MOÇAMBIQUE: “A situação é dramática” em Cabo Delgado, alerta Oliveira Martins na apresentação do Relatório da AIS sobre Liberdade Religiosa

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MOÇAMBIQUE: “A situação é dramática” em Cabo Delgado, alerta Oliveira Martins na apresentação do Relatório da AIS sobre Liberdade Religiosa

Quarta-feira · 21 Abril, 2021

O tema de Cabo Delgado esteve em destaque ontem na apresentação em Lisboa do Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo da Fundação AIS. Guilherme d’Oliveira Martins, que apresentou o documento, classificou de “dramática” a situação que se vive nesta província no norte de Moçambique, e considerou essencial a cooperação entre todas as organizações presentes no terreno no apoio às populações.

“A situação é dramática e é indispensável que todos ajudem estas populações, designadamente as instituições da sociedade civil e as organizações de base religiosa [que] não podem deixar de ter um papel positivo sobretudo na protecção das pessoas que estão vulneráveis e que são objecto de violência de morte.”

O administrador-executivo da Fundação Calouste Gulbenkian sublinhou durante a sessão de apresentação do Relatório, que decorreu ontem de manhã numa sessão virtual, o papel que o Estado moçambicano deve desempenhar neste conflito causado por grupos terroristas que têm vindo a atacar aldeias, vilas e cidades desde 2017 e que já causaram mais de dois mil mortos e mais também de 700 mil deslocados.

O tema de Cabo Delgado esteve em destaque ontem na apresentação em Lisboa.

“É indispensável que haja uma intervenção corajosa por parte da Estado moçambicano”, disse Oliveira Martins, acrescentando que “esta questão é absolutamente crucial para não gerar situações de vazio de autoridade”. “Deve haver [também] um apoio da comunidade internacional para que não haja um vazio de autoridade e para que haja a possibilidade efectiva de protecção e de salvaguarda das populações”, disse ainda.

Posição semelhante foi tomada por Catarina Martins de Bettencourt. A directora da Fundação AIS em Portugal enfatizou o papel da sociedade civil e da Igreja no trabalho crucial de apoio às populações deslocadas pelo conflito, lembrando que “Moçambique é um dos países mais pobres do mundo, e as pessoas desta região [de Cabo Delgado] são já de si muito pobres também…”

Catarina Bettencourt lembrou ainda que a Fundação AIS pertence a uma “plataforma de várias organizações que está a tentar fazer um ‘lobby’ positivo no sentido de trazer esta questão para a agenda política de Portugal”, sublinhando ainda o papel que o governo de Lisboa pode desempenhar durante o primeiro semestre deste ano que corresponde à presidência portuguesa do Conselho da União Europeia.

Sobre o trabalho efectivo da Fundação AIS na ajuda humanitária às populações de Cabo Delgado, lembrou que “já no fim do ano passado” foi enviada “ajuda de emergência para a Igreja alimentar, vestir, cuidar destes milhares e milhares de deslocados”, e que sem essa ajuda, que tem de continuar, “podermos assistir a uma calamidade, uma catástrofe humanitária ainda maior”.

O caso de Cabo Delgado foi discutido já na parte final da apresentação do Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, trabalho de investigação produzido a nível internacional pela Fundação AIS. Moçambique faz parte de um conjunto de países retratados a vermelho no Mapa do Relatório por causa da “perseguição” e “discriminação” aos crentes. É um mapa que engloba o Afeganistão, o Bangladesh, mas também a China, Mianmar, Irão, Coreia do Norte, Líbia ou Índia, num total de 26 países. O caso da Índia mereceu comentários por parte de Guilherme d’Oliveira Martins, em resposta a uma questão colocada no final da sessão de apresentação do Relatório. O facto de estar agendada para a cidade do Porto uma cimeira entre a União Europeia [EU] e a Índia, no âmbito da presidência portuguesa, pode ser importante para o debate das questões relacionadas com os direitos humanos.

O administrador da Fundação Calouste Gulbenkian diz que esta é “uma questão de princípio” e que, por isso, deve ser colocada. “É indispensável que estas questões sejam colocadas com uma grande serenidade e um grande rigor”, afirmou Guilherme d’Oliveira Martins, acrescentando que “é indispensável combater a radicalização”. Por seu turno, Catarina Martins de Bettencourt lembrou que esta cimeira se afigura como “uma oportunidade” para se colocar a “questão dos direitos humanos e da liberdade religiosa, pois se olharmos para o nosso Relatório reparamos que a situação se tem deteriorado na Índia nos últimos anos”.

Também preocupante, para Guilherme d’Oliveira Martins é a situação na Europa no que diz respeito à desvalorização crescente das questões religiosas no espaço público. Respondendo a outra pergunta colocada durante a sessão de apresentação do Relatório, o antigo presidente do Tribunal de Contas disse que esta é “muito preocupante” e que “há uma menor atenção” no Velho Continente “relativamente à educação sobre as religiões e sobre o fenómeno religioso”. “Não é possível haver diálogo inter-religioso sem haver um bom conhecimento mútuo… Só há diálogo se houver um conhecimento, se houver uma troca efectiva de ideias e se salientarmos a importância crucial do fenómeno religioso…”

A questão foi também abordada pela directora do secretariado português da Ajuda à Igreja que Sofre. Catarina Bettencourt lembrou que “uma das conclusões do Relatório da AIS fala precisamente na perseguição ‘educada’ e no apagar dos símbolos religiosos na vida pública em países como Espanha ou França…” O Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo foi apresentado ontem em simultâneo em Lisboa e nas principais capitais europeias.

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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