HAITI: Papa apela à libertação das seis religiosas raptadas na passada sexta-feira e pede fim da violência no país

No domingo, após a oração do Ângelus, o Santo Padre pediu a libertação de todas as seis irmãs da Congregação das Religiosas de Santa Ana que foram raptadas na passada sexta-feira, 19 de Janeiro, na capital do Haiti, e o fim da violência. A Fundação AIS une-se ao Papa nesse pedido e recorda que este é um dos 10 países do mundo que neste ano de 2024 mais precisam das orações de todos para a paz.

Seis irmãs, da Congregação das Religiosas de Santa Ana, foram raptadas na sexta-feira, 19 de Janeiro, em pleno dia, em Port-au-Prince, a capital do Haiti, quando se deslocavam num pequeno autocarro para a universidade local. O veículo foi atacado por homens armados e todos os ocupantes foram sequestrados, incluindo o motorista. Desconhece-se, até ao momento, onde se encontram.

Este episódio de violência, mais um numa longa lista de situações dramáticas que nos últimos anos têm ocorrido com uma frequência assustadora no Haiti, foi lembrado neste domingo pelo Papa Francisco logo após a oração do Ângelus. O Santo Padre falou do rapto das irmãs e implorou, “de coração”, que sejam libertadas, pedindo também o fim da violência no país.

Recebi com mágoa a notícia do sequestro no Haiti, de um grupo de pessoas, incluindo seis Religiosas. Ao implorar de coração para que sejam libertadas, rezo pela harmonia social no país e peço a todos que ponham fim à violência, que causa tanto sofrimento a essa querida população.”

Logo após o rapto, num comunicado enviado para a Fundação AIS Internacional, a Conferência dos Religiosos do Haiti (CRH) falava, “com emoção”, da notícia do sequestro das irmãs, pedindo a todos os cristãos para fazerem “uma cadeia de oração” suplicando a Deus a libertação dos reféns.

Este episódio de violência foi também prontamente condenado pelo Bispo de Anse-à-Veau e Miragoâne. Citado pelo Vatican News, D. Pierre-André Dumas fala num “acto odioso e bárbaro”, que nem sequer respeita “a dignidade dessas mulheres consagradas que se entregam de todo o coração a Deus para educar e formar os jovens, os mais pobres e os mais vulneráveis em nossa sociedade”.

O bispo pediu também que todos os reféns fossem libertados e que se pusesse fim a “essas práticas abjectas e criminosas”, apelando à solidariedade da sociedade haitiana para que se conseguisse o rápido regresso a casa de todos os reféns. O prelado afirmou ainda que estaria até disposto a “ser tomado como refém no lugar” das irmãs.

O HAITI NO RELATÓRIO DA FUNDAÇÃO AIS

O Haiti é um dos países assinalados a vermelho no mais recente Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, publicado em Junho do ano passado pela Fundação AIS e que aborda o período correspondente aos anos de 2021 e 2022. Nesse documento pode ler-se que o país “entrou numa espiral de caos político, económico e social”, e que “as estruturas estatais como o Parlamento, o poder judicial e a administração pública entraram em colapso”.

Tudo isto se agravou com o assassinado, em Julho de 2021, do presidente Jovenal Moïse. “Desde então” – assinala o Relatório da AIS – “o país tem sido dirigido pelo presidente Ariel Henry, sem data ainda marcada para novas eleições”.

Num país já assolado pela pobreza e por catástrofes naturais, o vazio de poder e a falta de liderança efectiva mergulharam o pequeno Estado das Caraíbas no caos, com fome, doenças, violência de gangues, crimes relacionados com a droga, esquadrões da morte e raptos.”

A violência é de tal ordem que, segundo responsáveis das Nações Unidas, como Ulrika Richardson, Representante Especial Adjunta para o Gabinete Integrado da ONU no Haiti, “quase 60% da capital do Haiti é dominada por gangues”. A violência resultou em “quase 20 mil pessoas na capital confrontadas com condições de fome catastróficas”, agravadas por um surto com “mais de 14.000 casos suspeitos de cólera em oito das 10 regiões do país”. Na altura da publicação do Relatório da Fundação AIS, quase 155 mil pessoas tinham fugido de suas casas, especialmente na capital.

UM LONGO CALVÁRIO EM 2021…

O rapto agora destas seis religiosas vem recordar o longo calvário que a Igreja tem vindo a passar neste país. O Relatório da Fundação AIS assinala alguns outros casos de violência ocorridos no Haiti e que são sinal inquietante de violações à liberdade religiosa.

A 11 de Abril de 2021, Domingo de Misericórdia, cinco sacerdotes, três religiosas e três leigos foram raptados, tendo a Conferência Episcopal do Haiti denunciado, dois dias depois, que o país estava a viver “uma ditadura de raptos”.  Logo depois, a 15 de Abril, a Igreja Católica organizava centenas de Missas em todo o país chamadas “Missa pela Liberdade do Haiti” para protestar contra a crise política e os raptos de sacerdotes. O gangue 400 Mawozo tinha raptado, nessa altura, outros 10 sacerdotes católicos.

Em Setembro, uma igreja protestante em Port-au-Prince foi atacada durante um serviço religioso. O diácono Sylner Lafaille morreu e a sua mulher foi raptada. Nesse mesmo mês, um sacerdote católico, o Pe. André Sylvestre, pároco da Paróquia de Notre-Dame de la Miséricorde em Robillard Cap-Haïtien, foi morto, aparentemente numa tentativa de assalto.

Em Outubro, enquanto visitavam um orfanato, 17 missionários cristãos estrangeiros foram raptados juntamente com as suas famílias, incluindo cinco crianças.  Dois reféns foram libertados em Novembro e os restantes em Dezembro de 2021. Em Novembro, o Pastor Stanis Stifinson e a sua família foram alvejados enquanto viajavam no seu veículo. O filho mais novo foi morto, enquanto o clérigo e outro filho foram feridos.

…E QUE CONTINUOU EM 2022

Toda esta violência prosseguiu em 2022. Segundo o relatório da Fundação AIS, a 28 de Abril, bandidos armados raptaram várias pessoas, incluindo o Pe. Whatner Aupont, um sacerdote da Igreja de São José Operário nos arredores da capital Port-au-Prince.

Em Junho, o Pe. Clercius Dorvilus, pároco de Saint Michel Archange de la Plate Nevrac, Bassin-Bleu, e três leigos foram raptados do complexo paroquial. Também a Ir. Luisa del Orto, uma religiosa missionária italiana que viveu no Haiti durante 20 anos, foi morta, vítima de um tiroteio durante um assalto. Duas semanas mais tarde, a catedral católica na capital Port-au-Prince foi atacada.

A Ir. Marcela Catozza, uma missionária italiana no Haiti, declarou: “Eles atearam fogo à catedral e tentaram matar os bombeiros que chegaram para apagar as chamas. Depois, tentaram destruir as paredes da catedral com um camião”. Segundo a Ir. Marcela, os ataques a edifícios e organizações religiosas não se limitaram à capital, afirmando: “Em Port-de-Paix e Les Cayes, e noutras cidades, atacaram edifícios da Cáritas, levando tudo, incluindo toda a ajuda humanitária, e destruindo os escritórios do pessoal”.

Em Setembro, a violência afectou um orfanato missionário franciscano num dos bairros de lata.

Eles atearam fogo à nossa capela. Tudo foi queimado. O altar, os bancos... Não sobrou nada. O Santíssimo Sacramento foi salvo porque o levo sempre para um lugar seguro quando saio.”

Numa entrevista a 16 de Abril de 2021, mas plena de actualidade, como se está a ver agora com o rapto das seis religiosas na passada sexta-feira, o Bispo de Hinche, Jean Desinord, assinalava o medo sempre presente entre os padres e religiosos católicos. O mede de poderem ser raptados.

“Estamos a pensar quem será o próximo? Serei eu ou um padre irmão? Os padres e os religiosos estão verdadeiramente em perigo de psicose. Vivemos num medo constante”, disse o prelado, citado também no Relatório da Fundação AIS sobre a Liberdade Religiosa no Mundo.

Esta violência tem continuado. No ano passado foram raptados mais dois sacerdotes, que acabariam por ser libertados. Todos estes episódios, que retratam a extrema violência em que se encontra o Haiti, levaram no início do ano a Fundação AIS a pedir a todos os seus benfeitores e amigos em todo o mundo para incluírem este país nas suas orações. Nesse apelo, lembra-se que os Haitianos têm enfrentado “níveis crescentes de caos, com bandos criminosos a controlar regiões importantes do país”, e que “a delinquência e a pobreza continuam desenfreadas, com um aumento alarmante de assassinatos, raptos e violência sexual, deixando a população extremamente vulnerável”.

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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O Haiti está à deriva em direcção a tornar-se um Estado falhado. A crise política e económica alimentou um aumento da violência dos gangues territoriais, provocando uma crise social e humanitária catastrófica. Os raptos para exigir resgate, incluindo do clero, e os assassínios relacionados com gangues aumentaram exponencialmente. A insegurança generalizada do país tem afectado todos os direitos fundamentais, incluindo a liberdade religiosa.

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