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MIANMAR: Cardeal Charles Bo condena ataque do exército em Igreja e fala em “tragédia humanitária”
Soldados do exército de Mianmar atacaram na noite de domingo, 23 de Maio, a povoação de Kayanthayar, situada no sudeste do país, e atingiram pessoas que se tinham refugiado na igreja católica do Sagrado Coração.
Quatro mortos e oito feridos é o balanço, ainda provisório, do disparo de morteiros que atingiram o edifício da Igreja. Em reacção a este ataque, o Cardeal Charles Maung Bo, fala em “tragédia humanitária”, relatando que no seguimento da acção dos militares, muitos populares fugiram para a selva e correm o risco de “morrer à fome”.
Num comunicado enviado para a Fundação AIS, o prelado diz que ainda é desconhecida a situação destas pessoas em fuga, que incluem crianças e idosos. “O seu destino ainda não é conhecido. Há muitas crianças e idosos entre eles, forçados a morrer à fome e sem qualquer ajuda médica.”
O Cardeal comenta a intervenção dos militares como um abuso, tanto mais que os edifícios da Igreja assim como hospitais ou escolas estão protegidos pelo direito internacional.
Mianmar, também conhecido como Birmânia, vive uma situação altamente complexa após um golpe de estado dos militares no passado mês de Fevereiro, que teve como consequência o protesto dos populares e acções de repressão nas ruas.
Falando em nome da Conferência Episcopal, o Cardeal Charles Bo lembrou, na mensagem que fez chegar à Fundação AIS, que “o sangue derramado não é sangue de inimigos”, e que as pessoas que morreram, assim como os feridos “são cidadãos do país”.
A intervenção dos militares em Kayanthayar, perto da cidade de Loikaw, nas imediações da fronteira com a Tailândia, terá provocado a fuga a mais de vinte mil pessoas. “Isto tem de parar”, disse o Cardeal recordando a situação insustentável em que se encontra o povo de Mianmar, fustigado também pelas consequências da pandemia do coronavírus.
“O Covid-19 roubou-lhes o seu sustento, a fome persegue milhões”, afirmou o Cardeal Bo, lembrando que “a ameaça de um novo surto da pandemia é real”. Nestas circunstâncias, acrescentou, o conflito armado é “uma anomalia cruel”.
A situação em Mianmar mereceu já também uma posição oficial da Fundação AIS através do seu presidente executivo internacional. Para Thomas Heine-Geldern este país atravessa “um tempo de profunda escuridão”, lembrando que a Igreja tudo fará “para promover a paz e o desenvolvimento da nação, bem como para apoiar as pessoas na sua miséria, situação que se agravou pela pandemia”.
O papel da minoritária comunidade cristã é destacado pelo responsável da Ajuda à Igreja que sofre, lembrando ainda que os cristãos em Mianmar precisam, além da nossa ajuda prática, é a oração. Isto foi algo que o Cardeal Bo também sublinhou no seu apelo”, insistiu Heine-Geldern. “Rezemos ao Senhor para que os decisores políticos e militares em Mianmar venham ver a razão e o bom senso e que a paz possa em breve prevalecer novamente no país”, concluiu.
O responsável lembrou o esforço que tem vindo a ser realizado por parte da Fundação AIS no apoio directo à pequena comunidade cristã neste país, através do auxílio a sacerdotes, religiosas e catequistas. Uma ajuda que se tem revelado providencial nestes tempos duros agravados pela pandemia do coronavírus e que estão a atingir fortemente as famílias mais carenciadas.
PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt