O Padre José de Jesús, responsável pela paróquia de Nossa Senhora de Guadalupe, em Infiernillo, relata à Fundação AIS que bandos ligados ao crime organizado “mataram um responsável pela capela de uma das suas comunidades” e que essa foi uma das experiências mais difíceis por que passou enquanto sacerdote. O seu testemunho ajuda a compreender o ambiente de violência que transformou o México num dos países mais perigosos para a Igreja como o Relatório da Fundação AIS sobre a Liberdade Religiosa no Mundo comprova.
Jovem ainda, o Padre José de Jesús, responsável pela paróquia de Nossa Senhora da Guadalupe, em Infiernillo, relata à Fundação AIS algumas das dificuldades em realizar a sua missão numa região onde os acessos são difíceis e onde a violência do crime organizado está presente.
Numa mensagem vídeo partilhada pelo secretariado mexicano da Fundação AIS, o sacerdote relata o episódio em que “bandos opostos”, ligados ao “crime organizado, mataram um responsável pela capela de uma das comunidades”. O padre diz que essa foi “uma das experiências mais difíceis” que viveu até agora, embora assuma que “essas experiências forjam o sacerdote, pois ele é a pessoa que pode fazer o que os outros não conseguem”.
Este incidente revela como o crime organizado está presente em muitas regiões do México e tem sido uma ameaça à missão da Igreja neste país do continente americano.
Ataque armado a um bispo
Ainda recentemente, a Fundação AIS relatava a história de um Bispo, D. José de Jesús Gonzaléz, responsável pela Diocese de Chilpancingo-Chilapa, no estado de Guerrero, e que sofreu, ele próprio, um ataque armado. “Éramos três numa carrinha e fomos alvejados”, recorda. “Eles atiravam à cabeça, não aos pneus. Quando viram que éramos padres, pediram desculpa. Ofereceram-se para pagar os vidros partidos, mas o mais importante é que não nos mandaram para cantar no coro celestial”, recorda, com humor, durante a sua visita recente à sede internacional da Fundação AIS na Alemanha.
Um sentido de humor que não esconde, porém, a gravidade do episódio. De facto, Guerrero, que é considerado um dos estados mais violentos do México, o poder está como que sequestrado pelo crime organizado e os grupos armados administram a própria justiça, cobram o seu próprio dinheiro e transformaram já vastas áreas em territórios sem lei.
O México no Relatório da AIS
O relatório da Fundação AIS, lançado oficialmente a 21 de Outubro, dedica grande atenção ao México, embora o que se passa neste país tenha de ser visto ao nível regional, envolvendo outros países da América Latina e das Caraíbas.
“Em 2023 e 2024, pelo menos 13 líderes religiosos foram assassinados no México, Colômbia, Equador, El Salvador, Guatemala e Honduras”, pode ler-se no Relatório. “Outros 16 missionários e leigos foram assassinados em ambientes pastorais no Equador, Haiti, Honduras e México. A estes devem ser acrescentadas as mortes de outros nove leigos no México no início de 2025”, acrescenta o documento.
O Relatório da AIS sublinha que, embora sem provas que permitam afirmar que “todos estes crimes tenham sido motivados pelo ódio à fé”, no entanto, reflectem “a insegurança em torno do ministério em áreas voláteis e de elevado conflito”.
E acrescenta-se que, por causa disto, “os líderes religiosos ocupam um lugar significativo nas suas comunidades, e a sua influência torna-os alvos de ataques e intimidação. O mesmo se aplica àqueles que ousam criticar regimes autoritários. São vistos como uma ameaça e podem estar sujeitos a represálias”, conclui o Relatório. No México, por exemplo, registaram-se também casos de “extorsão a Igrejas e líderes religiosos” sob o pretexto de “pagamentos por alegada ‘protecção’ contra gangues rivais”.
Ser padre num vasto território
O assassinato do responsável de uma das capelas de uma das suas comunidades foi um incidente grave que marcou para já a vida do padre Jesús. Mas ele tem de lidar, ainda assim, com outros problemas.
A paróquia de Nossa Senhora de Guadalupe abarca 22 comunidades, algumas situadas a grande distância. Para lá chegar, o sacerdote demora às vezes mais de duas horas e meia num trajecto que o obriga a ultparassar rios e inúmeros obstáculos nas estradas. A situação é tal que, conta-nos, nunca se atreve a ir a essas comunidades sem levar, pelo menos, um machado para cortar árvores ou arbustos grandes que se possam atravessar no caminho. Tarefa difícil mas que o Padre José de Jesús assume como fazendo parte da sua missão. Afinal, explica à Fundação AIS, por ali as pessoas “têm uma grande necessidade de Deus”.
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt







