ÍNDIA: “O coração sangra”, diz carmelita portuguesa face à prisão há mais de 180 dias do Padre Stan, que conheceu em Gujarat

ÍNDIA: “O coração sangra”, diz carmelita portuguesa face à prisão há mais de 180 dias do Padre Stan, que conheceu em Gujarat

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ÍNDIA: “O coração sangra”, diz carmelita portuguesa face à prisão há mais de 180 dias do Padre Stan, que conheceu em Gujarat

Quinta-feira · 8 Abril, 2021

Maria Conceição Baptista Correia, 63 anos, missionária carmelita secular, diz que o seu coração “dói e sangra”, sabendo as condições em que se encontra o Padre Stan Swamy, de 83 anos de idade, preso há mais de 180 dias.

A missionária portuguesa conheceu o sacerdote jesuíta em 2016, quando esteve em Dediapada, no estado de Gujarat, na Índia, uma região onde predomina a população tribal dos Adivasi. Detido a 8 de Outubro do ano passado sob a acusação de terrorismo, o Padre Stan, que sofre de Parkinson, viu as autoridades recusaram um pedido de libertação sob fiança para aguardar o julgamento fora da prisão.

De facto, apesar do seu estado de saúde delicado, o Tribunal Especial da Agência Nacional de Investigação rejeitou a 23 de Março os argumentos dos advogados de defesa que consideram inaceitáveis as acusações de terrorismo e as alegadas ligações a organizações maoistas. Entretanto, mais de 2500 pessoas fizeram chegar um novo apelo ao Tribunal de Mumbai solicitando a revisão do pedido de fiança.

Conceição Correia, uma antiga enfermeira e professora do ensino politécnico, tem acompanhado com angústia a situação em que se encontra o sacerdote jesuíta que dedicou grande parte da sua vida à defesa e promoção dos direitos dos povos tribais na Índia.

ÍNDIA: “O coração sangra”, diz carmelita portuguesa face à prisão há mais de 180 dias do Padre Stan, que conheceu em Gujarat
A missionária portuguesa conheceu o sacerdote jesuíta em 2016.

Foi esse trabalho que a levou até Dediapada, onde o Padre Stan desenvolvia a sua missão. Foi um encontro quase fugaz que deixou, no entanto, marcas para o resto dos seus dias. “Há pessoas que cruzam o nosso percurso de vida e ainda que seja um breve encontro, deixam em nós a marca da sua presença. Aconteceu-me assim com o Padre Stan Swamy”, explica esta antiga docente à Fundação AIS.

Apesar de já terem passado cerca de cinco anos, a missionária carmelita secular recorda-se bem do trabalho que o jesuíta realizava naquela região da Índia. “Estive com ele em Dediapada onde, com total dedicação, desenvolveu durante largas dezenas de anos todo um enorme conjunto de projectos e actividades que implementou com outros padres jesuítas e com a colaboração e envolvimento de Irmãs Carmelitas, com vista à dignificação da população tribal de Adivasis e ao seu desenvolvimento.”

Conceição teve oportunidade de participar numa celebração e de observar como a comunidade tribal acolhia o padre Stan como o “seu grande e maior amigo”, entoando “cânticos e danças de gratidão e de reconhecimento”. Neste breve depoimento escrito enviado para a Fundação AIS, a missionária lembra a figura do sacerdote jesuíta, a sua “presença frágil” mas que não deixava ninguém indiferente, dizendo que do Padre Stan Swamy emanava uma “enorme paz e tranquilidade”. “Recebi a sua bênção e ele ficou no meu coração… “ Um coração que agora, acrescenta Conceição Correia, “dói e sangra conhecendo as condições a que o sujeitam”.

A revolta que esta missionária carmelita secular sente pela situação em que se encontra o Padre Stan é partilhada por inúmeras pessoas em todo o mundo mas muito particularmente pelos seus confrades jesuítas. O responsável por esta comunidade religiosa na Índia, Jerome Stanislaus D’Sousa, manifestou entretanto a esperança de que será feita justiça neste caso. “Estamos tristes – diz, citado pela Agência Fides – mas continuamos a esperar e rezar para que a justiça prevaleça e para que o Padre Stan possa ser libertado logo após um julgamento justo.”

Desde que o Padre Stan foi detido pelas autoridades indianas que se desencadeou um enorme protesto reunindo personalidades e organizações de defesa dos direitos humanos a exigirem a sua libertação imediata. Foi o caso da Fundação AIS. No início de Dezembro do ano passado, Thomas Heine-Geldern, presidente executivo internacional da Ajuda à Igreja que Sofre fez um apelo às autoridades indianas para a libertação do sacerdote jesuíta, sublinhando o seu trabalho exemplar ao longo “dos últimos 40 anos” com as tribos indígenas, os Adivasi.

O responsável da Fundação AIS lembrou, num comunicado emitido desde a sede internacional da instituição, em Königstein, na Alemanha, que o “único crime” do padre Stan havia sido o de “exigir justiça e denunciar os abusos” que estas populações tribais “sofreram na sua região”. Heine-Geldern afirmou ainda que o caso deste sacerdote “é apenas a ponta do icebergue”, pois haverá “outros casos de padres e catequistas” que foram também “injustamente acusados com o objectivo de espalhar o medo e de intimidar” os que têm trabalhado com as populações tribais.

A tomada de posição do líder da Fundação AIS seria aplaudida pelos Jesuítas no nosso país. “A Companhia de Jesus em Portugal não poderia deixar de se congratular pela posição assumida pelo presidente executivo internacional da Ajuda à Igreja que Sofre em defesa do Padre Stan”, disse o Padre José Maria Brito, do gabinete de Comunicação da Companhia de Jesus, lembrando a injustiça da prisão de alguém que passou quatro décadas a “defender povos indígenas que, estando fora do sistema de castas indiano, estão expostos de um modo especial à vulnerabilidade.”

PA| Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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