MOÇAMBIQUE: Irmãs vivem “momentos terríveis” durante assalto à casa onde moram, em Pemba

A casa das irmãs Mercedárias do Santíssimo Sacramento, em Pemba, na província de Cabo Delgado, foi assaltada no domingo, 8 de Junho, por homens armados.

A casa das Irmãs Mercedárias do Santíssimo Sacramento, em Pemba, na província de Cabo Delgado, foi assaltada no domingo, 8 de Junho, por homens armados. As religiosas, que acolhem e cuidam de mais de três dezenas de meninas, viveram “momentos horríveis”, especialmente quando os assaltantes, munidos de catanas, ameaçaram decapitar mesmo uma das irmãs. Há cerca de duas semanas, a missão dos saletinos, em Mieze, foi também assaltada…

A casa das Irmãs Mercedárias do Santíssimo Sacramento, em Pemba, na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, foi assaltada no passado Domingo, dia 8 de Junho, por um grupo de homens encapuzados e armados com catanas. As religiosas viveram momentos de pânico que descreveram em mensagem enviada para a Fundação AIS em Lisboa.

Um grupo de 18 homens armados entrou na nossa missão, com catanas, ferros e armas. Oito homens entraram na casa e os outros ficaram do lado de fora a controlar os guardas e os portões. Vivemos momentos terríveis quando os vimos aparecer nos nossos quartos, pedindo dinheiro e levando tudo o que encontravam no caminho. Entregámos o que tínhamos, roubaram os nossos computadores e telemóveis e o pouco dinheiro que tínhamos”, relata a Irmã Ofélia Robledo Alvarado, uma das quatro religiosas da casa.

O momento mais dramático, porém, ocorreu quando as irmãs foram levadas para a capela. “Foi um momento terrível, pensei que iam queimar a capela connosco.” Não queimaram a capela, mas arrastaram uma das religiosas, a Irmã Esperança, para o centro “e puseram-na de joelhos, com as catanas prontas a decapitá-la na nossa presença”. 

Aproximei-me deles e pedi-lhes, em lágrimas, que não a matassem, que nos tinham já tirado tudo o que tínhamos, pedi-lhes misericórdia… foram momentos horríveis, mas graças a Deus libertaram-na”

“INSEGURANÇA EM TODA A PROVÍNCIA”

A religiosa fala ainda no alívio que sentiu quando se apercebeu que, em nenhum momento, as jovens raparigas que estão a viver na casa haviam sido molestadas. “Quando sentimos que se tinham ido embora, saímos com muito medo para ir ver as raparigas, no caso de lhes terem feito alguma coisa, mas graças a Deus estavam bem e em silêncio. Este foi o primeiro ataque em 17 anos na nossa missão, nunca ninguém entrou [na nossa casa] com tais intenções”, diz ainda a responsável pelo lar.

O terrorismo que está a acontecer desde 2017 mudou tudo, estamos a viver uma situação de insegurança em toda a província e o mais triste é que a polícia e os militares estão envolvidos nestes bandos de crime organizado”, denuncia ainda a religiosa. “Por isso, temos de encontrar medidas para a nossa própria protecção e a das raparigas”, diz ainda, alertando que a comunidade precisa de ajuda para a instalação de câmaras de segurança no edifício e também grades nas janelas, de forma a se evitar um novo assalto. No conjunto, entra o dormitório das raparigas, as salas de estudo, os quartos de hóspedes e a capela, a casa das Mercedárias tem cerca de 70 janelas…

OUTROS ASSALTOS E A AMEAÇA TERRORISTA

O assalto à casa das Irmãs Mercedárias do Santíssimo Sacramento é apenas um dos mais recentes episódios de violência que está a atingir a região norte de Moçambique e a que nem a Igreja parece escapar. Exemplo disso, há cerca de 15 dias a casa dos Padres Saletinos em Mieze foi também assaltada. O Padre Edegard Silva, que agora está no Brasil, diz à Fundação AIS que soube do assalto pelo telefonema de um dos sacerdotes que estava no local. “O Padre João ligou para mim e eu achei estranho, porque seria lá [em Moçambique] uma hora da manhã. E ele disse: ‘olha, quero partilhar contigo, acabaram de assaltar-nos aqui, todos com catanas’. E agora aconteceu a mesma coisa com as Irmãs Mercedárias.

Antes disso, houve outros incidentes envolvendo elementos da Igreja Católica e não só em Pemba, mas também noutras dioceses. No dia 23 de Fevereiro, por exemplo, homens armados assaltaram o Centro de Formação de Nazaré, em Inhamizua, na Arquidiocese da Beira, agredindo com violência três missionários que se encontravam no local. Num comunicado enviado na altura para a Fundação AIS, a Conferência dos Institutos Religiosos de Moçambique “expressou a sua preocupação com a insegurança”, e pediu orações pela paz no país. Nesse caso em concreto, quando invadiram as instalações do centro de formação, os assaltantes estavam armados com pistolas, catanas e barras de ferro. Os três religiosos que se encontravam no local foram “amarrados e torturados pelos bandidos”.

Entretanto, a Fundação AIS sabe que os responsáveis da Diocese de Pemba vão reunir, provavelmente já nos próximos dias, para avaliar estes incidentes e o clima de insegurança que se vive no norte de Moçambique também por causa dos constantes ataques terroristas.

Paulo Aido

Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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