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IRAQUE: Papa lembrou, na missa em Bagdade, as vítimas de “perseguições pelo nome de Jesus”
Na missa em rito caldeu a que presidiu hoje na Catedral de São José, na capital iraquiana, alvo de um ataque terrorista em Outubro de 2010, que causou 48 mortos e mais de 80 feridos, o Papa Francisco evocou os que sofrerem maus tratos e perseguições por causa de Jesus. “O amor é a nossa força, a força de tantos irmãos e irmãs que também aqui foram vítimas de preconceitos e ofensas, sofreram maus tratos e perseguições pelo nome de Jesus”.
“Na cruz”, disse ainda o Santo Padre, Jesus “provou ser mais forte do que o pecado; no sepulcro, derrotou a morte. Foi este mesmo amor que tornou os mártires vitoriosos na provação… E houve tantos no último século, mais do que nos anteriores”, referiu o Papa durante a homilia. O Santo Padre pediu aos cristãos para imitarem a “paciência de Deus”, porque “o amor não se indigna, mas recomeça sempre”.
Este segundo dia da visita de Francisco ao Iraque começou com uma visita à antiga cidade de Ur, terra natal de Abraão, onde decorreu uma celebração inter-religiosa. Aí, o Papa rezou por todas as vítimas do terrorismo denunciando os extremistas como “traidores” da religião.
“Hostilidade, extremismo e violência não nascem dum ânimo religioso: são traições da religião. E nós, crentes, não podemos ficar calados, quando o terrorismo abusa da religião. Antes, cabe a nós dissipar com clareza os mal-entendidos. Não permitamos que a luz do Céu seja ocultada pelas nuvens do ódio!”
O dia de sábado ficou, no entanto, marcado pelo encontro em Najaf, com o líder da comunidade xiita, o aiatola Al-Sistani. Segundo Matteo Bruni, director da Sala de Imprensa da Santa Sé, “durante a visita de cortesia, que durou cerca de quarenta e cinco minutos, o Santo Padre sublinhou a importância da colaboração e da amizade entre as comunidades religiosas para que, cultivando o respeito mútuo e o diálogo, se possa contribuir para o bem do Iraque, da região, de toda a humanidade”.
“O encontro – disse ainda o responsável da Sala de Imprensa – foi uma ocasião para o Papa agradecer ao Grande aiatola Al-Sistani porque, junto com a comunidade xiita, diante da violência e das grandes dificuldades dos últimos anos, levantou sua voz em defesa dos mais fracos e perseguidos, afirmando a sacralidade da vida humana e a importância da unidade do povo iraquiano”.
Por sua vez, o gabinete do líder xiita emitiu um comunicado referindo que Al-Sistani expressou a esperança de que os “cristãos vivam como todos os iraquianos, em segurança e na paz, e com pleno respeito por seus direitos constitucionais”, e sublinhou “parte do papel que a autoridade religiosa desempenhou em protegê-los e a todos os que foram ofendidos e feridos nos incidentes dos últimos anos, especialmente durante o período em que os terroristas se apossaram de grandes áreas em várias províncias iraquianas e ali cometeram actos criminosos”.
Este encontro é já considerado histórico e reveste-se de um importante simbolismo. Para o padre Ameer Jaje, director da Secção Árabe da Universidade Dominicana Internacional de Paris, tanto o Papa Francisco como Al-Sistani “têm um papel importante na paz e estabilidade”.
Em declarações à Fundação AIS, este sacerdote natural de Qaraqosh, no Iraque, e um dos responsáveis pela organização da viagem do Santo Padre a Ur, recorda o papel do líder xiita na contenção da violência no Iraque. “Entre 2006 e 2008, Al-Sistani foi uma força importante para a paz durante a guerra civil do país. Até emitiu uma a fatwa a pedir o fim do ciclo da violência.”
E apesar dos bombardeamentos que atingiram importantes locais de culto, “Al-Sistani proibiu o derramamento de qualquer sangue Iraquiano em resposta: cristão, xiita ou sunita”. “Se tivesse sido qualquer outro líder, a situação poderia ter sido muito pior”, esclareceu este sacerdote à Fundação AIS.
Para a minoria cristã do Iraque, este encontro entre Al-Sistani e o Papa Francisco representa uma esperança de que o país, dominado por milícias Xiitas, abrace o pluralismo e a diversidade.
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