Assinala-se hoje, 21 de Fevereiro, o quinto aniversário do sequestro de Leah Sharibu. A jovem cristã, raptada pelo Boko Haram, juntamente com 110 colegas da sua escola, foi a única a ficar em cativeiro por ter recusado renunciar à sua fé como os terroristas exigiam. Um padre nigeriano, a viver em Portugal, lembra a história desta jovem que é símbolo da perseguição religiosa no mais populoso país de África…
Tinha apenas 14 anos de idade quando a 21 de Fevereiro de 2018 homens armados pertencentes ao temível grupo terrorista Boko Haram invadem a Escola Técnica de Ciências em Dapchi, no estado de Yobe, na Nigéria, um estabelecimento de ensino oficial só para raparigas, e levam à força 110 alunas. Dali a poucas semanas, todas seriam libertadas menos Leah Sharibu, que ficou em cativeiro por ser cristã e recusar a conversão ao Islão, como os terroristas exigiam. Foi raptada faz hoje exactamente 1826 dias. O padre nigeriano Simon Okechukwu Ayogu, a viver em Portugal há quase duas décadas, lembra a história desta jovem, símbolo da perseguição religiosa no mais populoso país de África.
“Não perdemos a esperança…”
“No quinto aniversário do teu desaparecimento, Leah, estou aqui para te dizer que nós ainda aguardamos com esperança o teu regresso. Ainda não perdemos a esperança de que um dia vais estar junto de nós para nos contar o que te aconteceu, o que viste, o que ouviste, o que pensaste e até o que tentaste fazer e não conseguiste. Queremos ouvir a tua história, seja ela qual for”, diz Simon Ayogu, de 46 anos, pároco em Lomar e Nogueira, na Arquidiocese de Braga. Este sacerdote já estava a viver em Portugal há vários anos quando os terroristas sequestraram Leah Sharibu. Desde então, tem acompanhado com preocupação a sua história. Numa mensagem vídeo gravada para a Fundação AIS, o Padre Simon afirma que “a Nigéria falhou” para com Leah, assim como “falhou com muitos outros, que viram as suas vidas cortadas” por causa da violência que se faz sentir cada vez com mais intensidade neste país africano.
Nigéria vai a votos
O quinto aniversário do rapto de Leah Sharibu ocorre na semana em que o país vai a votos, em eleições legislativas e presidenciais, e em que cresce um sentimento de frustração pela crescente insegurança – que tem atingido fortemente a comunidade cristã, como a Fundação AIS tem denunciado – e também pela perda do poder de compra das populações face a uma inflação galopante. Leah Sharibu não poderá obviamente votar nestas eleições, agendadas para sábado, dia 25 de Fevereiro, mas a sua história poderá ser lembrada durante a campanha eleitoral. Pelo menos, o padre Simon acredita que alguma coisa terá de mudar no país para que os raptos sistemáticos de pessoas e os ataques às povoações venham a acabar. “Esperamos ter razões para acreditar que um caso como o teu, Leah Sharibu, não volte a acontecer a ninguém, especialmente às pessoas inocentes, às crianças que apenas tentam viver o sonho de dias melhores…”
A angústia dos pais
O sacerdote nigeriano lembra ainda os pais da jovem cristã, a sua angústia, e diz que eles, como “todas as pessoas da tua terra”, estão esperançosos pelo dia da libertação. “Nós sabemos que Deus está acima de todos e é o verdadeiro dono de tudo e de todos nós”, diz ainda o Padre Simon, na mensagem enviada para a Fundação AIS em Portugal. “Nós sabemos que um ser humano, uma vez criado, não morre. Somos imortais. Leah, tu és um ser imortal. Estás viva no corpo, esperamos, e esperamos que um dia voltes para seres abraçada ao colo da tua mãe que ainda está à tua espera com amor. Aquele amor que supera a vida, aquele amor que supera o que tens vivido e o que tens passado nas mãos dos teus raptores”, acrescenta o sacerdote. Na mensagem, que é acima de tudo de esperança, o Padre Simon Okechukwu Ayogu diz ainda que, quando o dia da libertação chegar, haverá ainda tempo e oportunidade para refazer a vida. “Esperamos que, quando vieres, possamos contigo partilhar as esperanças, partilhar os planos e porventura fazer outros planos, concretizá-los, porque a vida é feita de planos, e feita de sonhos. Os teus sonhos, que aparentemente foram cortados a meio, vamos tentar retomá-los contigo.”
Um exemplo de fidelidade
A história de Leah Sharibu tem sido denunciada constantemente pela Fundação AIS. Na Quaresma de 2021, foi mesmo apresentada como um exemplo dos “Mártires e Heróis por Amor”, pessoas que, nos dias que correm, têm levado até ao extremo a sua fidelidade a Jesus. Um exemplo que foi também destacado pelo padre Simon na mensagem vídeo que gravou para a Fundação AIS neste quinto aniversário do rapto de Leah Sharibu. “Vais ser um exemplo para os jovens e especialmente as jovens que devem ter medo depois de ouvirem a tua história, depois de acompanharem aquilo que tu tens vivido e aquilo que tu significas para um país, como a nossa Nigéria.” Há muito poucas informações sobre o estado de Leah Sharibu. Há dois anos, o pastor protestante Gideon Papa-Mallam, que é muito próximo da família da jovem cristã, dizia à Fundação AIS Internacional que as notícias que tinha eram “preocupantes”, e por isso pedia “orações e esforços concertados tanto locais quanto globais de forma a garantir a sua libertação o mais rapidamente possível”. A boa notícia – afirmava então – “é que Leah ainda está viva, e esta é, até agora, a informação mais encorajadora…”
Também a sua localização é incerta. Há dois anos, o pastor Gideon afirmava que, segundo as parcas informações disponíveis, “os terroristas não mantêm os seus prisioneiros num local [apenas], mas deslocam-nos de um lado para o outro”. “Portanto, é difícil dizer exactamente onde Leah possa estar. Às vezes ouvimos que eles estão na região do Lago Chade, outras vezes na República do Níger ou no Chade…. É difícil ser preciso.” A única certeza é que Leah Sharibu foi raptada a 21 de Fevereiro de 2018. Faz hoje, exactamente, 1826 dias.