Face à “hora dramática” que se vive em Moçambique, com manifestações generalizadas que já causaram dezenas de mortos, a Conferência Episcopal convocou os fiéis para uma “jornada de oração” no próximo dia 24 de Novembro, de forma a se conseguir “parar os ventos da violência, desespero e desconfiança” no país desde o anúncio do resultado das eleições de 9 de Outubro.
Os bispos moçambicanos reunidos em Assembleia Plenária decidiram convocar uma jornada nacional de oração pela paz e reconciliação para o próximo dia 24 de Novembro, face à onda de violência que se tem verificado um pouco por todo o país com dezenas de mortos e feridos desde que foram divulgados os resultados das eleições de 9 de Outubro.
As autoridades declararam a vitória do candidato presidencial da Frelimo, Daniel Chapo, partido no poder desde 1975. Esses resultados foram, no entanto, prontamente contestados por Venâncio Mondlane, líder do partido Podemos, que ficou classificado em segundo lugar, mas que reclama a vitória.
No comunicado emitido pela Conferência Episcopal, e enviado para a Fundação AIS, fala-se mesmo em “hora dramática” e apela-se à “mobilização dos fiéis católicos”, mas também dos cidadãos de todas as crenças. O objectivo é mesmo “sensibilizar” toda a população para a situação do país.
Diante da crescente tensão sócio-política, sentimos a necessidade de mobilizar os fiéis católicos e cidadãos de todas as crenças numa jornada de oração de modo a sensibilizar para a situação do país. A oração coletiva — com celebrações nas catedrais e em todas as paróquias de Moçambique — são gestos de clamor por paz, justiça e reconciliação.
VIOLÊNCIA, DESESPERO E DESCONFIANÇA
Os Bispos enfatizam a urgência desta iniciativa como forma de se parar a onda de violência que tomou conta de várias cidades moçambicanas. “Convocamos, assim, todos os fiéis a rezar pela paz em Moçambique, no Domingo 24 de Novembro, Solenidade de Cristo Rei, pedindo a intercessão do Príncipe da Paz. Precisamos da oração, especialmente nesta hora dramática de nossa história, de modo a parar os ventos da violência, do desespero, da desconfiança”, afirmam os prelados.
No comunicado, informa-se ainda que uma delegação dos Bispos da Conferência Episcopal da África do Sul fez “uma visita de solidariedade” aos congéneres moçambicanos, procurando inteirar-se da “situação sócio-política” que se está a viver e como forma de manifestação também de “apoio espiritual e moral”.
A onda de violência em Moçambique preocupa também o Papa Francisco que neste domingo, dia 10, apelou também ao fim do derramamento de sangue. Logo após a oração do Angelus, o Santo Padre exortou os moçambicanos a não perderem a fé no caminho da democracia e da paz, pedindo, para isso, diálogo e tolerância. “As notícias que chegam de Moçambique são preocupantes. Convido todos ao diálogo, à tolerância e à busca incansável por soluções justas”, disse o Papa desde a janela do apartamento pontifício, perante milhares de pessoas que estavam reunidas na Praça de São Pedro. “Rezemos por toda a população moçambicana, para que a situação actual não faça perder a fé no caminho da democracia, da justiça e da paz”, acrescentou o Santo Padre.
TERRORISMO EM CABO DELGADO
O processo eleitoral em Moçambique já tinha sido objecto de uma forte crítica por parte do episcopado deste país de língua oficial portuguesa. Num comunicado emitido a 22 de Outubro, já se apelava à “coragem para o diálogo” no seguimento das eleições gerais que, segundo os bispos, indiciavam uma “fraude grosseira”.
O documento, também enviado para a Fundação AIS, referia que nas eleições se repetiram os “enchimentos de urnas, editais forjados e tantas outras formas de encobrir a verdade”. Os bispos alertavam ainda para o facto de estas “irregularidades e fraudes, a grosso modo impunemente praticadas, reforçarem a falta de confiança nos órgãos eleitorais”.
Enquanto tudo isto, na província de Cabo Delgado continuam os ataques dos grupos terroristas, sendo que o mais recente incidente ocorreu já nesta segunda-feira, dia 11, em Mandela, distrito de Muidumbe, e o anterior na quinta-feira, 7 de Novembro, na comunidade de Minhanha, no distrito de Meluco. Há relatos de pelo menos duas pessoas decapitadas e dezenas de desaparecidos. Desde 2017 que a região norte de Moçambique está a ser assolada pela violência de grupos armados que reivindicam pertencer ao Daesh, a organização jihadista Estado Islâmico, tendo causado já mais de cinco mil mortos e mais de 1 milhão de deslocados.
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt