A Fundação AIS está a promover durante a Quaresma uma grande campanha de apoio à Igreja na Nigéria, onde os Cristãos são alvos constantes de ataques e perseguição. Sensibilizar a opinião pública para esta realidade, que é quase desconhecida, e ajudar a comunidade cristã é o grande objectivo desta iniciativa.
“Não imaginava que iria ver o sofrimento humano desta maneira. Aldeias queimadas, pessoas a serem mortas em suas casas, algumas que não conseguiram sequer enterrar os seus mortos, porque foram alvejadas no mato como se fossem animais selvagens.” A frase, o lamento, é do Pe. Remigius Ihyula. Ele está na Diocese de Makurdi, na Nigéria. Só nesta diocese há dois milhões de deslocados internos. Todos eles fugiram da violência do Boko Haram, o temível grupo terrorista que quer transformar o norte do país num califado e que colocou os Cristãos na mira das suas armas. O seu testemunho faz parte da campanha “SOS Cristãos da Nigéria”, que a Fundação AIS lançou, a nível global, nesta Quaresma. O objectivo é apoiar a comunidade cristã, vítima de perseguição, mas também sensibilizar a opinião pública para uma realidade que, tantas vezes, é completamente desconhecida.
O flagelo dos raptos
Com cerca de 206 milhões de habitantes, a Nigéria é o país mais populoso de África. É também a maior economia. E é também um dos países onde os Cristãos mais são perseguidos e onde, por vezes, vivem na maior pobreza. No ano de 2022 foram raptados 28 sacerdotes. E quatro foram assassinados. “Ser padre, na Nigéria, envolve o risco de ser raptado”, explica o Pe. Andrew Danjuma. Este sacerdote está na Diocese de Jos, uma das mais atingidas pelo flagelo dos raptos. Todo o cuidado é pouco. “Um homem de motocicleta olhou para mim com desconfiança. Eu estava, claro, de batina, e fiquei logo alarmado”, conta o Pe. Andrew à Fundação AIS. Mas também há o rapto de jovens, especialmente raparigas. O caso de Leah Sharibu, a jovem cristã raptada de uma escola em Dapchi, há cinco anos, é particularmente chocante. Na ocasião, os raptores, pertencentes ao Boko Haram, levaram à força 110 alunas. Todas acabariam por ser libertadas ao fim de poucas semanas. Todas menos Leah, a única cristã do grupo que recusou renunciar à sua fé como os terroristas exigiam. Ficou em cativeiro. Tinha apenas 14 anos de idade. “É preciso que o mundo conheça estas histórias, é preciso que o mundo saiba que na Nigéria os Cristãos são perseguidos de forma brutal por grupos jihadistas, como o Boko Haram, mas também pelas próprias autoridades, pelo Governo, que os discrimina”, diz a directora da Fundação AIS em Portugal. “Os Cristãos da Nigéria são verdadeiros heróis que arriscam a vida pela sua fé e são, por isso, para todos nós, um enorme exemplo de coragem, de abnegação. Temos o dever de os ajudar, temos o dever de responder aos seus apelos”, acrescenta Catarina Martins de Bettencourt.
Lembrar os mártires
A insegurança na Nigéria tem crescido de ano para ano, levando a Fundação AIS a aumentar também o número de projectos neste país. E muitos estão ligados, por exemplo, ao apoio a comunidades e dioceses que lidam directamente com os deslocados. Só na Diocese de Makurdi, onde está o Pe. Remigius Ihyula, há sete campos para deslocados internos, pessoas que tiveram de abandonar as suas casas e que, agora, dependem totalmente da ajuda da Igreja para sobreviverem no dia-a-dia. “Estas pessoas – diz Catarina Bettencourt – tinham as suas vidas, as suas coisas, as suas casas e ficaram sem nada. Por causa da violência dos terroristas, dos grupos armados, agora são como mendigos. Muitos nem têm uma esteira para dormir”, diz ainda a responsável do secretariado nacional, referindo uma das histórias que ilustram a campanha “SOS Cristãos da Nigéria” que a fundação pontifícia está a promover, a nível global nesta Quaresma. São histórias reais de pessoas concretas que, de alguma forma, simbolizam a Igreja mártir e corajosa em África. Uma dessas histórias recorda-nos Michael Nnadi, o jovem de 18 anos, seminarista, que era querido de todos e que foi raptado com mais três colegas em Janeiro de 2020. Michael acabou por ser assassinado, mas não foi esquecido. No Memorial dos Mártires, que está a ser construído também com o apoio da Fundação AIS, haverá um espaço para ele.
“Eles contam connosco…”
A construção deste memorial é um exemplo dos projectos que estão a ser realizados na Nigéria graças à generosidade dos benfeitores da Ajuda à Igreja que Sofre. A maioria desses projectos está relacionada com a formação de padres e religiosas, mas também inclui a construção e renovação de igrejas, seminários, a assistência às vítimas da violência, o apoio a iniciativas de oração pela paz nas comunidades e, não menos importante, a aposta no diálogo inter-religioso. Apesar de a Nigéria ser um país com uma economia forte no contexto africano, não é difícil encontrar comunidades cristãs muito pobres. Também aí, na sobrevivência do clero, está um desafio a que somos chamados a responder. O Pe. Thaddeus Ekene Anasigwe é um desses sacerdotes. Ele está na Diocese de Abuja, numa zona muito humilde. A sua história faz parte também da Campanha da Quaresma da Fundação AIS. “As condições de vida aqui são muito, muito pobres”, explica. “As pessoas nem sequer têm água, luz ou cuidados de saúde. Há problemas de segurança”, diz ainda. No entanto, apesar de tudo isso é aí que se sente em casa. “Todos os dias estas pessoas fazem um esforço para ver Cristo umas nas outras”, conclui. É para todos eles, os padres, as irmãs, os seminaristas, os leigos que arriscam todos os dias tantas vezes a própria vida por serem cristãos que foi lançada esta iniciativa “SOS Cristãos na Nigéria”. “A Campanha da Fundação AIS – sintetiza Catarina Bettencourt – procura ser uma chamada de atenção para a existência, neste caso na Nigéria, de uma comunidade cristã que sofre, que é perseguida. É uma Igreja de mártires que resiste e que conta connosco. Não os podemos abandonar. Os Cristãos da Nigéria precisam muito de nós, das nossas orações, da nossa solidariedade. Nesta Quaresma, lembremo-nos deles, rezemos por eles, ajudemo-los”, pede a directora da Fundação AIS.