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LISBOA: Mais de 30 organizações da sociedade civil pedem ao governo português maior envolvimento na crise de Cabo Delgado
Segunda-feira · 25 Janeiro, 2021
Mais de trinta organizações da sociedade civil, entre as quais a Fundação AIS, pedem um maior envolvimento do Governo de Portugal na questão da crise humanitária que está a atingir a região norte de Moçambique. O apelo foi divulgado no artigo “Cabo Delgado: não nos conformamos com a violência”, publicado na sexta-feira, dia 22 de Janeiro, no ‘site’ do jornal Público.
No documento, pede-se ao executivo de Lisboa para aproveitar a Presidência portuguesa do Conselho da União Europeia para colocar definitivamente na agenda política a questão de Cabo Delgado, permitindo assim que seja dada uma resposta de emergência à crise humanitária que se vive na região.
No texto – que já foi enviado ao Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e que vai ser transmitido também ao Presidente da República, Presidente da Assembleia da República, Ministro da Defesa e deputados portugueses ao Parlamento Europeu – é manifestada preocupação pela situação dramática que as populações enfrentam em Cabo Delgado, palco de ataques por grupos terroristas desde Outubro de 2017. Desde então, calcula-se que mais de duas mil pessoas tenham sido mortas e haverá mais de meio milhão de deslocados internos.
O texto enfatiza que têm sido “destruídas aldeias inteiras, casas, escolas, hospitais, lugares de culto de diversas religiões”, nomeadamente da Igreja Católica. A situação é de emergência e é recordado que o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) proporciona assistência humanitária a menos de 10 por cento dos deslocados “e não é certo que possa fazê-lo por muito mais tempo”.
Nesta tomada conjunta de posição, as organizações signatárias do documento pedem ao governo de Lisboa para auxiliar as autoridades de Maputo “na identificação de necessidades e que, respeitando Moçambique como Estado soberano, se promova o envolvimento das organizações multilaterais, regionais e dos países vizinhos e da sociedade civil moçambicana”.
O objectivo desta iniciativa é contribuir para a “defesa intransigente da dignidade humana” que não pode ser “subjugada a qualquer tipo de interesses”, sendo pedido a cada uma das organizações que ajudem a divulgar a questão de Cabo Delgado para que este problema não caia no esquecimento. “O nosso compromisso é o de nunca nos conformarmos com a violência, com a injustiça e com o desrespeito pela dignidade humana.”
Além da Fundação AIS, esta tomada de posição é subscrita, entre outras instituições, pela Comissão Nacional de Justiça e Paz, Conferência Episcopal Portuguesa, Serviço Jesuíta aos Refugiados, Fundação Fé e Cooperação, Centro Missionário da Arquidiocese de Braga e a Caritas portuguesa.
A Fundação AIS tem procurado denunciar os ataques que têm vitimado as populações de Cabo Delgado, praticamente desde que eles tiveram início, em Outubro de 2017. Desde então, foram já publicados dezenas de artigos e notícias, procurando-se fazer um acompanhamento tão constante quanto possível da situação que se vive no terreno, dando-se voz aos que têm procurado auxiliar as populações, nomeadamente os elementos da Igreja Católica presentes no terreno.
Ao longo do ano passado registou-se um aumento alarmante de violência, com pessoas decapitadas, vilas e aldeias que caíram nas mãos dos jihadistas, incluindo ataques a missões católicas e muitas pessoas sequestradas.
Perante este cenário de horror, a Fundação AIS decidiu apoiar em Novembro as dioceses envolvidas no acolhimento aos deslocados com uma ajuda de emergência no valor de 160 mil euros. É uma ajuda que, como explicou Regina Lynch, chefe de Departamento de Projectos da Fundação AIS a nível internacional, “procura aliviar o sofrimento e trauma” destas populações que têm sido vítimas da violência mais brutal.
PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt