NIGÉRIA: Mais de 300 estudantes e professores raptados por homens armados em escola católica no estado do Níger

Sequestro de centenas de alunos e professores ocorre apenas quatro dias depois de 25 alunas terem sido levadas em circunstâncias semelhantes de uma outra escola na cidade de Maga. Papa Leão XIV manifestou “profundo pesar” pelos sequestros de estudantes, docentes e também de sacerdotes que têm ocorrido na Nigéria e nos Camarões, e pediu a libertação imediata de todos os reféns.

O Santo Padre condenou ontem, Domingo, dia 23, a vaga de sequestros e de ataques contra igrejas e escolas que nos últimos dias têm afectado a Nigéria e também os Camarões, ambos os países situados em África e com uma longa fronteira comum. “Recebi com imensa tristeza as notícias dos sequestros de sacerdotes, fiéis e estudantes na Nigéria e nos Camarões. Sinto uma dor profunda, sobretudo pelos muitos rapazes e raparigas sequestrados e pelas suas famílias angustiadas”, disse Leão XIV após a recitação do Angelus, na Praça de São Pedro.

O Papa fez assim um forte apelo pela libertação de alunos e professores raptados na passada sexta-feira na escola católica St. Mary, no estado do Níger, e também de 25 alunas levadas em situação semelhante de uma outra escola no estado de Kebbi, ambos na Nigéria, e ainda do rapto, há alguns dias, nos Camarões, de seis sacerdotes católicos e de um pastor baptista, assim como de um outro padre na Nigéria.

Faço um apelo sincero para que os reféns sejam imediatamente libertados e exorto as autoridades competentes a tomarem decisões adequadas e oportunas para garantir sua libertação. Rezemos por estes nossos irmãos e irmãs e para que, sempre e em todos os lugares, as igrejas e as escolas continuem a ser locais de segurança e esperança.”

60 terroristas invadem escola católica

O incidente mais grave, pelo número de pessoas raptadas, ocorreu a 21 de Novembro, sexta-feira passada, em Papyri, estado situado na região centro-oeste do Níger. Na ocasião, cerca de 60 terroristas armados, que se faziam transportar em automóveis, mas também em motociclos, invadiram de madrugada o edifício da St. Mary, uma escola católica situada na região, entraram nos dormitórios e raptaram 303 alunos e 12 professores.

Segundo informações recolhidas pela Fundação AIS, o ataque, em que “um segurança foi gravemente ferido a tiro”, provocou, como se imagina, “medo e angústia na comunidade escolar”. A Diocese de Kontagora condenou veementemente o ataque e expressou profunda preocupação pela segurança das vítimas e suas famílias.

O ataque a esta escola católica ocorreu apenas quatro dias depois de um incidente semelhante num colégio interno, o ‘Government Girls Comprehensive Secondary School’, situado na cidade de Maga, no Estado de Kebbi, no noroeste nigeriano. Também este ataque deixou a comunidade local em estado de choque e representou, segundo fontes locais contactadas pela AIS, “um duro golpe para a educação das meninas, algo que é uma conquista bastante rara nesta região do país”.

O ataque à escola em Maga, na segunda-feira, dia 17 de Novembro, apanhou os habitantes locais de surpresa, num momento em que parecia que a violência tinha diminuído nessa zona. “Justamente quando pensávamos que havia uma pequena pausa nos assassinatos e sequestros”, a notícia do rapto destas cerca de vinte e cinco meninas “foi um golpe brutal, mergulhando a comunidade em grande dor”, explicou na ocasião fonte local à Fundação AIS Internacional.

A mesma fonte relatou que “os bandidos assaltaram a escola por volta das 3 horas da manhã e operaram durante muito tempo sem resistência”. “O vice-director da escola, Mallam Hassan Yakubu Makuku, foi assassinado enquanto tentava proteger as suas alunas”, acrescentou a fonte. A comunidade local está assustada e pede uma intervenção imediata das autoridades. “Todas as famílias da zona estão unidas em oração e apelam ao governo para que faça tudo o que estiver ao seu alcance para resgatar as crianças”, foi explicado à fundação pontifícia.

Muitas das alunas são cristãs

A fonte contactada pela AIS Internacional explicou também que a escola se encontra numa zona mista. O distrito de Danko/Wasagu, onde se localiza o estabelecimento de ensino, é um dos enclaves religiosamente mais diversificados em Kebbi. Existem grupos maioritariamente cristãos, tornando a zona num enclave singular na região noroeste de maioria muçulmana“É por isso que muitas das alunas são cristãs, tal como o vice-director assassinado”, confirmou a fonte.

Embora nenhum grupo tenha reivindicado o ataque, a fonte alertou para a crescente profissionalização dos criminosos que operam no noroeste da Nigéria. Os primeiros testemunhos apontam para o facto de os atacantes possuírem armas modernas e de alta qualidade técnica, um sinal da crescente sofisticação do crime organizado na região.

A história de Leah Sharibu

Ambos os ataques, quer o ocorrido na escola pública, quer o da escola católica, fazem lembrar os traumáticos sequestros de Chibok, em 2014 e Dapchi, em 2018, tragédias cujos efeitos ainda pesam sobre a consciência nacional e que se tornaram um símbolo da crescente crise de segurança na Nigéria.

Um desses sequestros traumáticos, o de Dapchi, aconteceu a 21 de Fevereiro de 2018. Nesse dia, terroristas do Boko Haram invadiram a Escola Técnica de Ciências, um estabelecimento de ensino oficial feminino, e levaram à força 110 alunas. Dali a poucas semanas, porém, todas as jovens seriam libertadas com excepção de Leah Sharibu, uma rapariga que então tinha apenas 14 anos de idade. Ela ficou em cativeiro por ser cristã e por ter recusado renunciar à sua fé como os terroristas exigiam.

Neste momento, desconhece-se exactamente onde está e como está. No entanto, apesar disso, esta jovem transformou-se num dos símbolos mais poderosos da perseguição religiosa no seu país. Numa altura em que o drama dos sequestros é uma realidade assustadora na Nigéria, afectando profundamente a comunidade cristã, com uma sucessão de casos que envolvem estudantes, professores, sacerdotes e seminaristas, a história desta jovem rapariga que ousou renunciar à sua liberdade por causa da sua fé, não pode ser esquecida…

Paulo Aido e Maria Lozano

Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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