A violência, no Burquina Fasso, está a atingir proporções inquietantes e os cristãos, apesar de serem uma minoria, são um dos alvos dos grupos armados jihadistas que praticamente já controlam metade do país. A Fundação AIS, que tem vindo a receber histórias dramáticas de populações em fuga, de sobreviventes, de famílias em angústia, acaba de lançar aqui em Portugal uma campanha de solidariedade para com estes cristãos. “Não podemos ficar indiferentes a tanto sofrimento”, diz Catarina Bettencourt, directora do secretariado nacional da fundação pontifícia.
“Todos os dias, à hora dos telejornais, ficamos a par da guerra que persiste na Ucrânia, na Faixa de Gaza e, agora também no Líbano. Muitos podem acreditar que só nestes locais que se travam batalhas. Puro engano. A realidade é ainda mais dura, pois há muitas guerras esquecidas. Infelizmente, muitos desses conflitos são ignorados. Acontecem quase em silêncio, longe dos holofotes da imprensa, da rádio e da televisão. Um desses países é o Burquina Fasso.”
É assim que começa a carta que está a chegar, por estes dias, a casa de milhares de benfeitores portugueses da Fundação AIS. Assinada pela directora do secretariado nacional da fundação pontifícia, a carta é um apelo à solidariedade para com a pequena, mas martirizada comunidade cristã do Burquina Fasso, alvo de constantes ataques por grupos armados jihadistas que procuram estabelecer na região um ‘califado’ onde os Cristãos não têm lugar.
A insegurança tem crescido de dia para dia, levando à fuga de mais de 2 milhões de pessoas que se têm vindo a refugiar em campos de deslocados internos. “Estes campos tornaram-se o retrato mais cruel do sofrimento e da desolação deste povo que, há anos, luta diariamente pela sua sobrevivência”, explica na carta Catarina Martins de Bettencourt.
MASSACRE DE 150 PESSOAS EM MANNI
Ainda recentemente, no início de Outubro, a Fundação AIS dava a notícia do massacre de, pelo menos, 150 pessoas durante três dias ininterruptos de ataques na aldeia de Manni, povoação na região leste do Burquina Fasso que integra uma significativa comunidade cristã.
O Bispo de Fada N’Gourma classificou o que aconteceu como “bárbaro”, pois além de os terroristas terem disparado indiscriminadamente sobre a população que estava reunida no mercado local depois da Missa de domingo – logo no primeiro dia de ataques, a 6 de Outubro –, foram incendiados diversos edifícios, queimando vivas algumas das pessoas que se encontravam no seu interior. Um dos sobreviventes do ataque contou à Fundação AIS que foi “mais que horrível”.
Na carta, a responsável da Fundação AIS em Portugal descreve a situação que se vive neste país como “desesperante”.
A cada novo ataque, o impacto sobre a população civil é avassalador: mortes, violações e até crianças são recrutadas como soldados. Não podemos ficar indiferentes a tanto sofrimento. As histórias que nos chegam deste país são de partir o coração.
Catarina Martins de Bettencourt
E refere uma dessas histórias de cristãos forçados a fugir face à violência dos grupos jihadistas. É a história de Robert Sawadogo, um cristão que, com a esposa e o filho pequeno, conseguiu escapar de motorizada com apenas um saco de com meia dúzia de coisas à chegada dos terroristas à sua aldeia. “Agora, esta família enfrenta um futuro incerto, marcado pela tristeza e pelo desespero”, diz Catarina Bettencourt, lembrando que os três estão agora de mãos completamente vazias, dependendo da ajuda que possam, ou não, receber.
As palavras de Robert, sublinha a directora da AIS, “são uma súplica, um grito de desespero”. “Como ele, há milhares de cristãos, milhares de deslocados e refugiados que estão sem nada”, acrescenta.
INTENSIFICAR O APOIO HUMANITÁRIO
É para ajudar todos estes cristãos, vítimas deste conflito esquecido pelo mundo, que a Fundação AIS acaba de lançar em Portugal mais uma campanha de solidariedade. O objectivo é ajudar directamente estas famílias e apoiar também a Igreja local que tenta socorrer, como pode, a comunidade cristã e todas as vítimas da violência jihadista.
“Em resposta à escalada da violência, a Fundação AIS intensificou os seus esforços no apoio humanitário, distribuindo alimentos, prestando cuidados de saúde, educação e dando apoio espiritual aos milhares de deslocados no Burquina Fasso. Mas é preciso mais”, explica a responsável do secretariado nacional da AIS. “Por isso, lançámos mais esta campanha de solidariedade em apoio aos nossos irmãos cristãos do Burquina Fasso, que, apesar de ameaçados, nos têm mostrado uma coragem e fé inabaláveis”, sintetiza Catarina Bettencourt.
BURQUINA FASSO – CRUZ DOLOROSA
Para a promoção da campanha da Fundação AIS, intitulada “Burquina Fasso – Cruz dolorosa”, foi editado uma pequena revista em que relatam histórias e testemunhos de cristãos que têm sofrido na pele a violência terrorista neste país africano.
Além da história de Robert Sawadogo, que a directora da AIS refere na carta, dão-se a conhecer os casos de outros refugiados mas também de sacerdotes e responsáveis da Igreja que todos os dias procuram minorar o sofrimento de todas estas pessoas. É o caso de Moïse, por exemplo, que viu um padre ser assassinado à sua frente durante a celebração da Missa. Ou do padre Jean-Pierre Keita, raptado pelos terroristas e levado para a floresta. São histórias carregadas de violência, mas também de coragem na fé. “Muitos fiéis recusam-se a tirar as cruzes que usam. Estão dispostos a morrer”, diz o Bispo de Ouahigouya, num dos muitos testemunhos que a Fundação AIS publica também neste Boletim de apoio à campanha de solidariedade para com os cristãos do Burquina Fasso.
“Cada donativo que conseguirmos juntar faz toda a diferença e permite levar um pouco de esperança a quem perdeu tudo”, lembra Catarina Bettencourt na carta enviada esta semana para casa de milhares de portugueses. Quem desejar receber o Boletim ou colaborar na campanha “Burquina Fasso – Cruz dolorosa”, pode fazê-lo contactando directamente com a Fundação AIS pelo telefone 217544000 ou em fundacao-ais.pt.
Apoie milhares de famílias cristãs deslocadas no Burquina Fasso
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt