É o segundo ciclone a atingir o norte de Moçambique no espaço de um mês. Desta vez, a Diocese de Nacala foi a mais atingida pela chuva violenta e os ventos fortes. D. Alberto Vera refere, numa mensagem enviada para a Fundação AIS, que igrejas, capelas, e muitas casas e escolas ficaram destruídas. “É uma desgraça acima de outra desgraça”, diz o Bispo referindo-se também à onda de violência pós-eleitoral que está a varrer o país. “A província de Nampula é um verdadeiro caos”, afirma ainda o prelado.
Depois de o ciclone Chido ter atingido a 15 de Dezembro e com particular violência a Diocese de Pemba, na província de Cabo Delgado, um novo ciclone, Dikeledi, deixou um outro rasto de destruição também no norte de Moçambique, mas desta vez na Diocese de Nacala, situada na província de Nampula.
Os ventos, que chegaram a ultrapassar os 190 km/h atingiram o território moçambicano na segunda-feira, 13 de Janeiro, e causaram pelo menos cinco mortos [número ainda provisório] e inúmeros danos a tal ponto que D. Alberto Vera fala em “forte rasto de desgraça e destruição”. De todas as zonas mais atingidas, o Bispo de Nacala destaca Mossuril, “onde o vento levantou todo o tecto da Igreja paroquial”, mas também Nacala-Porto, “com várias capelas e muitas casas e escolas destruídas”.
Também na Ilha de Moçambique e em Lunga há relatos de edifícios danificados e de populações aflitas. O ciclone Dikeledi deixou ainda nesta região de Nacala mais de 156 mil pessoas sem electricidade. Na mensagem enviada para a Fundação AIS, o Bispo refere que a Diocese está a preparar já um “plano de emergência” para a compra de materiais de construção, como chapas, pregos e barrotes, para obras urgentes a realizar na paróquia de Mossuril, em algumas capelas, escolas e outros edifícios comuns.
Desta vez, ao contrário do que aconteceu em Dezembro, a Diocese de Pemba foi poupada a maiores estragos e destruição, mas, como explicou D. António Juliasse a Ulrich Kny, o responsável de projectos da Fundação AIS para Moçambique, “continuamos com o nosso sofrimento deixado pelo ciclone Chido”. De facto, a passagem deste ciclone pela região de Cabo Delgado no último mês de 2024 revelar-se-ia um autêntico desastre para a região, com cerca de uma centena de mortos, milhares de casas destruídas ou danificadas, tal como igrejas, capelas e estruturas paroquiais.
“DESGRAÇA ATRÁS DE DESGRAÇA”
Para Moçambique, estes têm sido dias de angústia e sofrimento. A passagem destes dois ciclones pelo norte do país no espaço de apenas um mês acrescentou miséria e sofrimento para milhares de famílias, mas há um outro foco de tensão que está também a provocar uma enorme incerteza e angústia: a contestação ao resultado das eleições de 9 de Outubro, que deram a vitória aos candidatos da Frelimo e que conduziu à tomada de posse ontem, dia 15 de Janeiro, de Daniel Chapo como novo Presidente da República. Mas essa contestação, que tem vindo a traduzir-se em manifestações em várias cidades, tem gerado enorme violência também pela repressão exercida pelas autoridades, havendo já com cerca de 300 mortos e um número também muito elevado de feridos.
A província de Nampula, onde se situa a Diocese de Nacala, tem sido palco também dessas manifestações, com diversos episódios de pilhagens, barricadas e destruição de infraestruturas, a ponto de o Bispo falar de uma “desgraça atrás de outra desgraça” e que “a província de Nampula é um verdadeiro caos”. Uma situação a que não escapou sequer a própria Igreja.
Recorde-se que, no final de Dezembro, houve a pilhagem e vandalização de três edifícios da Arquidiocese de Nampula, além de uma missão com religiosas brasileiras, em Micane, que foi também atacada e que deixou as religiosas “muito traumatizadas”, como a Fundação AIS então noticiou.
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt