrados. Já em Fevereiro deste ano, noutro ataque atribuído às ADF, e visando especificamente a comunidade cristã, mais de 70 corpos foram encontrados numa igreja protestante na localidade de Maiba, no território de Lubero, também na República Democrática do Congo.

O padre comboniano Marcelo Oliveira, em missão há vários anos neste país de África, disse então, em mensagem enviada para a Fundação AIS em Lisboa, que não tinha dúvidas em afirmar que se tratou de um massacre. “Esta é uma situação preocupante a que, como cristãos, não podemos ficar indiferentes”, disse o sacerdote.

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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