Cinco dias, sete dioceses, mais de mil quilómetros percorridos. A Red Week, promovida pela Fundação AIS, mobilizou centenas de pessoas em Portugal numa iniciativa internacional de alerta para a perseguição religiosa no mundo. Vindo de Alepo, na Síria, o Padre Hugo Alaniz testemunhou de viva-voz o que significa viver num país onde a perseguição e a discriminação fazem parte do dia-a-dia das comunidades cristãs. A Red Week foi também uma oportunidade para responsáveis máximos da Igreja no nosso país manifestarem a sua proximidade para com a missão da AIS de apoio aos Cristãos perseguidos pela sua fé em tantos países do mundo…
A transmissão em directo, pela RTP1, da Missa celebrada em São Domingos de Benfica, no Patriarcado de Lisboa, permitiu que largos milhares de portugueses escutassem o testemunho do Padre Hugo Alaniz, um sacerdote argentino do Verbo Encarnado em missão há vários anos em Alepo, na Síria, e que veio ao nosso país explicar como é viver, como é sobreviver num país onde, nos últimos anos, os cristãos são perseguidos ou discriminados por causa da sua fé.
Mas se o Padre Hugo foi escutado por milhares de portugueses pela televisão, houve largas centenas que tiveram o privilégio de o ouvir de viva-voz nos vários encontros promovidos pela AIS ao longo da Red Week, a Semana Vermelha em que a fundação pontifícia chamou a atenção do mundo para a situação dramática, em tantos países, da perseguição religiosa. Foi assim desde quarta-feira, dia 19, até domingo, 23 de Novembro.
A Volta a Portugal pelos Cristãos perseguidos serviu também para a apresentação em todas as dioceses dos dados essenciais do mais recente Relatório da Fundação AIS sobre a Liberdade Relgiiosa no Mundo, lançado a nível internacional a 21 de Outubro. A Volta a Portugal pelos Cristãos perseguidos começou com o Padre Hugo a celebrar a eucaristia na Capelinha das Aparições, e terminou no Santuário do Cristo Rei, em Almada, com outra celebração, desta vez presidida pelo Cardeal Américo Aguiar.
Testemunho do Padre Hugo Alaniz
A partir de Fátima, e em todas as dioceses por onde andou a comitiva da Fundação AIS, o Padre Hugo Alaniz falou das dificuldades que os cristãos enfrentam na Síria, uma situação que teve início com a revolta da Primavera Árabe, em 2011, e que continua, de alguma forma, a fazer-se sentir neste país do Médio Oriente. Foi num silêncio às vezes comovido que centenas de pessoas escutaram em todas as dioceses o testemunho sobre os desafios e dificuldades que os cristãos enfrentam neste país do Médio Oriente.
O sacerdote descreveu, por vezes com minúcia, alguns episódios dos duros anos de guerra civil na Síria e a crise económica que desde há muito tem estrangulado a vida das famílias neste país do Médio Oriente. “Na Síria normalmente só temos electricidade duas horas por dia”, disse, dando isto como um exemplo do dia-a-dia. “Há 15 anos os sírios viviam bem. Hoje são pobres e rezam para não adoecerem, pois não há medicamentos ou dinheiro para os comprar”, acrescentou o Padre Alaniz.
O seu testemunho, em todas as dioceses, foi marcado sempre por um apelo à oração pela Síria, país que assistiu, há um ano, a 8 de Dezembro, à queda do regime de Bashar al-Assad. Desde então, é enorme a expectativa sobre o futuro, embora o quotidiano continue a ser marcado pela crise, pela pobreza, por vezes mesmo pela miséria.
Dirigindo-se aos que o escutavam, o Padre Hugo Alaniz pediu para os portugueses “acreditarem na missão da Igreja, rezarem pela paz, rezarem pelos que são perseguidos”. E pediu também para que cada um procure viver a sua fé sempre com mais e mais intensidade. “Sejam em cada dia que passa melhores cristãos, melhores católicos”, disse.
Falar sobre o sofrimento dos cristãos
Foi assim nas dioceses de Viana do Castelo, Braga, Porto, Évora, Lisboa e Setúbal. No conjunto, foram percorridos mais de mil quilómetros, largas centenas de pessoas, no total, seguramente mais de mil, escutaram o testemunho deste sacerdote, rezaram pelos Cristãos perseguidos e deram exemplo também do carinho com que, de norte a sul de Portugal, é encarada a missão da Ajuda à Igreja que Sofre.
Para a directora do secretariado nacional da AIS, “a Semana Vermelha ajudou a fazer luz sobre o sofrimento dos cristãos que vivem em países onde não há liberdade religiosa ou onde são discriminados”. “Foi fantástico perceber como tantas centenas de pessoas saíram do conforto das suas casas, enfrentaram o frio da noite e decidiram não só escutar as palavras do Padre Hugo Alaniz, como aceitaram comprometer-se na defesa dos que sofrem, dos que são perseguidos por causa da sua fé”, diz ainda Catarina Martins de Bettencourt.
Ao assinarem a petição lançada pela AIS em defesa da liberdade religiosa, estão também a destacar esta questão tão sensível e tão importante e que afecta milhões de pessoas em todo o mundo. A Semana Vermelha foi um sinal de alerta para que os portugueses não fiquem indiferentes ao sofrimento dos que são violentados nos seus direitos fundamentais por causa da sua fé, da sua religião, por querem fazer coisas que deveriam ser simples como, por exemplo, rezar em liberdade. São coisas simples e normais aqui em Portugal, é verdade, mas são seguramente quase impossíveis, ou impossíveis mesmo, em muitos lugares, em alguns países. Tomar consciência disso, é um primeiro passo para vivermos a nossa própria fé de uma forma mais adulta.”
Catarina Martins de Bettencourt
“Perseguição religiosa não pode ser esquecida”
O primeiro ponto de encontro foi na Diocese de Viana do Castelo. Foi em Arcos de Valdevez, na noite de quarta-feira, dia 19 de Novembro, e contou com a participação de D. João Lavrador. Num breve testemunho, o prelado fez questão de agradecer a iniciativa promovida pela Fundação AIS, “porque veio despertar a comunidade para a realidade da Igreja que, nos tempos de hoje, continua a transportar em si o mistério pascal de Cristo, e que, em tantas partes do mundo, continua realmente a ser sacrificada”.
O Bispo de Viana do Castelo lembrou que a questão da perseguição religiosa não pode ser esquecida, mesmo aqui, no Velho Continente. “Como o Papa São João Paulo II afirmou tantas vezes, nesta Europa que parece estar a apostatar a fé e onde o cristianismo é erradicado de diversas formas, nós também temos de pensar, realmente, que há um martírio dos cristãos que querem ser fiéis.”
D. João Lavrador terminou sublinhando a necessidade de não se ter medo de afirmar a fé, a exemplo dos que, em tantos lugares do mundo, o fazem arriscando até a própria vida. “Gostaria realmente de louvar a acção desta Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, precisamente porque realça e traz-nos o testemunho de fidelidade de tantos e tantos cristãos, por nos ajudar também a nós, no nosso contexto, a sermos verdadeiramente fiéis ao cristianismo e a não termos medo, que é, realmente, aquilo que Jesus Cristo nos disse: não ter medo.”
Relatório da AIS “faz estremecer”, diz Arcebispo de Braga
O roteiro prosseguiu e de Viana do Castelo entrou-se em terras da Arquidiocese de Braga. O Padre Simon Ayogu, da Igreja Nova de Lomar, acolheu a equipa da AIS para uma Noite de Testemunhas do que é viver a fé em países sem liberdade religiosa.
O encontro contou com a presença do Arcebispo de Braga e também D. José Cordeiro falou sobre a perseguição aos Cristãos no mundo, dizendo que a leitura do Relatório da Fundação AIS “faz estremecer”. E lembrou que neste século “já morreram mais pessoas a testemunhar a fé do que quase em toda a história da Igreja”.
O Arcebispo de Braga referiu que “esses mártires são pessoas comuns que estão a contagiar o mundo com o seu testemunho, porque é o amor que vence, não são as armas”. Falando para uma plateia que praticamente encheu a Igreja de Lomar, D. José Cordeiro referiu que todos os Cristãos podem, no lugar onde vivem, onde trabalham “com a sua conduta, com o seu testemunho, testemunhar também outros para [a construção] de um mundo mais humano, mais fraterno, e onde a perseguição religiosa não tenha lugar”.
E terminou a sua intervenção, em que agradeceu também o trabalho e a missão da Fundação AIS, apelando a que todos “possam erguer a sua voz na construção de um mundo mais fraterno”. Um mundo em que nunca estarão “uns contra os outros, nunca uns sem os outros, mas sempre uns com os outros”.
“Estamos gratos ao trabalho da AIS”
A Volta a Portugal pelos Cristãos perseguidos, da Fundação AIS prosseguiu depois para a Diocese do Porto. O ponto de encontro, na sexta-feira, 21 de Novembro, foi o Mosteiro do Divino Salvador de Moreira, no município da Maia, que esteve exemplarmente iluminado de vermelho, com a comunidade bem mobilizada pelo Padre Augusto Miranda. O Bispo auxiliar do Porto, D. Joaquim Dionísio, participou no evento e manifestou também a sua gratidão pela presença da Ajuda à Igreja que Sofre na diocese e pela missão em defesa dos Cristãos perseguidos no mundo.
“Todos nós estamos gratos ao trabalho da AIS ao longo deste tempo, pois além de nos mostrarem o sofrimento de muitos, vão-nos alertando para a importância da universalidade da Igreja”, disse. “E por isso, eventos como este que estamos aqui hoje a viver, em Moreira da Maia, neste belo mosteiro, são uma ocasião de usufruirmos deste trabalho que a AIS faz e ao mesmo tempo são também um convite, um compromisso, porque mesmo longe nós podemos tornar-nos próximos daqueles que, um pouco por todo o lado, vão sofrendo por causa da falta de liberdade para expressarem, viverem, celebrarem a sua fé”, afirmou o prelado.







Mosteiro da Cartuxa rezou pelos Cristãos perseguidos
Paragem seguinte, foi a cidade de Évora. Perante a comunidade das religiosas que agora habitam o Mosteiro da Cartuxa e algumas dezenas de pessoas, D. Francisco Senra Coelho fez uma declaração sentida sobre a urgência de se ajudar por todos os meios possíveis os que arriscam tudo, às vezes até a própria vida, por causa da sua fé.
“Impressiona-me muito que sejam os mais pequeninos, os mais pobres, os que pisam o chão com o pé descalço, os que são os mártires da Igreja. Também há mártires nos países ricos – outro tipo de martírio: a crueldade da indiferença, do desprezo, do anacronismo, do ridículo, da exclusão, da imposição de leis iníquas, como o direito universal da pessoa humana ao aborto. Também há mártires na Europa, no chamado primeiro mundo, mas a mim fere-me muito o coração ver que são os mais pobres, os mais pequeninos, os últimos da escala que juntam a pobreza ao martírio”, disse, sublinhando a importância de iniciativas como a Semana Vermelha, em que se procura desinstalar as pessoas do seu comodismo.
“Quando vivo num mundo de vida burguesa, de vida acomodada, quando no fundo nada me falta, há gente que luta por uma tigela de arroz cozido em água, e que depois morre na Missa proibida, à rajada de uma metralhadora”, disse, concluindo com uma palavra de agradecimento à Fundação AIS. “Quero fazer preito de gratidão, de homenagem, de reconhecimento a este trabalho, a este carisma fundacional da Igreja que Sofre; que vai despertando entre nós aqueles que, muitas vezes, não somos mais do que pessoas instaladas — a começar por mim e a acabar em mim… Muito obrigado à Igreja que Sofre.”
Missa transmitida em directo pela RTP1
A Semana Vermelha terminou no sábado com encontros de jovens em Lisboa e Setúbal. Foi um fim-de-semana que começou cedo, com a celebração da Missa na Igreja de São Domingos de Benfica e que teve transmissão em directo pela RTP1, permitindo que milhares de portugueses escutassem também o testemunho sentido do Padre Hugo Alaniz. Mas também o pároco, frei Mário Rui Marçal, teve palavras de apreço pela iniciativa da AIS e pela urgência de se ajudar os cristãos perseguidos no mundo.
“A Fundação Ajuda à Igreja que sofre é um sinal e um impulso desta forma física e pragmática e suscita o poder da nossa oração, da nossa obra, da nossa solidariedade e da nossa acção. Em favor dos que são perseguidos e dos que vivem a sua fé em condições extremamente difíceis, marcadas pela violência, pela fome, pela opressão e pelo medo. A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre pode chegar onde nós não chegamos, mas ela precisa do nosso poder para continuar a apoiar e a servir aqueles que Deus lhe confia e aqueles que Deus nos confia”, disse durante a homilia.
Praticamente ao mesmo tempo, decorria na casa das Irmãs de Nossa Senhora de Fátima, no Largo de São Mamede, onde algumas dezenas de jovens participavam na Jornada Diocesana da Juventude. Primeiro estes jovens escutaram a directora da Fundação AIS a explicar em linhas gerais o que é a instituição e também a apresentar os dados principais do Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, e depois puderam ouvir, com atenção, o relato do Padre Hugo Alaniz.
“Chamar a atenção de todos, todos, todos…”
Da parte da tarde, a equipa da Fundação AIS foi até ao Santuário do Cristo-Rei, em Almada, onde no Pavilhão do Rosário outras dezenas de jovens tiveram também a oportunidade de escutar o Padre Alaniz. O encontro terminou com a celebração da eucaristia presidida por D. Américo Aguiar.
Em declarações à Fundação AIS, o cardeal sublinhou a importância de um evento com a dimensão da Red Week, a Semana Vermelha, ter terminado na Diocese de Setúbal, assim como destacou a urgência de a sociedade despertar para o tema da perseguição religiosa, do martírio pela fé.
“Nós encerramos a Red Week, ou seja, chamar a atenção de todos, todos, todos, como nos ensinou o nosso querido Papa Francisco, para a desgraça, para o sofrimento de tantos irmãos e irmãs que vivem em perseguição religiosa. Mais uma vez, fomos despertados para a urgência, para a necessidade e para a emergência de estarmos atentos à vida de tantos irmãos e irmãs que, pelo mundo inteiro, não podem pura e simplesmente viver a sua fé”, disse o prelado, lembrando “os que têm derramado o seu próprio sangue”.
D. Américo lembrou que o vermelho da Red Week vem daí, como, aliás, “o próprio vermelho dos cardeais”. “Felizmente falamos disto teoricamente, porque muitos irmãos e irmãs vivem à letra o que é derramar o seu sangue e ser mártir por dar testemunho da fé em Jesus Cristo. Que eles intercedam junto de Deus por cada um de nós e nós criemos condições para que todos possam viver a sua fé em liberdade”, concluiu o Bispo de Setúbal.
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt




