NIGÉRIA: “Se não fosse a fé cristã muitos teriam pegado em armas”, diz sacerdote face à violência dos pastores Fulani

NIGÉRIA: “Se não fosse a fé cristã muitos teriam pegado em armas”, diz sacerdote face à violência dos pastores Fulani

O Padre Remigius Ihyula, parceiro de projectos da Fundação AIS, é um dos responsáveis pelo apoio, na Diocese de Makurdi, às vítimas dos violentos pastores nómadas Fulani, que têm vindo a revelar-se uma ameaça terrível para a própria sobrevivência das comunidades locais, especialmente os agricultores cristãos. Há milhões de deslocados, pessoas que agora vivem quase da mendicidade. O Padre Remigius alerta para esta situação e pede ajuda.

A violência contra os cristãos na Nigéria está associada essencialmente ao grupo jihadista Boko Haram, que quer implantar um ‘califado’ na região norte deste país africano. Mas há uma outra ameaça, igualmente brutal: a dos pastores muçulmanos Fulani, que têm vindo a atacar os agricultores cristãos, cada vez com mais brutalidade, obrigando-os a fugir, a largar os campos, perdendo tudo o que possuem. Só no ano passado, os Fulani atacaram 93 aldeias e mataram 325 agricultores. Por causa disto, de toda esta violência, há milhares de pessoas que vivem agora em campos de deslocados. Só no estado de Benue, há 14 destes campos. Um dos responsáveis pelo apoio a todas estas pessoas é o Padre Remigius Ihyula, parceiro de projectos da Fundação AIS para a Nigéria. Em entrevista a Patience Ibile, o sacerdote procura alertar o mundo para a situação em que se encontram estes deslocados que, além de serem vítimas de violência, são quase que ignorados pelas autoridades.
“O que se chama violência Fulani deveria chamar-se ataques terroristas Fulani contra aldeias inocentes”, explica o Padre Remigius. “Alguns dizem que o motivo [dos ataques] é a religião; outros dizem que vieram para o vale de Benue devido às alterações climáticas. Mas não é por causa das alterações climáticas, porque isso é um factor que ocorre em todo o lado, e as pessoas não se estão a matar umas às outras… A nossa interpretação é que há terroristas que utilizam estes pastores para deslocar a população local”, acrescenta o sacerdote, procurando explicar a crescente violência dos pastores nómadas muçulmanos contra os agricultores cristãos.

“Pessoas forçadas a mendigar”
Uma das consequências dos ataques é a fuga das populações. O clima de insegurança é tal que há muitos agricultores cristãos que simplesmente abandonam as suas terras, as suas culturas e já não regressam mais. Milhares de famílias vivem agora em campos de deslocados internos. Só na Diocese de Makurdi há 14 destes campos e 13 comunidades de acolhimento. A Fundação AIS apoia o trabalho da Igreja em dois destes campos, o de Goma e o de Daudu, mas em todos há enormes dificuldades e carências. A tal ponto, alerta o Padre Remigius, que muitas destas famílias cristãs vivem agora quase da mendicidade. “As pessoas vêm-se agora forçadas a mendigar… O agricultor Benue é muito orgulhoso. Os nossos agricultores sempre foram capazes de cultivar a terra e alimentar-se a si próprios. Mas agora, por causa disto, imploram e dependem de organizações não-governamentais e, em alguns casos, de pessoas particulares que lhes dão comida e um lugar onde possam acampar ou esconder-se. Não podem regressar às suas aldeias para cultivar as terras porque, quando tentam fazer isso, os terroristas matam-nos.” A situação é particularmente grave. Explica o Padre Remigius que os ataques dos pastores nómadas Fulani não provocam apenas a destruição das colheitas e a morte de pessoas, especialmente rapazes. A fuga dos agricultores leva também à falta de alimentos e, consequentemente, à fome. Tudo isto está a acontecer perante a inoperância das autoridades.
O Padre Remigius, que é também responsável pela Fundação para a Justiça, Desenvolvimento e Paz da Diocese de Makurdi, acusa os responsáveis políticos de negligenciar esta situação, tratando estas pessoas, as vítimas de violência, como se fossem “seres humanos menores”. “Mostrem-me um qualquer lugar na Terra onde as pessoas sejam deslocadas aos milhares e o seu governo ou presidente não as visite. O nosso povo é massacrado e massacrado diariamente, e o nosso presidente não os vem ver”, acusa o sacerdote, acrescentando que ele próprio corre alguns riscos por fazer estas afirmações. “Se, por acaso, os nossos líderes lerem esta entrevista, eu tornar-me-ei um alvo. Para eles, eu sou o problema – não o presidente que não cumpriu os seus deveres, que não protegeu os seus cidadãos, mas eu, por falar a verdade. Na Nigéria, quando as pessoas dizem que a injustiça deve ser combatida, tornam-se um alvo. Eu sou um padre católico. Se me matam, matam uma pessoa. Se me atacam, atacam uma pessoa. Mas não vou viver para sempre, de qualquer forma, e a verdade deve ser dita.”

A Igreja e os deslocados
E que faz a Igreja junto destes deslocados, destas vítimas da violência? Tudo aquilo que é possível quando os recursos são escassos e há tantas pessoas para auxiliar. “O sustento espiritual é importante, mas tentamos primeiro atender às outras necessidades. As pessoas estão em necessidade desesperada. Precisam de higiene, alimentação, educação e cuidados psicológicos. Muitas pessoas deixaram de mandar os seus filhos à escola por causa da violência, por isso tentamos proporcionar educação aos estudantes nos campos de deslocados.” São vários os projectos com a chancela da Igreja nestes campos de deslocados. E um desses projectos, que tem o apoio directo da Fundação AIS, visa ajudar os traumatizados pela violência, as pessoas que assistiram a ataques, que foram ameaçadas, que presenciaram actos de enorme brutalidade. “Muitos viram os seus entes queridos serem abatidos, alvejados e esquartejados como animais. Temos pessoas que dão aconselhamento psicossocial para lidar com o trauma, e também fornecemos ajuda espiritual porque a fé cristã por vezes ajuda as pessoas a curarem-se melhor e mais rapidamente. Se não fosse a fé cristã, estou certo de que muitas pessoas teriam pegado em armas”, explica o padre.
Importante mesmo é a presença da Igreja. A fé alimenta a esperança e esse é um apoio que só a Igreja pode oferecer. “O bispo diz-me para visitar os campos todos os dias”, confessa o Padre Remigius. “Quando me veem, isso dá-lhes esperança e reforça a sua fé em Deus. Nosso Senhor ensina-nos a amar e a rezar por aqueles que nos odeiam e perseguem”, acrescenta. E é aqui, na capacidade de perdoar que se está a lançar a semente da reconstrução das vidas de todas as vítimas do terrorismo e da violência dos pastores Fulani. Uma semente a que não é alheia a ajuda que a Fundação AIS tem feito fazer chegar a estes campos de deslocados, de pessoas que agora até têm de mendigar para a sobrevivência no dia-a-dia. Para o Padre Remigius, a Fundação AIS “é uma dádiva de Deus para a Diocese de Makurdi”. “Quero agradecer a todos pelo trabalho que realizam. Rezamos por vós e pelas vossas intenções, e que continuem a defender-nos Rezamos para que esta colaboração seja frutuosa e melhore as situações dos nossos irmãos e irmãs. Obrigado e que Deus vos abençoe”, disse ainda o Padre Remigius Ihyula, dirigindo-se aos benfeitores da AIS em todo o mundo.

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

Relatório da Liberdade Religiosa

A liberdade religiosa na Nigéria está gravemente ameaçada. As vítimas são predominantemente cristãs, mas também muçulmanas e de religiões tradicionais, líderes religiosos e fiéis que sofrem às mãos dos terroristas, grupos armados jihadistas e criminosos nacionais e transnacionais.

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