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MIANMAR: “Já derramámos sangue que chegue”, afirmam os bispos apelando ao diálogo após golpe militar
“Estamos a atravessar o tempo de maior desafio na nossa história.” A frase, do Cardeal Charles Bo e do Bispo John Han – presidente e secretário-geral da Conferência Episcopal de Mianmar –, ajuda a perceber a gravidade da situação no país após o golpe militar desencadeado a 1 de Fevereiro. Na sequência da intervenção das Forças Armadas, foi declarado o estado de emergência por um ano neste país que anteriormente era conhecido como Birmânia.
A Igreja de Mianmar aponta aos militares falta de diálogo com os responsáveis políticos após a realização de eleições parlamentares em Novembro que ficaram marcadas por alegadas irregularidades. Todas as dúvidas “poderiam ter sido resolvidas através do diálogo na presença de observadores imparciais”, escrevem os bispos.
Num comunicado enviado para a Fundação AIS, os prelados apelam à paz no país. “Já derramamos sangue que chegue”, afirmam, lembrando que existem formas não-violentas de protesto.
A Igreja mostra também algum cepticismo perante a promessa pelos militares de mais democracia. “O povo de Mianmar está cansado de promessas vazias ”, pode ler-se no comunicado. Os Bispos afirmam que uma forma de os militares ganharem a confiança do povo passará pela libertação dos presos políticos.
Na mensagem os prelados referem expressamente a ex-chefe do governo e Prémio Nobel da Paz, Aung Suu Kyi, que foi detida no seguimento da intervenção militar, dizendo que “sempre será a voz” do povo, e lançando também um alerta à comunidade internacional para os efeitos nefastos de eventuais sanções económicas ao país. Essas sanções, dizem, “poderão atirar milhões para a pobreza…”.
De acordo com o relatório da Fundação AIS sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, cerca de 8% dos 54 milhões de habitantes de Mianmar pertencem a denominações cristãs. Os católicos constituem apenas um a dois por cento da população. Os cristãos sofrem frequentemente discriminação às mãos de grupos budistas radicais, principalmente porque muitos cristãos pertencem a minorias étnicas, mais desfavorecidas.
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