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Folha de Oração Mensal
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Novembro, o mês das Almas
Bem-aventurados os que morrem no Senhor, que repousem dos seus trabalhos, porque as suas obras os acompanham (Ap 14,13).
O mês de Novembro traz-me à memória a minha tia Alexandrina, que sempre conheci muito velhinha. Ia sempre visitar-me, e dela aprendi, e nunca esqueci, o que ela dizia com aquela fé e aquela convicção que vinham do fundo do tempo: «Eu tenho uma grande devoção às almas do purgatório!… E tu, quando fores Padre, nunca deixes de rezar por elas!… Elas conseguem-nos muitas graças!…». E aqui estava toda a fé simples da minha tia Alexandrina sobre aquilo que a teologia designa como escatologia intermédia. E esta teologia ainda me recordava a minha Mãe, que me repetia vezes sem conta: «Isto nunca mais me esqueceu!…»; «A gente nunca deve esquecer o que os nossos pais nos ensinaram…». E daquelas coisas de que ela também nunca se esqueceu foi a ‘devoção às almas do purgatório’. A esta devoção volto, quando a crítica teológica me insinua alguma hesitação.
Esta hesitação tem a ver com a dificuldade da antropologia teológica contemporânea em falar da «alma». O teólogo espanhol Ruiz de la Peña (1937-1996) é um dos expoentes desta recusa, porque considera, erroneamente, que a sua origem se encontra em Platão (428-347 a. C.). Portanto, conclui, é uma noção grega, não bíblica, não cristã. Neste sentido, o filósofo italiano M. Vannini (1948-) fala da «morte da alma» na teologia contemporânea. Então, falar-se do mês das almas e das almas do purgatório torna-se, para muitos, uma linguagem vazia e sem sentido.
Pelo contrário, J. Ratzinger (1927-2022), na sua obra sobre a Escatologia, mostra que a visão cristã do homem, metafisicamente constituído por corpo, alma e espírito, é essencialmente bíblica, e encontra-se logo no segundo relato da criação, quando Deus formou o homem do pó da terra e lhe insuflou o sopro da vida e ele se tornou um ser vivente: «Então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente» (Gn 2,7). Em rigor, a antropologia cristã, que defende a constituição metafísica do homem – corpo, alma e espírito –, tem alguma relação com a filosofia grega, não com Platão, mas com Aristóteles (348-322 a. C.), segundo o qual, a alma intelectiva é a forma substancial do corpo. A antropologia cristã distancia-se, porém, desta concepção, porque defende a natureza espiritual e eterna da alma, criada por Deus e infundida por Ele no corpo, que para ela foi feito. Nós somos corpo e alma (alma intelectiva e espiritual), numa unidade tal (forma substancial) que o corpo não pode viver sem a alma (que dele se separa pela morte) e a alma, embora persista sem o corpo depois da morte, sente a sua falta, se assim nos podemos exprimir. Quando a Igreja nos ensina a dizer no Credo, creio na ressurreição da carne e na vida eterna, está a recordar-nos que a plenitude da nossa felicidade no céu só o será quando na ressurreição da carne a nossa alma se unir ao nosso corpo. O filósofo italiano M. Vannini vai na mesma linha que o teólogo J. Ratzinger e chega à mesma verificação: a noção da alma na antropologia teológica é genuinamente cristã.
Então, superadas as hesitações teológicas, com a ajuda do teólogo J. Ratzinger e do filósofo M. Vannini, continuo a considerar o mês de Novembro muito importante na pedagogia espiritual da Igreja, que nos recorda algo de essencial e que não podemos esquecer. No Purgatório contemplamos uma fase importante do mistério da Igreja, a Igreja padecente ou a Igreja que sofre a purificação passiva do amor, como condição para poder contemplar a Deus, vê-l’O face a face, tal como Ele é: «Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, pois O veremos como Ele é» (1Jo 3,2). O mês de Novembro, o mês das almas, recorda-nos esta verdade que hoje corre o risco de ser esquecida.
É bom rezar pelas almas do purgatório, esse espaço de derradeira purificação antes da visão de Deus. E faz parte da nossa tradição crente a convicção da fé de que ninguém vai para o Paraíso se antes não passar por esta purificação pelo fogo do amor divino, a purificação passiva do espírito, de que nos fala S. João da Cruz. O purgatório é então o ‘lugar’ de purificação dos restos de pecado, deste apego último às criaturas e que impede o mergulho no fundo oceânico e abissal do mistério de Deus. Porque só o amor purifica, então o purgatório é esse espaço de tempo sem tempo e mesmo assim distinto da visão beatífica em que o fogo do amor divino purifica o nosso ser e, neste caso, prepara e dispõe o nosso coração e o nosso olhar para a visão beatífica.
Todos os dias a Igreja recorda na Missa as almas dos fiéis defuntos. A Igreja mantém o bom costume da celebração da Missa pelos defuntos: as Missas exequiais, do sétimo, do trigésimo dia; as Missas de aniversário, os Trintários Gregorianos. E o costume de os que as pedem oferecerem um donativo, para ajudar os sacerdotes que as celebram, muitos dos quais, sobretudo em terras de missão, mas mesmo entre nós, de pouco mais dispõem para poderem sustentar as suas vidas e se dedicarem ao serviço da Igreja.
Que bom seria que o mês de Novembro voltasse a ser um tempo de meditação e de pausa sobre o outono da vida, da qual fazem parte a morte e as realidades últimas que nos esperam. Não seria oportuno mobilizar todas as comunidades cristãs para uma pedagogia pastoral do “mês das almas”, até como resistência crítica ao neopaganismo das festas do Halloween? Não será urgente aproveitar o mês das almas como uma oportunidade para uma catequese sistemática sobre o mistério da Igreja, corpo de Cristo e comunhão dos santos, nas suas três fases: Igreja peregrina, entre as consolações de Deus e as perseguições do mundo; a Igreja padecente no purgatório e a Igreja triunfante dos eleitos no céu, que contemplam já Deus face a face? Não seria oportuno desenvolver-se neste mês de Novembro uma catequese sobre o mistério da morte, retomando a noção da filosofia da vida como aprendizagem da morte? Do memento mori como condição para uma vida autêntica?
Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Assistente Espiritual da Fundação AIS
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