MOÇAMBIQUE: “A situação é muito complicada”, diz religiosa após novos ataques em que igrejas foram queimadas

Terroristas, que afirmam pertencer ao Daesh, os jihadistas do grupo Estado Islâmico, atacaram no final da semana passada várias aldeias em Cabo Delgado, tendo queimado várias igrejas assim como as habitações. Os ataques estão a criar muito medo nas populações, que estão em fuga ou escondidas no mato, e já levou também à saída dos missionários e religiosas que estavam na região. Uma irmã confessa à Fundação AIS que “a situação é muito, mas muito complicada”, e que os terroristas “estão espalhados” pela província…

O terror está de volta a Cabo Delgado. Nos últimos dias houve uma sucessão de ataques violentos em diversas aldeias, com igrejas e casas queimadas, pessoas raptadas e mortas num ambiente de insegurança que já levou inclusivamente à saída, por prudência, de alguns missionários e religiosas que estavam na zona onde ocorreram os incidentes mais recentes. Desta vez foram ataques quase em simultâneo em várias aldeias. Só na sexta-feira, dia 9 de Fevereiro, os terroristas que reivindicam pertencer ao Daesh, o grupo jihadista Estado Islâmico, atacaram três povoações em Mazeze, no distrito de Chiúre, provocando o pânico nas populações que estão em fuga, procurando segurança na cidade de Pemba, ou escondendo-se nas matas. “As igrejas foram queimadas assim como as casas da população”, descreve à Fundação AIS um missionário que, por questões de segurança, não pode ser identificado. São vários os relatos recolhidos pela Ajuda à Igreja que Sofre nas últimas horas e que atestam um ambiente de medo e insegurança que já não se verificava há algum tempo em Cabo Delgado. Uma religiosa, presente na Diocese de Pemba há vários anos, diz que, em toda a província, “a situação é muito, mas muito complicada”, e que “eles”, os terroristas, “estão espalhados pelos distritos sul e centro”. No entanto, a religiosa diz que se desconhece “qual seja o objectivo” destas movimentações e ataques. Tal como esta irmã, também um missionário, que conhece bem a realidade de Cabo Delgado, mostra a sua preocupação face à evolução desta situação de insegurança motivada pelas incursões de grupos armados em Cabo Delgado. “Até ao momento, soube que entraram na aldeia de Nacoja B, que fica no distrito de Chiure e pertence ao Posto Administrativo de Mazeze, nas margens do Rio Lúrio. Entraram na aldeia e queimaram casas e a igreja, assim como na aldeia de Nacussa e também em Ciripa. Ontem, [sábado, dia 10], pela noite veio a notícia de que estavam a caminho da sede do posto de Mazeze. Até ao momento não tenho outra informação.” 

As igrejas foram queimadas assim como as casas da população.”

O terror está de volta a Cabo Delgado.

“ATACAM IGREJAS, MESQUITAS, TUDO…”

Como primeiro impacto, os ataques provocaram uma debandada das populações que se sentem desprotegidas mesmo que, nas imediações haja a presença de soldados das forças moçambicanas ou dos países que estão a colaborar com as autoridades de Maputo na luta contra a insurgência em Cabo Delgado. “O povo já se deslocou para aldeias vizinhas e para a sede da Vila de Chiure superlotando estes lugares”, diz ainda este missionário, numa mensagem escrita enviada para a Fundação AIS em Lisboa. “São pessoas que caminham grandes quilómetros e outras que estão escondidas pelas matas nos arredores das aldeias”, acrescenta o religioso, concluindo que “as igrejas foram queimadas assim como as casas da população”. Muito semelhante é outro relato recebido também nas últimas horas pela Fundação AIS em Lisboa, face às notícias alarmantes da presença dos terroristas. “Sim, os ataques estão a acontecer”, diz um sacerdote que também não será identificado por razões de segurança. “A aldeia que foi atacada, na zona de Chiúre, já tinha sido atacada há um ano e meio, dois anos. Mas a questão religiosa não é só contra os católicos”, explica. “Eles passaram por outros lugares e não atacaram só as aldeias que têm igrejas cristãs.  Neste lugar é que eles fizeram isso, mas, como de costume, têm atacado absolutamente tudo. Têm atacado igrejas, têm atacado mesquitas e têm atacado as casas do povo, que é o principal ataque…”. Desta vez, além da fuga das populações, alarmada pela violência dos grupos terroristas, houve também a saída dos elementos da Igreja Católica que se encontravam na região. “Sim, há novos deslocados, há missionários também já deslocados, o padre que estava nessa comunidade está [agora] na sede da Diocese, [em Pemba], as irmãs que moravam ali perto também estão na sede da diocese e outros missionários estão a fazer também esse percurso no sentido de se protegerem e de protegeram também a população”, acrescentou ainda o sacerdote na mensagem de voz enviada para a Fundação AIS.

MOÇAMBIQUE PAÍS PRIORITÁRIO PARA A AIS

Esta situação, que se está a verificar nos últimos dias, vem no seguimento de outros incidentes graves ocorridos também recentemente e que também foram já denunciados pela Ajuda à Igreja que Sofre. No início de Fevereiro, ou seja há menos de duas semanas, a Fundação AIS recebeu, em Lisboa, uma mensagem de missionários presentes nesta região a darem conta das movimentações dos grupos terroristas e do pânico que isso estava a gerar em diversas localidades. Um dos episódios mais graves ocorreu na tarde de 31 de janeiro quando os insurgentes atacaram a aldeia de Naminaute, situada perto de Mieze, onde fica a paróquia de Nossa Senhora do Carmo, que é apoiada pelos Missionários Saletinos. No referido ataque, segundo a comunicação social local, as forças moçambicanas foram alvo de uma emboscada e dois militares terão sido mortos. Mas há muitos mais relatos de violência. Basta recuar algumas semanas para se perceber que há uma amplitude invulgar nas movimentações dos terroristas e que inclui já vários distritos na Província de Cabo Delgado. Todas estas notícias, que vão circulando entre a população de forma mais formal ou informal, estão a causar o medo e a levar à fuga novamente de centenas de pessoas, apesar de haver um aparato militar maior na área. Moçambique é um país prioritário para a Fundação AIS no continente africano. A solidariedade dos benfeitores da Ajuda à Igreja que Sofre tem permitido levar a este país, especialmente à região de Cabo Delgado, diversos projectos de assistência pastoral e de apoio psicossocial às populações vítimas do terrorismo, mas também fornecimento de materiais para a construção de dezenas de casas, centros comunitários e ainda a aquisição de veículos para os missionários que trabalham junto dos centros de reassentamento que abrigam as famílias fugidas da violência.

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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