MOÇAMBIQUE: “Mataram famílias inteiras”, diz sacerdote sobre o “massacre” dos terroristas à vila de Palma em 2021

MOÇAMBIQUE: “Mataram famílias inteiras”, diz sacerdote sobre o “massacre” dos terroristas à vila de Palma em 2021

O Padre Eduardo Roca, que lidera o Centro Inter-Religioso para a Paz, na Diocese de Pemba, revela à Fundação AIS novos dados sobre o ataque terrorista à vila de Palma em Março de 2021. Além dos mais de 1.300 mortos, já denunciados numa investigação de um jornalista norte-americano, o sacerdote assegura que houve mesmo famílias inteiras que foram assassinadas, e acusa os responsáveis da multinacional francesa Total de terem desprezado a população local durante o ataque.

O Pe. Eduardo Roca, que está desde 2012 em Mahate, na Diocese de Pemba, onde lidera o Centro Inter-religioso para a Paz, revela, em mensagem áudio enviada para a Fundação AIS em Lisboa, novos dados sobre o ataque terrorista à vila de Palma, em 24 de Março de 2021, falando em famílias inteiras que foram assassinadas. O sacerdote acusa ainda os responsáveis da multinacional francesa TotalEnergies, que explora na região um megaprojecto de gás natural, de enorme negligência no apoio às populações durante o ataque. O Pe. Roca refere o relatório divulgado recentemente pelo jornalista norte-americano Alex Perry, que conduziu durante os últimos meses uma investigação sobre o ataque terrorista à vila de Palma e que concluiu ter ocorrido um verdadeiro massacre com 1.357 mortos. Estes dados, sublinhe-se, contrariam a versão oficial que apontava, desde a primeira hora, para apenas algumas dezenas de vítimas. O Pe. Eduardo Roca está convencido de que o número de pessoas assassinadas terá sido até superior. “Seguramente são mais porque mataram famílias inteiras das quais não restou ninguém, nenhum familiar que possa dizer-nos, estes já não estão entre nós. Foram mortes, inclusivamente espirituais, mortes sociais, não foi apenas a violência dramática do jihadismo, mas sobretudo esta morte social de pessoas que ninguém vai recordar porque não ficou ninguém para os recordar.”

“Factos que são um escândalo”

O Pe. Eduardo Roca aponta ainda o dedo aos responsáveis da multinacional francesa TotalEnergies de não terem acautelado a protecção das populações durante o ataque dos terroristas que, compreende-se agora, teve uma dimensão brutal. Lembrando as palavras do Bispo de Pemba, D. António Juliasse, que fez, a 11 de Junho, a primeira intervenção pública de um responsável da Igreja após ter sido conhecido o relatório do jornalista norte-americano, o Pe. Roca fala na “enorme” responsabilidade da empresa francesa, e em “escândalo” por tudo o que aconteceu não só a 24 de Março de 2021 mas também nos dias seguintes. “O Bispo exige que haja um luto público, que haja declarações, que a multinacional francesa Total assuma a sua parte de responsabilidade em toda esta situação, que é muita, é muita, é enorme. É ter tratado toda a população de Palma e do litoral ignorando-a, desprezando-a e ignorando-a, trazendo os seus trabalhadores de outros países do sul, e na hora do conflito e da violência voltam as costas totalmente ao povo, incluindo com factos que são um escândalo”, relata o Pe. Eduardo Roca à Fundação AIS.

Células terroristas em todo o país

Na mensagem enviada para Lisboa, o sacerdote, que, como a AIS já revelou recentemente, é um dos responsáveis da Igreja Católica pelo diálogo inter-religioso em Cabo Delgado e pela procura de soluções para o fim da violência em Moçambique, refere ainda que os grupos terroristas estarão actualmente a promover uma “reorganização” da sua organização. “Há alguns meses que os ataques são de muito baixa intensidade, mas parece que há uma reorganização das células terroristas por todo o país. Então, temos de estar atentos porque este é o contexto de violência no qual vivemos.” A mensagem termina com um pedido de oração pela paz. “Fiquem bem e rezem por nós tudo o que possam à Rainha da Paz. Ajudem-nos a que consigamos aguentar-nos, na fé, na esperança e no amor.”

Os ataques terroristas que têm espalhado medo e morte em Moçambique, nomeadamente nas províncias de Cabo Delgado, Niassa e Nampula tiveram início em Outubro de 2017. Até ao momento, já terão morrido – segundo dados oficiais – cerca de 4 mil pessoas havendo ainda mais de 1 milhão de deslocados. No entanto, estes números terão agora de ser revistos pois será necessário acrescentar os mais de 1300 mortos em Palma, que resultam da investigação do jornalista norte-americano Alex Perry e que o Pe. Eduardo Roca corrobora. Moçambique é um país prioritário para a Fundação AIS que tem disponibilizado ajuda para a Igreja local nomeadamente em projectos de assistência pastoral e apoio psicossocial, mas também no fornecimento de materiais para a construção de dezenas de casas, centros comunitários e ainda a aquisição de veículos para os missionários que trabalham junto dos centros de reassentamento que abrigam as famílias fugidas da guerra.

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

NOTA IMPORTANTE: Por lapso, a informação que foi enviada às agências de manhã do dia 06.07.2023 continha uma afirmação errada que entretanto foi eliminada. Pelo sucedido pedimos desculpas. A informação desta notícia foi revista e actualizada às 13:15.

Relatório da Liberdade Religiosa

Embora os líderes cristãos e muçulmanos continuem a denunciar a violência e a promover o diálogo inter-religioso, num esforço de deslegitimação do jihadismo, tal será insuficiente se não forem abordadas as desigualdades sociais e económicas subjacentes que afectam os jovens, especialmente nas regiões mais pobres. As perspectivas para a liberdade religiosa continuam a ser desastrosas.

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