R.C. AFRICANA: “Sereno e tranquilo”, descreveu D. Aurélio Gazzera sobre a sua ordenação como Bispo coadjutor de Bangassou

Com a Catedral de Bangui completamente cheia de fiéis e convidados, D. Aurélio Gazzera foi ordenado Bispo coadjutor de Bangassou no passado dia 9 de Junho numa cerimónia que durou três horas. O missionário carmelita, grande amigo da Fundação AIS, descreveu em pormenor o que aconteceu no seu blogue pessoal e destaca o “abraço mais lindo” que recebeu de D. Juan Aguirre, o Bispo com quem agora vai partilhar a vida da diocese.

“Depois de uma semana de oração, os últimos dias antes de 9 de Junho voaram, um após o outro, para continuar os preparativos finais.” É assim que começa o texto de D. Aurélio Gazzera sobre a semana em que foi ordenado Bispo coadjutor de Bangassou, uma diocese gigantesca na República Centro-Africana, país onde a presença carmelita é assinalável. “Na sexta-feira, 7, os convidados começaram a chegar. Às 7 da manhã chegam Miguel e Nuria, irmãos de Mons. Aguirre. E às 11h40 o avião etíope pousou com 38 colegas, pais (a minha irmã e o marido dela, o meu sobrinho e a namorada dele) e amigos. Instalamo-los nas diferentes áreas de acolhimento (os pais no Carmelo, os restantes no centro de acolhimento e no hotel).”

O relato prossegue, minucioso, sobre todos os preparativos e a cerimónia em si, no domingo, dia 9. A ordenação episcopal, seguindo a “longa e bela tradição africana”, como recorda o missionário carmelita, contou com três bispos consagrantes. Além de D. José Aguirre, o Bispo de Bangassou, que Gazzera vai agora coadjuvar, a cerimónia contou com o Cardeal Nzapalainga, Arcebispo de Bangui, acompanhado por Monsenhor Nestor Nongo, presidente da Conferência Episcopal.

A Catedral de Bangui estava completamente cheia de fiéis e convidados. Estiveram presentes o presidente da Assembleia Nacional, alguns membros do governo, o embaixador da Itália, elementos da família do novo bispo, a sua família carmelita, amigos, seminaristas e fiéis de Bangassou, uma delegação de 150 pessoas de Bozoum, outros de Baoro, e dezenas de ex-seminaristas de Yolé, assim como dezenas também de religiosos e muitas, muitas pessoas. 

A cerimónia foi longa e emotiva. “O cardeal, diante de todos os bispos e do povo de Deus, pergunta-me se aceito o ministério episcopal, isto é, viver e anunciar, guiar e governar e santificar o povo de Deus que me foi confiado. Depois, enquanto estou prostrado por terra, toda a assembleia reza por mim e sobre mim, invocando a intercessão dos santos. No final, os bispos impõem-me silenciosamente as mãos, um gesto muito antigo que significa o dom do Espírito Santo, e recitam uma oração de consagração, enquanto dois diáconos seguram o livro dos Evangelhos aberto sobre mim.” A descrição continua pelo punho do novo prelado. “Assim sou bispo, sucessor dos apóstolos, pai e pastor do povo de Deus. Não pelos meus próprios méritos, mas pela graça de Deus! Depois o cardeal unge-me a testa com óleo do crisma, entrega-me os evangelhos, põe-me o anel (sinal de fidelidade à Diocese, ao povo de Deus que me foi confiado), a mitra e o báculo. Sou bispo e os bispos presentes saúdam-me com um caloroso abraço. E o abraço mais lindo é o de Juan José Aguirre, bispo de Bangassou, com quem trabalharei lado a lado na “nossa” Diocese.”

Sou bispo e os bispos presentes saúdam-me com um caloroso abraço. E o abraço mais lindo é o de Juan José Aguirre, bispo de Bangassou, com quem trabalharei lado a lado na “nossa” Diocese.”

“OS REBELDES CONTINUAM A FAZER ESTRAGOS…”

Recentemente, já na preparação para a sua ordenação episcopal, Gazzera falou com a Fundação AIS numa entrevista e numa mensagem áudio. Em ambos os momentos, o novo bispo coadjutor de Bangassou traçou um retrato não só da diocese mas de todo o país, ainda apanhado na armadilha da violência e da instabilidade. “A situação na República Centro-Africana ainda é muito instável e há muitas zonas em que os rebeldes continuam a fazer estragos e a ditar a lei, provocando a agitação e o caos”, disse. “Existe também uma grande instabilidade económica e política e o sistema educativo é muito frágil”, acrescentou o carmelita.

Gazzera, que completou 60 anos da idade a 27 de Maio, diz, no entanto, que apesar de todas as dificuldades a República Centro-Africana “é um país abençoado”, com uma Igreja “que procura levar esperança, fé e amor a todas as pessoas”. Na mensagem áudio, missionário carmelita explica que neste país africano, com uma história recente muito traumática, a Igreja tem sido “abençoada com muitas vocações, muitos seminaristas, com Missas muito participadas”. E fala mesmo em fiéis entusiasmados. “As dificuldades não diminuem o entusiasmo das pessoas para ouvir Jesus e aprender com Ele. Mas há ainda muito trabalho a fazer.”

Bangassou, a nova diocese do novo Bispo é enorme, geograficamente falando, com 135 mil quilómetros quadrados, bem mais do que Portugal que, por exemplo, não chega aos 93 mil… Mas o tamanho é apenas um dos problemas que o Bispo tem de enfrentar. A diocese, tal como o país, tem sido palco de confrontos entre grupos armados que geram um clima de grande insegurança a que ninguém está verdadeiramente a salvo.

Ainda há um ano um missionário carmelita, o italiano Norberto Pozzi seria gravemente ferido numa perna coma explosão de uma mina terrestre. Na entrevista à Fundação AIS, Aurélio Gazzera fala sobre isso. “A situação na República Centro-Africana continua muito difícil e instável. Por um lado, existem áreas que se tornaram mais calmas. Em outras áreas, no entanto, ainda há grande insegurança. Apenas em Dezembro passado, uma vila na diocese de Bouar foi atacada. 28 pessoas foram mortas e 900 casas foram incendiadas. Algumas missões na diocese de Bangassou também estão fechadas devido a ataques nos últimos meses”, disse o novo prelado, acrescentando que, desta forma, se pode dizer que “a situação de segurança permanece precária em grande parte do país”.

Nessa entrevista, Gazzera faz também como que um plano de actividades do que pretende fazer a partir de agora como bispo coadjutor. Um plano que passa, em primeiro lugar, por dar continuidade ao trabalho e ao esforço missionário de D. José Aguirre, que classifica como “bispo excepcional que lançou muitas iniciativas”. “Existem escolas, orfanatos, uma escola de catequistas e, acima de tudo, um número gratificante de vocações. Junto com o Bispo Aguirre, visitei os 30 jovens de Bangassou que estão se preparando para o sacerdócio na capital Bangui. Vi jovens felizes e confiantes, que dão alegremente suas vidas a Jesus. Continuar o trabalho do Bispo Aguirre será uma tarefa enorme, mas estou feliz por poder servir na diocese de Bangassou e já a amo”, declarou.

Existem escolas, orfanatos, uma escola de catequistas e, acima de tudo, um número gratificante de vocações."

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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